domingo, 13 de dezembro de 2015

A SOLIDÃO DENUNCIADA


        
       Está bem! Conjuguei o verbo querer no tempo errado [disse ao rapaz, ou melhor digitou, hoje ninguém diz, digita]. Estava irritada demais para saber. Odeio bate-boca seja real ou virtual e não vejo lógica alguma em colecionar inimigos [inimigos virtuais então! Ô, coisa mais besta!]. Nós nos equivocamos. Espero sinceramente que tente não odiar-me. Eu não gostaria de saber que você é um feiticeiro vodu poderoso [pausa dramática]. Por favor, diga que você não é. Tem razão! Os meus desejos não são sonhos. São fantasias, "faz favor"! Algumas mais inocentes. Outras nem tanto. Não posso evitar que sejam contigo. Em algum momento irão embora. Em 20 anos, talvez?
       Publicou o texto na íntegra! Concordo com sua descrição e queixas. Só se esqueceu de escrever sobre "scammers", pessoas com um gosto tão refinado, capazes de perceber beleza de olhos e sorrisos em avatares totalmente desprovidos dos mesmos. Mas, sabe?, as pessoas aqui não são assim tão diferentes das reais. Os sites apenas viabilizam encontros que em circunstâncias normais seriam inviáveis -- como aqueles oriundos de Estados diferentes por exemplo -- e o amor, embora possível, por ser como uma planta daninha, viceja em terrenos aparentemente áridos e inférteis [Hitler, o genocida mais maldito de todos, aparentemente amava sua companheira, Eva Braun, e casar-se algumas horas antes de uma captura ou morte certa foi um ato muito romântico], torna-se um pouco mais difícil de alcançar por conta da demanda.

        O site relata milhões de inscritos, entretanto o registro de usuários online dificilmente ultrapassa a casa dos 20 mil. Ainda assim é um número assustador de caras e bocas. É como experimentar perfumes. Depois de alguns minutos, todos parecem iguais. Minha visão pessoal: não existe amor à primeira vista. Ou amor sem cheiro, textura, sabor. Sem algumas afinidades reais [porque papel, nesse caso a tela do computador, aceita tudo], sem admiração mútua. Sem falar do respeito, da cumplicidade. Tudo isso só se alcança com o tempo. O que existe à primeira vista é desejo. Em intensidades variáveis. Amor, poderá surgir depois ou não.

        E sobre safadeza no site. "...Que devagar vais desfolhando a líquida espuma do prazer em rito mudo, lenta-lambente-lambilusamente ligada à forma ereta, qual se fossem a boca o próprio fruto e o fruto a boca, oh chega, chega, chega de beber-me de matar-me, e, na morte, de viver-me..." É Carlos Drummond, vocè sabia? Pois, é um trecho de um de seus poemas eróticos. Safadinho, né? Mas quem não é? Corrigindo: então, quem não é?

        Havia uns três dolorosos dias que não sonhava com a cor de teus beijos e o deslizar agoniante de sua pele queimando a minha. O desejo, pulsando nas têmporas, nos caminhos esquerdos e nos lugares escondidos. Branco ou tinto? Minha cabeça em seu peito e uma dúvida: acaricio suas pernas ou você, as minhas?

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