UMA LEITURA SEMANAL DOS JORNAIS - N10 - 10.12.2015
GEORGE ALONSO
O impedimento de Dilma e o embaixador do golpe
Só faltou dizer que Lula sofre uma campanha diária de desgaste na mídia que a propaganda eleitoral na TV pode reverter. Agora, se Lula for mesmo candidato, infelizmente, deve haver uma eleição muita radicalizada e com alto risco de violência entre simpatizantes petistas e antipetistas. O país, cindido, vai ter um pleito "tipo Venezuela", com jeito de plebiscito.
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José Serra: tucano aliado da ambição de Michel Temer visita governadores, contra Dilma |
Temer quer a faixa |
O impedimento de Dilma e o embaixador do golpe
O desembarque do vice de Dilma, Michel
Temer (PMDB), um ano depois de eleito é mais uma demonstração de que o
presidencialismo de coalizão está esgotado, além da barganha descarada e corrupta no
Congresso. Ninguém consegue governar sem apoio do baixo [baixíssimo] clero dos
parlamentares. Com a carta chororô e o discurso de
"precisamos unir o Brasil", Temer, o traidor, tenta convencer
governadores que são contra impedir a presidente, para que apóiem a derrubada da petista por meio do artifício
legal [questionádo] das "pedaladas fiscais". Se a presidente
for impedida, pergunta-se, qual governador ou prefeito será também afastado??? Não se trata
de apoiar "mutretas fiscais", mas o resultado eleitoral jamais aceito
pela oposição é a razão de tentar tirar do Planalto uma presidente de mãos
limpas (até agora pelo menos). Trata-se de uma ameaça a democracia. Até o
"NYT" percebeu a "jogada" e a denunciou em editorial. O
senador José Serra (PSDB) tem desempenhado um papel que é bem de seu feitio:
tenta convencer governadores a abandonar o apoio a Dilma. Serra é o embaixador de
Temer, é o embaixador do golpe branco. E já tem vaga garantida num eventual governo Temer.
Frase da semana
"Você é um homem deselegante,
descortês, arrogante e prepotente. Por isso nunca chegará à Presidência da
República"
Kátia Abreu, ministra da Agricultura, recém-casada, ao jogar uma taça de vinho branco no
rosto do senador José Serra (PSDB) que a chamou de "namoradeira" numa
festa de final de ano em Brasília
Elite corrupta na cadeia
Marcelo Odebrecht deixa a presidência
da holding da família. Justiça mantém presos executivos da Andrade Gutierrez.
Preso, banqueiro é afastado da direção de banco. Vice-presidente da Anfavea
também preso é afastado da entidade. Quem diria que veria tanta gente graúda na
cadeia? E tem muito mais por aí, alguém duvida?
Estado oligárquico de direito
Esse é o título do artigo que o
filósofo Vladimir Safatle publicou na "Folha" e que reproduzo aqui,
pela clareza de sua visão do momento político brasileiro
Neste momento, a população brasileira
vê, atônita, a preparação de um golpe de estado tosco, primário e farsesco.
Alguém poderia contar a história da seguinte forma: em uma república da América
Latina, o vice-presidente, uma figura acostumada às sombras dos bastidores,
conspira abertamente para tomar o cargo da presidente a fim de montar um novo
governo com próceres da oposição que há mais de uma década não conseguem ganhar
uma eleição. Como tais luminares oposicionistas da administração pública se
veem como dotados de um direito divino e eterno de governar as terras da nossa
república, para eles, "ganhar eleições" é um expediente desnecessário
e supérfluo.
O vice tem como seu maior aliado o
presidente da Câmara: um chantagista barato acostumado, quando pego em suas
mentiras e casos de corrupção, a contar histórias grotescas de fortunas feitas
com vendas de carne para a África e contas na Suíça com dinheiro depositado sem
que se saiba a origem. Ele comanda uma Câmara que funciona como sala de reunião
de oligarcas eleitos em eleições eivadas de dinheiro de grandes empresas e tem
ainda o beneplácito de setores importantes da imprensa que costumam contar a
história do comunismo a espreita e do bolivarianismo rompante para distrair
parte da população e alimentá-la com uma cota semanal de paranoia. O nome de
sua empresa diz tudo a respeito do personagem: "Jesus.com".
O golpe ganha um ritmo irreversível
enquanto a presidenta afunda em suas manobras palacianas estéreis e nos
incontáveis casos de corrupção de seu governo. Ela havia dado os anéis para
conservar os dedos; depois deu os dedos para guardar os braços. Mais a frente,
lá foram os braços para preservar o corpo, o corpo para guardar a alma e, por
fim, descobriu-se que não havia mais alma alguma. Reduzida à condição de um
holograma de si mesma e incapaz de mobilizar o povo que um dia acreditou em
suas promessas, sua queda era, na verdade, uma segunda queda. Ela já tinha sido
objeto de um golpe que tomou seu governo e a reduziu à peça decorativa. Agora,
nem a decoração restou.
Bem, este romance histórico ruim e
eternamente repetido parece ser a história do fim da Nova República brasileira.
Que ela termine com um golpe de estado primário, fruto de um pedido de
impeachment feito em cima da denúncia de "manobras fiscais" em um
país no qual o orçamento é uma ficção assumida por todos, isto diz muito a
respeito do que a Nova República realmente foi. Incapaz de criar uma democracia
real por meio do aprofundamento da participação popular nos processos
decisórios do Estado e equilibrando-se na gestão do atraso e do fisiologismo,
ela acabou por ser engolida por aquilo que tentou gerir. Para justificar o
impeachment, alguns são mais honestos e afirmam que um governo inepto deveria
ser afastado. É verdade, só me pergunto por que então conservar Alckmin, Richa,
Pezão e cia.
O fato é que, no lugar da Nova
República, o Brasil depois do golpe assumirá, de vez, sua feição de Estado
Oligárquico de Direito. Um estado governado por uma oligarquia que, como na
República velha, transformou as eleições em uma pantomima vazia. Uma oligarquia
que já mostrou seu projeto: uma política de austeridade que não temerá
privatizar escolas (como já está sendo feita em Goiás), retirar o caráter
público dos serviços de saúde, destruir o que resta dos direitos trabalhistas
por meio da ampliação da terceirização e organizar a economia segundo os
interesses não mais da elite cafeeira, mas da elite financeira.
Mas como a população brasileira
descobriu o caminho das ruas (haja vista as ocupações dos estudantes paulistas),
engana-se aqueles que acreditam poder impor ao país os princípios de uma
"unidade de pacificação". Contem com um aumento exponencial das
revoltas contra as políticas de um governo que será, para boa parte da
população, ilegítimo e ilegal. Mas como já estamos dotados de leis
antiterroristas e novas peças de aparato repressivo, preparem-se para um Estado
policial, feito em cima de leis aprovadas, vejam só vocês, por um "governo
de esquerda". Faz parte do comportamento oligarca este recurso constante à
violência policial e ao arbítrio para impor sua vontade. Ele será a tônica na
era que parece se iniciar agora. Contra ela, podemos nos preparar para a guerra
ou agir de forma a parar de vez com este romance ruim.
Frase e comentário
"O mal-estar presente dos brasileiros afeta a memória que eles têm
do governo Lula e, por extensão, suas chances como candidato no futuro"
Hélio Schwartsman, colunista da Folha, sobre a avaliação
do governo Lula em 2010 e agora. Em 2010, 71% consideravam a sua gestão a
melhor da história do país contra 39% agora, sem contar a derrota em um
eventual 2º turno em 2018, segundo pesquisa feita pelo Datafolha.Só faltou dizer que Lula sofre uma campanha diária de desgaste na mídia que a propaganda eleitoral na TV pode reverter. Agora, se Lula for mesmo candidato, infelizmente, deve haver uma eleição muita radicalizada e com alto risco de violência entre simpatizantes petistas e antipetistas. O país, cindido, vai ter um pleito "tipo Venezuela", com jeito de plebiscito.
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