sábado, 12 de dezembro de 2015

O RESUMO DA ÓPERA - SEMPRE ÀS QUINTAS

 UMA LEITURA SEMANAL DOS JORNAIS - N10 - 10.12.2015

GEORGE ALONSO

 José Serra: tucano aliado da ambição de Michel Temer visita governadores, contra Dilma 
Temer quer a faixa



















O impedimento de Dilma e o embaixador do golpe

O desembarque do vice de Dilma, Michel Temer (PMDB), um ano depois de eleito é mais uma demonstração de que o presidencialismo de coalizão está esgotado, além da barganha descarada e corrupta no Congresso. Ninguém consegue governar sem apoio do baixo [baixíssimo] clero dos parlamentares. Com a carta chororô e o discurso  de "precisamos unir o Brasil", Temer, o traidor, tenta convencer governadores que são contra impedir a presidente, para que apóiem a derrubada da petista por meio do artifício legal [questionádo] das "pedaladas fiscais".  Se a presidente for impedida, pergunta-se, qual governador ou prefeito será também afastado??? Não se trata de apoiar "mutretas fiscais", mas o resultado eleitoral jamais aceito pela oposição é a razão de tentar tirar do Planalto uma presidente de mãos limpas (até agora pelo menos). Trata-se de uma ameaça a democracia. Até o "NYT" percebeu a "jogada" e a denunciou em editorial. O senador José Serra (PSDB) tem desempenhado um papel que é bem de seu feitio: tenta convencer governadores a abandonar o apoio a Dilma. Serra é o embaixador de Temer, é o embaixador do golpe branco. E já tem vaga garantida num eventual governo Temer.


Frase da semana

"Você é um homem deselegante, descortês, arrogante e prepotente. Por isso nunca chegará à Presidência da República"
Kátia Abreu, ministra da Agricultura, recém-casada, ao jogar uma taça de vinho branco no rosto do senador José Serra (PSDB) que a chamou de "namoradeira" numa festa de final de ano em Brasília

Elite corrupta na cadeia

Marcelo Odebrecht deixa a presidência da holding da família. Justiça mantém presos executivos da Andrade Gutierrez. Preso, banqueiro é afastado da direção de banco. Vice-presidente da Anfavea também preso é afastado da entidade. Quem diria que veria tanta gente graúda na cadeia? E tem muito mais por aí, alguém duvida?


Estado oligárquico de direito

Esse é o título do artigo que o filósofo Vladimir Safatle publicou na "Folha" e que reproduzo aqui, pela clareza de sua visão do momento político brasileiro 

Neste momento, a população brasileira vê, atônita, a preparação de um golpe de estado tosco, primário e farsesco. Alguém poderia contar a história da seguinte forma: em uma república da América Latina, o vice-presidente, uma figura acostumada às sombras dos bastidores, conspira abertamente para tomar o cargo da presidente a fim de montar um novo governo com próceres da oposição que há mais de uma década não conseguem ganhar uma eleição. Como tais luminares oposicionistas da administração pública se veem como dotados de um direito divino e eterno de governar as terras da nossa república, para eles, "ganhar eleições" é um expediente desnecessário e supérfluo.

O vice tem como seu maior aliado o presidente da Câmara: um chantagista barato acostumado, quando pego em suas mentiras e casos de corrupção, a contar histórias grotescas de fortunas feitas com vendas de carne para a África e contas na Suíça com dinheiro depositado sem que se saiba a origem. Ele comanda uma Câmara que funciona como sala de reunião de oligarcas eleitos em eleições eivadas de dinheiro de grandes empresas e tem ainda o beneplácito de setores importantes da imprensa que costumam contar a história do comunismo a espreita e do bolivarianismo rompante para distrair parte da população e alimentá-la com uma cota semanal de paranoia. O nome de sua empresa diz tudo a respeito do personagem: "Jesus.com".

O golpe ganha um ritmo irreversível enquanto a presidenta afunda em suas manobras palacianas estéreis e nos incontáveis casos de corrupção de seu governo. Ela havia dado os anéis para conservar os dedos; depois deu os dedos para guardar os braços. Mais a frente, lá foram os braços para preservar o corpo, o corpo para guardar a alma e, por fim, descobriu-se que não havia mais alma alguma. Reduzida à condição de um holograma de si mesma e incapaz de mobilizar o povo que um dia acreditou em suas promessas, sua queda era, na verdade, uma segunda queda. Ela já tinha sido objeto de um golpe que tomou seu governo e a reduziu à peça decorativa. Agora, nem a decoração restou.

Bem, este romance histórico ruim e eternamente repetido parece ser a história do fim da Nova República brasileira. Que ela termine com um golpe de estado primário, fruto de um pedido de impeachment feito em cima da denúncia de "manobras fiscais" em um país no qual o orçamento é uma ficção assumida por todos, isto diz muito a respeito do que a Nova República realmente foi. Incapaz de criar uma democracia real por meio do aprofundamento da participação popular nos processos decisórios do Estado e equilibrando-se na gestão do atraso e do fisiologismo, ela acabou por ser engolida por aquilo que tentou gerir. Para justificar o impeachment, alguns são mais honestos e afirmam que um governo inepto deveria ser afastado. É verdade, só me pergunto por que então conservar Alckmin, Richa, Pezão e cia.

O fato é que, no lugar da Nova República, o Brasil depois do golpe assumirá, de vez, sua feição de Estado Oligárquico de Direito. Um estado governado por uma oligarquia que, como na República velha, transformou as eleições em uma pantomima vazia. Uma oligarquia que já mostrou seu projeto: uma política de austeridade que não temerá privatizar escolas (como já está sendo feita em Goiás), retirar o caráter público dos serviços de saúde, destruir o que resta dos direitos trabalhistas por meio da ampliação da terceirização e organizar a economia segundo os interesses não mais da elite cafeeira, mas da elite financeira.

Mas como a população brasileira descobriu o caminho das ruas (haja vista as ocupações dos estudantes paulistas), engana-se aqueles que acreditam poder impor ao país os princípios de uma "unidade de pacificação". Contem com um aumento exponencial das revoltas contra as políticas de um governo que será, para boa parte da população, ilegítimo e ilegal. Mas como já estamos dotados de leis antiterroristas e novas peças de aparato repressivo, preparem-se para um Estado policial, feito em cima de leis aprovadas, vejam só vocês, por um "governo de esquerda". Faz parte do comportamento oligarca este recurso constante à violência policial e ao arbítrio para impor sua vontade. Ele será a tônica na era que parece se iniciar agora. Contra ela, podemos nos preparar para a guerra ou agir de forma a parar de vez com este romance ruim.

Frase e comentário

"O mal-estar presente dos brasileiros afeta a memória que eles têm do governo Lula e, por extensão, suas chances como candidato no futuro"
Hélio Schwartsman, colunista da Folha, sobre a avaliação do governo Lula em 2010 e agora. Em 2010, 71% consideravam a sua gestão a melhor da história do país contra 39% agora, sem contar a derrota em um eventual 2º turno em 2018, segundo pesquisa feita pelo Datafolha.


Só faltou dizer que Lula sofre uma campanha diária de desgaste na mídia que a propaganda eleitoral na TV pode reverter. Agora, se Lula for mesmo candidato, infelizmente, deve haver uma eleição muita radicalizada e com alto risco de violência entre simpatizantes petistas e antipetistas. O país, cindido, vai ter um pleito "tipo Venezuela", com jeito de plebiscito.  

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