UMA LEITURA SEMANAL DOS JORNAIS -- N11 - 17.12.2015
POR GEORGE ALONSO
SENTIR-SE INTEIRO: O PÊNIS EM QUESTÃO
Deu no "NYT". Os EUA estão oferecendo transplante de pênis para mutilados de guerra. O receptor só recebe o pênis, porque o pênis é transplantado sem os testículos. Há várias exigências para se candidatar à cirurgia, que dura 12 horas. Mas a frase de um mutilado de guerra explica tudo: "Quero me sentir inteiro outra vez". A palavra "inteiro", inevitavelmente, remete ao vocabulário dos haras: o cavalo é "inteiro ou castrado"? Há coisas muito sutis que esse transplante talvez seja capaz de devolver.
O primeiro transplante de pênis dos EUA será feito em um soldado ferido na guerra dentro de um ano ou menos, segundo o Hospital da Universidade Johns Hopkins. O soldado é jovem e foi ferido no Afeganistão. O novo pênis será de um doador morto. Em entrevista ao “The New York Times”, os cirurgiões esperam restabelecer a função urinária, restaurar as sensações e a capacidade de manter relações sexuais do paciente alguns meses após a operação. Andrew Lee, chefe do serviço de cirurgias reconstrutoras do Johns Hopkins, alertou que os pacientes devem evitar ter esperanças "irreais" de que possam recuperar inteiramente as funções do membro, mas estimou "realista" que possam esperar procriar. Como o jovem não teve os testículos afetados, se tudo dor bem, poderá ter filhos. Entre 2001 e 2013, 1.367 militares enviados ao Iraque e ao Afeganistão foram feridos nos genitais, informou o Pentágono ao jornal. Quase todos tinham menos de 35 anos e foram feridos em explosões de bombas artesanais. A faculdade de medicina da Johns Hopkins autorizou mais 59 transplantes experimentais deste tipo. Depois, os resultados serão avaliados para decidir se a operação poderá se configurar como procedimento habitual.
O
MÉDICO E O PACIENTE: POR QUE LEVY CAIU?
O
sociólogo André Singer comenta a saída de Joaquim Levy (foto), no artigo "Antes
tarde", sobre o primeiro ano do segundo mandato de Dilma, e as chances de
dar certo com Nelson Barbosa na Fazenda, publicado na "Folha".
Após um
ano trágico, a presidente Dilma Rousseff corrige o dramático erro que cometeu
ao optar por Joaquim Levy e coloca no Ministério da Fazenda aquele que deveria
ter sido o escolhido desde o início. Diante das opções moderadas que a
correlação de forças provavelmente impunha naquele distante novembro de 2014, o
economista Nelson Barbosa era a melhor escolha. Vamos ver o que conseguirá fazer
agora que o país rola no despenhadeiro do austericídio.
As
condições em que Barbosa assume são das mais difíceis. No entanto, chega ao
comando da economia quando novo pacto de classe aponta no horizonte. Depois do
fracasso do ensaio desenvolvimentista apoiado na coalizão entre trabalho e
capital formalizada em maio de 2011, houve reagrupamento da burguesia em torno
do ajuste recessivo. De 2013 em diante, a frente produtivista se desfez.
Foi
necessário que, em 2015, uma das mais graves retrações em décadas ameaçasse não
só as conquistas recentes dos empregados, mas igualmente a sobrevivência dos
capitalistas, para que a unidade do setor produtivo começasse a se
restabelecer. Na terça passada, representantes da CUT, da Força Sindical e de
outras quatro centrais, junto a relevantes associações de empresários, entre
elas a Confederação Nacional da Indústria (CNI), entregaram a Dilma documento
sob o título "Compromisso pelo desenvolvimento".
De acordo
com Clemente Ganz Lúcio, diretor do Dieese (Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos), a proposta, destinada a propiciar
transição rápida para o crescimento, sugere a retomada do investimento público
e privado em infraestrutura, em particular nos setores de petróleo e gás; o
destravamento da área da construção; o incentivo à exportação industrial; a
ampliação do capital de giro para as empresas e o fortalecimento do mercado
interno.
A adesão
do capital a essa agenda não é completa, como o demonstra a significativa
ausência da Fiesp entre os signatários. Dada a fragilidade política do governo,
a tarefa número um do novo ministro seria a de negociar o apoio dos até aqui
recalcitrantes. Contudo, há sinais de que mesmo o setor financeiro estava
insatisfeito com a política seguida por Levy, o que poderia facilitar em algo a
tarefa de unificar a sociedade em torno de um horizonte construtivo.
Dada a
profundidade do buraco econômico em que caímos e a gravidade da crise política,
a missão do novo ministro é quase impossível. Mas depois de ter tomado caminho
por completo equivocado, o lulismo volta aos próprios trilhos. Pode ser tarde
demais para salvar paciente que respira por aparelhos, mas ao menos o médico
intensivista quer fazê-lo. O anterior exalava evidente antipatia pelo doente.
A FRASE
"A multidão que passa barulhenta e circula por aqui está atrás de um Duce de ocasião, um líder que se apresente 'acima dos partidos' e cultive incontido ódio por todos os tons de vermelho, como o próprio Mussolini"
[Trecho do livro "Golpe de Estado", de Palmério Dória e Mylton Severiano, recém-lançado. Qualquer semelhança é mera coincidência]
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