quarta-feira, 2 de abril de 2014

MAS QUE PAÍS É ESSE?

[versão atualizada]

  

Dá medo. Que país é esse?

No aniversário dos 50 anos do golpe militar de 1964, um jurista renomado se apega a um formalismo, neste caso ridículo, e diz assim: "Ditadura, nunca houve. A rigor, o que se poderia dizer é que havia um regime de plenos poderes, não era uma ditadura" [o nome dele, Célio Borja]. Um coronel reformado -- cínico e psicopata -- diz assim: "Tantas quantas foram necessárias", sobre pessoas que matou na ditadura. "Difícil dizer, mas foram muitas", sobre pessoas que torturou. "Para não deixar rastros", sobre o sumiço de presos políticos, que tiveram corpos mutilados, falanges cortadas, dentes quebrados [o nome dele, Paulo Malhães, sem remorso]. Um economista famoso diz assim: "Faria de novo, se as condições fossem as mesmas". Ele foi um dos que assinou o Ato Institucional nº 5, em 1968, que acabou com o pouco que restava das liberdades políticas, extinguiu direitos civis e deu poder de exceção a governantes. Ele repetiu agora o que já havia me dito em 1998 (nessa época, eu trabalhava no jornal "O Globo"), no aniversário de 30 anos do AI-5 [o nome dele, Delfim Netto, hoje um dos conselheiros de Dilma Rousseff, presidente, que foi torturada na ditadura militar]. O regime de "plenos poderes" durou 21 anos: de 1964 a 1985.

Dá medo. Que país é esse?

Encoxar mulheres no metrô, nos ônibus e nos trens é defendido por grupos na internet, via Facebook. Por coincidência, também recentemente, uma propaganda infeliz do metrô paulistano sugere que trem lotado é bom "pra xavecar a mulherada". Por fim, depois do inesquecível "estupra, mas não mata" [o nome dele, o autor, é Paulo Maluf, como sugestão aos ladrões], uma pesquisa divulgada na semana passada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) chega a apontar que 65% dos entrevistados pensam que uma mulher usando roupas provocantes "merece ser estuprada". Diante da suspeita de erro no levantamento (*), o instituto faz uma revisão e admite o equívoco (por "troca de gráficos"), corrigindo para 26%. De qualquer modo, o índice ainda é elevado: um em cada 4 brasileiros culpa a mulher (a vítima) por caso de estupro. Fica evidente que esse tipo de pensamento machista ainda sobrevive -- e, pior, há defensores para essa violência indefensável -- na sociedade brasileira em pleno século 21.

Dá medo...

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(*) "Esse tipo de pesquisa que afirma respostas e pede para confirmar tem um viés. Suscita mais o espelhamento do que o julgamento dos entrevistados, que tendem a concordar com o que diz o pesquisador. Os números estão provavelmente exagerados", afirmou, à Folha, Alba Zaluar, professora titular de antropologia da UERJ,

terça-feira, 25 de março de 2014

O SPAM DA MORTE




Um avião desaparece quando sobrevoa o mar na Ásia. Duas semanas depois, a empresa aérea resolve anunciar que não há sobreviventes. Destroços boiando teriam sido vistos em imagens de satélite e também por equipes de resgate. Mas já sumiram também. As famílias de 239 pessoas recebem uma ligação spam via celular, como se fosse uma mensagem qualquer, de alguém impertinente querendo vender alguma coisa que você não quer ou precise. Seguindo o padrão dos avisos gravados pelas companhias telefônicas, deve ter sido algo assim: "A Malaysia Airlines tem uma importante informação para você. Se quiser ouvi-la agora, disque 1, se não, disque 3 para sair". Não foi exatamente desse jeito, mas quase. O torpedo dizia: "A Malaysia Airlines lamenta profundamente ter que concluir, além de qualquer dúvida razoável, que o MH370 foi perdido e que ninguém a bordo sobreviveu". O avião ainda não foi localizado. Pano rápido.

          [março de 2015: e o avião permanece sumido]


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sábado, 25 de janeiro de 2014

SP 460, ALGUMA COISA MUDOU?


"São Paulo, 450 razões para amar". Isso mesmo, há 10 anos, com esse título, uma editora publicou um livro com opiniões de 450 pessoas, anônimas e famosas, sobre a maior metrópole brasileira. Com capa dura, além dos depoimentos, a homenagem era recheada de fotografias da paulicéia desvairada. No final, trazia uma lista com os endereços dos lugares citados pelos convidados. Cada entrevistado podia responder a três perguntas: Por que gosto de São Paulo? O que São Paulo tem que outras cidades não têm? Qual é o lugar ou o programa imperdível que você recomendaria a um visitante? Teve gente que respondeu "eu", para a segunda pergunta. Bom, mas isso não vem ao caso [claro, foi uma brincadeira do autor, mas também uma opinião reveladora da personalidade do entrevistado]. Optei pela primeira indagação. Reescrevo aqui [e assino embaixo], o que disse à época.

      "São Paulo é a cidade do imprevisto. Se você quer ir ao cinema das 8, pode acabar indo ao teatro das 9 ou virar um jantar das 10. A vida urbana caótica, cheia de filas, contribui para novas descobertas, que a cidade não pára de oferecer. Nisso, São Paulo é farta. Há quem tenha infarto por isso, mas acontece que morar em São Paulo, hoje mais do que nunca, exige bom humor, uma boa dose de complacência e, às vezes, resignação para aceitar os destinos que ela impõe. Gosto de São Paulo porque a mesma cidade que corta um desejo te dá outro. Gosto de São Paulo também porque a cidade 'liquidifica' tudo e todas as modas e modinhas".

George Alonso, jornalista, editor do caderno São Paulo do jornal "Diário de S.Paulo"

     São Paulo, 460 anos. Mudou alguma coisa? Muita coisa abriu, muita coisa fechou. Alguma coisa melhorou, muitas coisas pioraram. O certo é que já há 11 milhões de habitantes e 7 milhões de veículos.

PS - O livro "São Paulo, 450 razões para amar" foi publicado pela Editora M.Books


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