quinta-feira, 17 de outubro de 2013

SDS, É ISSO MESMO



Quando vou realizar um check-up -- imperioso depois dos 40 mil quilômetros rodados [já estou na casa dos 55 mil] -- um pensamento recorrente me toma de assalto. O preparo impõe restrições que me fazem, quase sempre, lembrar de coisas boas da vida. Para o exame completo de sangue e PSA [bom dia, próstata, tudo bem aí?], aquela checadinha básica, é exigido jejum de 12 horas, sem esforço físico na véspera, 72 horas sem bebida alcoólica e 48 horas sem sexo. Mesmo que passe rápido, é duro se abster de tudo. Foi assim ontem, uma quarta-feira chuvosa na Paulicéia ingovernável. Se no mesmo dia você der uma geral no abdome, além do jejum de 8 horas, terá que tomar seis copos de água antes do ultrassom [bom dia, vesícula, em que pé estão os pólipos? São cinco, grandes, pequenos, estagnados? Estou de olho em vocês! E a bexiga, vai bem obrigado! E o fígado e os rins, mudaram de tamanho? Estão filtrando direitinho?].

       Já para fazer uma breve visita ao coração, na sexta que vem, a ordem é não tomar café [dizem que é um veneno, mas adoro um puro], chocolate ou achocolatados [é melhor nem comentar], qualquer tipo de chá, refrigerantes [e seu açúcar adorável, viciante] e bebidas alcoólicas [hoje estou  moderado, o medo da ressaca venceu a esperança]. Pior, temo dar vexame na esteira, não atingir o protocolo mínimo. Se não me engano, são 7 ou 8 minutos (es)correndo na ladeira. Que vergonha, já cheguei a parar só após 12 minutos, o tempo máximo [quem mandou não caminhar 30 minutos por dia? Ou nadar duas vezes por semana, para garantir um fôlego razoável?]. A humilhação se completa se esse teste de esforço for monitorado por jovens enfermeiras [vou ter que dizer que eu já fui “uma brasa, mora!”].
 
       A esses pensamentos imperfeitos seguem-se outros, que aliviam um pouco a barra deste “bokomoko”. Soube que essas jovens enfermeiras ou médicas, novatas na profissão, já salvaram vidas. Uma vez um sujeito, aparentemente em perfeito estado de manutenção por dentro e por fora, corria na esteira. Uma das jovens de branco achou esquisito o gráfico do ritmo cardíaco. Chamou um médico, que de imediato decretou: “Pode parar, você está próximo de um ataque cardíaco”. Surpreso, o sujeito, de meia idade, perguntou se podia buscar em casa uma muda de roupas. O médico foi no fígado: “Daqui você só sai de ambulância”. Pobre homem, com a lataria em dia, mas com o motor pronto para fundir sem ele saber, sem nenhum sinal. Foi internado. Por outro lado, que sorte. As meninas fizeram o trabalho direitinho. Ele era daqueles que participa de corridas de rua em busca da resistência e da virilidade juvenil perdidas [ou por ser viciado em endorfina e outras “inas” que nos enchem de prazer e dão a sensação ilusória de ser um super-homem].
      
       Essa revisão não-programada puxa o fio do novelo de outro pensamento, e arranca de mim um leve sorriso, apesar do desfecho trágico. Soube que um “tio”, padrasto de um velho e saudoso amigo de colégio, cumpriu sua missão por essas terras com a honra de quem vai até o rabo da palavra. Generoso, engraçado, culto, companheiro, advogado e um debatedor ágil das belezas e dos pecados do mundo, adorava tomar um bom uísque escocês. Fez questão de tomar sua penúltima dose no leito hospitalar. Admirável. Inesquecível. Dele ganhei o apelido provisório de “Calígula, o devasso”, pelos trejeitos ao dançar com as moças no salão, em um memorável carnaval em Birigui [o filme sobre o imperador de Roma estava em cartaz e havia celeuma em entorno das cenas explícitas]. Quase um ano depois, fui surpreendido pelo sócio dele [que esteve na festa interiorana do rei momo] num elevador cheio na Avenida Paulista. “Ooooiiiii, Calígula! Como você está?!!!!”. Todos olharam para mim. Eu não sabia onde enfiar a cara. “Tudo bem”, respondi meio encabulado -- embora contente pelo reencontro e pela lembrança do apelido que achava esquecido, coisa do passado. Eu tinha 19 anos.
    
       Esse turbilhão de pensamentos desordenados me veio à cabeça em frações de segundo, enquanto conversava com uma amiga -- ela no check-in do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e eu em casa, em São Paulo. Ela contava que um atendente acabara de lhe dizer na lata: “O aeroporto está fechado e seu embarque será SDS”. Diante do espanto com a sigla desconhecida, o funcionário da empresa aérea não titubeou: “Só Deus sabe”. Era bem cedo, gargalhei. Fui correndo fazer o check-up. Tinha hora marcada. O resto, SDS.

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sábado, 12 de outubro de 2013

MARINA NA CABEÇA DERRUBA TUCANOS


                                                           [versão atualizada]

A pesquisa Datafolha publicada neste sábado (12 de outubro) mostra que, após Marina Silva (Rede Sustentabilidade) optar por ser vice na chapa de Eduardo Campos (PSB) na corrida presidencial, o eleitorado que a tinha como a preferida (26%) se pulverizou quase igualmente entre os outros candidatos. A presidente Dilma Rousseff (PT) subiu de 35% para 42% das intenções de voto. Aécio Neves (PSDB) cresceu de 13% para 21% e Campos, de 8% para 15%. Brancos, nulos ou nenhum somaram 16%. Outros 7% disseram ainda não saber em quem votar. Com esses números, Dilma seria reeleita no 1º turno.

     A novidade é: se Marina encabeçar a chapa de Campos (PSB), não só haveria 2º turno, como o PSDB ficaria fora da disputa -- seria o fim do Fla-Flu político entre petistas e tucanos. Aécio teria 17%, contra 39% de Dilma e 29% de Marina. Caso o rival fosse José Serra (PSDB), também haveria 2º turno sem os tucanos: Dilma teria 37%, Marina, 28% e Serra, 20%.

     A pesquisa aponta que o PSDB iria para o 2º turno se Serra tomasse o lugar de Aécio na cabeça da chapa e, ao mesmo tempo, Marina fosse vice de Campos: nesse cenário, Dilma teria 40%, Serra, 25% e Campos, 15%. Com Campos na cabeça da chapa PSB/Rede, Aécio também iria para o 2º turno, e o Fla-Flu de tucanos e petistas continuaria. Convém lembrar que Serra é o presidenciável com maior índice de rejeição: 36% jamais votariam nele.

     Num eventual 2º turno, a atual presidente venceria todos os rivais. Mas a ex-senadora e ambientalista Marina não faria feio. Pelo contrário, a disputa ficaria mais apertada. A presidente petista teria 47% dos votos e Marina, 41%. Nos outros cenários, a vitória do PT seria mais folgada: Dilma 54% contra 31% de Aécio; Dilma 54% contra 28% de Campos e Dilma 51% contra 33% de Serra.

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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

SERÁ O FIM DO FLA-FLU ENTRE PT E PSDB?


A aliança de última hora de Marina Silva (Rede Sustentabilidade) à candidatura Eduardo Campos (PSB), já em marcha, mostra alguns equívocos dos marineiros, mas também pode significar o fim do Fla-Flu eleitoral dos últimos anos entre PT e PSDB. Até junho de 2014, muita água vai correr por debaixo da ponte. A seguir, seis considerações sobre o surgimento de uma "terceira via" que pode virar "segunda via".

       1) Com o "capital eleitoral" conquistado na última campanha presidencial, quando obteve cerca de 20 mihões de votos, Marina Silva e sua equipe de articuladores demoraram muito para lançar a ideia de um novo partido, a Rede Sustentabilidade. Isso ocorreu só no início deste ano, em fevereiro. Não houve tempo suficiente para conseguir o total mínimo exigido de assinaturas reconhecidas [492 mil], uma vez que era sabido que a Justiça Eleitoral costuma rejeitar milhares de assinaturas [a Rede obteve 304 mil validações].

       2) A cúpula da Rede parecia crer que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) seria benevolente, e incapaz de barrar o novo partido devido à presença de Marina na mídia, seu histórico, seu carisma e, mais, com as pesquisas apontando-a com 26% das intenções de voto para presidente.

      3) Essa postura, quase "certeza" em relação ao tribunal, permitiu que Marina Silva e sua Rede não tivessem um plano B. Não foi à toa que a presidenciável, surpreendida, disse logo depois de perder por goleada na Justiça [6 a 1] que a Rede era "o primeiro partido clandestino da democracia". Ninguém nega a grandeza da candidatura, mas a Justiça não podia abrir exceções. Por isso, os ministros [alguns até lamentando] barraram o registro da Rede. Eles apenas aplicaram a lei.

      4) Com esse resultado, Marina tinha duas opções, ambas difíceis: continuar o processo formal de criação da Rede Sustentabilidade [esperando por mais 4 anos, e arrumando um jeito de fazer oposição] ou filiar-se a um partido menor, desses de aluguel, onde seria a candidata -- embora isso significasse entrar na disputa pela porta dos fundos, fazendo uso de prática da "velha política".

       5) O plano C, de Eduardo Campos, candidato pelo PSB, surgiu então, em cima da hora, como uma forma de permanecer ativa no cenário político, emplacando no programa da chapa suas preocupações ambientais e outros pontos programáticos. Sem falar nos ajustes que terão de ser feitos nas alianças estaduais, o dilema dessa escolha é que uma candidata com 26% das intenções de voto teria que ir a reboque de um candidato com 8% apenas [três vezes menos]. Marina disse, num dia, que decidiu "adensar uma candidatura já posta". Em outro dia, porém, declarou: "Nós dois somos possibilidades". O bafafa está formado. Será que essa aliança dura, nesse formato? [se durar, será o fim da Rede?]

       6) A expectativa é enorme em relação às pesquisas eleitorais após esse acordo. O quanto do eleitorado de Marina vai "adensar" a candidatura Campos? Para onde irão os descontentes da Rede [os "puros" e "viúvos"] com a opção de Marina [que não quis ser Madre Teresa de Calcutá]? O que será de Campos se as pesquisas mostrarem que as chances aumentam se Marina for a cabeça na chapa? A adesão marineira aos "socialistas" será suficiente para rebaixar os tucanos à terceira força, fazendo com que se rompa pela primeira vez, nos últimos pleitos, com o Fla-Flu político entre PT e PSDB?

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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

MARINA: UMA ALIANÇA EM CIMA DA HORA




Uma aliança por cima, em cima da hora. A surpreendente opção feita pela presidenciável Marina Silva não apareceu nos prognósticos das dezenas de jornalistas que escrevem sobre eleições. Com a decisão [técnica e no limite do tempo] da Justiça Eleitoral, que recusou o registro da Rede Sustentabilidade por falta do número mínimo de assinaturas de eleitores, Marina parecia "eliminada" da disputa [adiando o sonho por mais quatro anos] ou condenada a entrar no jogo pela porta dos fundos de pequenos partidos de aluguel -- com exceção do PPS de Roberto Freire, que flertou com José Serra, acreditando que o tucano deixaria o PSDB [o que também não ocorreu].

     À primeira vista, um político que tem de 16% a 26% das intenções de voto não aceitaria ser vice numa chapa em que o presidenciável se mantém na faixa dos 6% aos 8% nas pesquisas, como é o caso do senador Eduardo Campos (PSB). Em tese, Marina aceitou, ao dizer que veio "engrossar uma candidatura já posta", ela abriu mão de ser cabeça de chapa. O que a levou a suspostamente não ter essa ambição? Outra pergunta: a decisão que coloca a Rede a reboque do PSB pode vingar? E mais: Marina irá conseguir transferir a maioria dos votos para essa nova aliança [uma aliança em cima da hora e acima de qualquer suspeita?], "pura", baseada em acertos programáticos? Vale lembrar ainda que o PSB foi o partido que mais cresceu nas últimas eleições, municipais. Elegeu mais de 100 prefeitos [além do que tinha eleito em 2008]. Os prefeitos socialistas comandam hoje o dobro de eleitores em relação há quatro anos: foi o maior crescimento absoluto e proporcional entre os partidos. O PSB cresceu mais no Nordeste [proporcionalmente o maior reduto de Lula] e em Minas Gerais [maior reduto do tucano Aécio Neves].

     Eu estava escrevendo esse artigo quando vi na internet a entrevista dada por Marina ao "Estadão". Optei então por inseri-la aqui, porque a pré-candidata dá suas explicações:


Influências sobre decisão

"O que me levou a essa coligação programática foi a coerência. Eu sempre disse que a Rede Sustentabilidade não estava aí na lógica da eleição pela eleição, que nós desejávamos era discutir propostas e ideias, mas acho que os sinais não eram suficientes. Nós já abdicamos das eleições de 2012. O que me fez pensar essa possibilidade, acompanhada pela maioria da executiva da Rede, foi a coerência com o que nós estamos nos propondo, de que nós queremos muito mais do que eleição. Analisamos o que mantinha coerência com a visão de que o que nos interessa é uma agenda estratégica para o Brasil. Em termos de candidatura posta com a qual podemos fazer um diálogo com alguma possibilidade de prosperar era o PSB. E o PSB foi um partido que entrou com a liminar na Justiça, que quando o ministro Roberto Amaral deu uma declaração bastante dura contra a Rede, o governador Eduardo Campos fez questão como presidente de fazer uma nota dizendo que a Rede tinha direito de se constituir como partido. Então, eu vi ali a disposição para o diálogo."

Sem foco no Planalto

Alguém me perguntou: é vingança? Eu disse: não, é uma sede muito grande de esperança. Geralmente a gente vê nos outros aquilo que está dentro da gente. Alguém que tem 20%, 16% ou 26%, se dispõe a esse gesto. Isso eu acho que tem algo que fala por si mesmo. Eu não preciso dizer que é desprendimento. Acho que é uma grande ambição, de que a política pode ser melhor, de que o Brasil possa ser melhor. É uma ambição saudável e que não vou abrir mão. Foi por ela que eu saí do PT, o que passei até a decisão de conversar com o Eduardo Campos e selarmos a aliança programática não chega nem perto do sofrimento que eu passei na decisão de sair do PT. É porque eu acredito que o sonho não pode parar. A história não para. Alguém tem que continuar. É engraçado que foi muito bom poder ficar recordando esses dias todos. Quando o Lula fez o movimento no ABC e quis transformar aquele movimento em um partido político foi muito incompreendido, pelo PMDB de luta, que dizia que iria dividir as oposições, pelos partidos marxistas leninistas que tentavam rotulá-lo de ser um partido de direita para fazer o jogo da direita e era rotulado pela direita de ser um partido de esquerda que era um perigo para o Brasil. E de uma forma diferente, sem a força do Lula, a estrutura sindical, de repente eu me vi numa situação de alguma forma parecida. Uns querendo rotular a Rede Sustentabilidade como um partido frágil e outros entendendo que de fato é um esforço para criar uma instituição que dialoga com esse novo sujeito político que está surgindo e outros dizendo que não é algo diferente, é como todos os partidos. Não é a mesma coisa. Tem muita gente que discorda do que eu fiz, está me criticando fortemente, mas compreendendo e respeitando, mas dentro da Rede. Nós estamos metabolizando, debatendo. A Rede não está se fundindo com o PSB, está fazendo uma aliança programática.

Desistência da candidatura

Qual é o problema? Não frusta porque as pessoas estavam frustradas com o que o TSE fez. Quem inviabilizou a possibilidade de a Rede ter a sua candidatura foram os cartórios reconhecidos pela Justiça Eleitoral. Não vamos deslocar o que aconteceu anteriormente ao que ocorreu posteriormente. A Rede sabe muito bem disso. A questão é, deveria ter ficado apenas dentro da Rede e não ter nenhuma incidência na conjuntura política do País, ou deveria ir para um partido, e o PPS dizia: façam a mesma filiação transitória e você tem a possibilidade de ser candidata, no meu entendimento, aí sim era dizer o mais importante era a candidatura pela candidatura, mas o mais importante é poder expor a proposta. Eu via que tinha uma torcida muito grande por uma coisa e por outra, ir para um partido para ser candidata ou me resignar na metáfora que eu fiz de ser a Madre Tereza de Calcutá da política. Eu ficaria no meu conforto e neste momento 99,9% das pessoas jovens da direção da Rede Sustentabilidade estariam felizes, teria sido uma atitude de anticandidatura e com certeza estariam dizendo que tudo que foi referenciado na plataforma Brasil que queremos, eu me omiti por vaidade, para preservar meu capital político e junto aos meus e de dar uma contribuição para o país. Eu me vi diante de uma situação que o Eduardo Giannetti diz que é de dilema, ou faz isso ou aquilo, ou vai para o recolhimento do conforto ou vai para um partido que mesmo com toda a narrativa nós podemos dizer que ela foi para uma sigla de aluguel. Era um dilema e eu tive que criar um trilema, e aí você elimina as duas possibilidades e cria uma terceira que não estava prevista por ninguém. Foi o que aconteceu. Não está previsível porque a lógica da política é: serei eu e o resto que está por aí, ninguém presta. E eu digo que tem muitas coisas dentro do PT, do PSDB, do PSB, do PPS, do PMDB. As pessoas tem o previsível porque não consideram outra possibilidade. Na conversa com o Eduardo, era muito claro para nós dois, eu não quero destruir ninguém, quero construir. Aí as pessoas dizem, vocês são a costela do Lula e eu até brinquei: a costela é uma coisa melhorada.

Decepção com o PT

Você me perguntou o que me decepciona, eu vou começar pelo que me emociona. O que me emociona no PT foi o PT ter cumprido de fato o que sinalizou na questão da justiça social, tirar 30 milhões de pessoas da extrema pobreza, que era uma promessa que o presidente Lula fazia de um jeito muito simples, no jeito dele, eu quero que as pessoas possam tomar café da manhã, almoçar e jantar, isso me emociona. Mas infelizmente o PT não foi capaz de entender que nós que fomos a força criativa, produtiva e livre que produziu um ato de mudança na década de 80 e chegou até aqui não poderíamos nos conformar com a repetição do sucesso, que é estar no poder. Isso foi aprisionando o poder nessa lógica de não conseguir ver as novas bandeiras, as novas utopias. Eu lutava muito para dizer que a sustentabilidade era a ideia cujo tempo chegou, de que era a atualização da utopia. Mas quando eu dizia isso, as pessoas achavam que eu estava querendo cacifar a minha agenda. Nas campanhas muitas pessoas diziam, você não pode aparecer, se não a gente perde voto, e eu me resignava, porque eu dizia, não quero atrapalhar. Eu me resignava porque eu dizia: não quero atrapalhar, quero que o PT ganhe, que o Lula ganhe. Só que chegou um tempo que eu comecei a ver que jamais eu ia fazer as pessoas se convencerem de que a utopia desse século que todo mundo está correndo atrás é o desenvolvimento sustentável, que é ressignificar as nossas bandeiras, ressignificar nossa utopia. Foi por isso o ato extremo de sair do PT e ir para o PV. Eu estou acreditando profundamente que o Eduardo pode dar uma contribuição para essa atualização. Nesse momento o peso está muito nos ombros dele.

Alianças regionais

As conversas que estavam postas nos Estados elas também vão participar de um processo de reelaboração e ressignificação. Porque se a aliança prospera, ela vai se adensando na direção de um novo caminho e uma nova maneira de caminhar.

Transferência de votos

Não acredito em transferência de voto porque o voto não é meu, o voto é do eleitor. E a gente tem que começar a respeitar o eleitor. Eu acho um desrespeito esse negócio de que você é dono dos votos de cidadãos e cidadãs conscientes. As pessoas votam em quem elas se convencem de votar. O eleitor, o cidadão, não quer ficar nessa posição de mero expectador, ele quer ser protagonista, autor, mobilizador. E isso ficou claro nas manifestações agora de junho. O pessoal entrou em crise, 'mas como é que tem esse bando de gente na rua e não foi um sindicato, não foi um partido, não foi a Marina, não foi o Lula'? Quem chamou foi o próprio cidadão porque ele é um novo sujeito politico, é autor, é mobilizador. É isso que temos que entender e cada vez mais vai ser assim. E vai ter que negociar com ele. Não vamos trata-lo como se ele tivesse uma atitude passiva. Tanto não tem que botou o Congresso para, envergonhadamente, enterrar a PEC 37. Botou o Congresso e o governo para, envergonhadamente, ressuscitar para em seguida matar a reforma política. Quem fez isso foi o cidadão. Ou a gente convence esse cidadão, de que essa proposta é boa para o Brasil, ou ele não vai dar o voto só porque a Marina está dizendo vote no Eduardo, no João, no Francisco ou na Maria. Vamos começar a respeitar o cidadão. Eu digo: não acredito em salvadores da pátria, eu acredito em homens e mulheres que se disponham a construir pátria. Eu não acredito que alguém propõe para um povo um destino, eu acredito em quem propõe um mundo melhor, construído por todos. É por isso que eu fiz esse gesto. E só Deus e o tempo dirão se foi para ajudar a mudar ou se foi para me vingar. E, se eu não tiver mais aqui, com certeza, como historiadora, eu ficarei feliz do mesmo jeito porque foi para construir.

Cabeça de chapa

Esse trabalho não é ele quem vai conseguir, numa aliança a gente tem que conseguir juntos. É um convencimento conjunto. Agora, para convencer os outros, a gente tem que ter o que dizer. E não só o que dizer, a gente tem que mostrar o que está fazendo. E é desse estar fazendo é que vamos mostrar muito mais pelo que fizemos do que pelo que dissermos. Mas a gente está só no começo, vamos começar o diálogo. Não tem nada impositivo. A Rede tem o seu programa, o PSB tem o seu programa, a Rede tem seus militantes, o PSB tem os seus militantes, e vamos nos comportar como um partido político. A história vai provar que o que aconteceu com a Rede Sustentabilidade é o maior paradoxo da política partidária brasileira. Tem partido que se legaliza dentro de uma pasta para tentar ganhar capilaridade social, com apoio inclusive do governo para já ter um ministério. Tem partido que tem capilaridade social, não quer um ministério para aumentar cada vez mais os gastos públicos e mesmo assim não consegue um registro legal. Eu não tenho como objetivo de vida ser a presidente da República, eu tenho como objetivo de vida um país melhor. Se para isso necessário for ser presidente da República, serei com a mesma alegria que faço como professora de história. Eu acho que as pessoas não entenderam que o meu gesto porque continuam não acreditando nisso que estou dizendo. Se o Eduardo se comprometer com essa agenda, se o Eduardo fizer um gesto de mudanças significativo que o Brasil precisa, eu não preciso ser vice dele, eu só preciso ser cabo eleitoral. Eu repito aquela história de que sábio são os que aprendem com os acertos dos outros. Estúpidos são aqueles que não aprendem nem com os seus acertos. O PT e o PSDB tem dois grandes acertos para aprender, serão estúpidos se não aprenderem com eles que podem fazer mais e melhor, podem fazer mais com sustentabilidade. Eu não tenho nenhum problema com isso se o Brasil for melhor, não tenho como objetivo de vida ser presidente do Brasil, tenho como objetivo de vida ter um país melhor.

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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

OUTRO MINHOCÃO À VISTA?

 

Quando dei de cara com "aquilo", há mais ou menos um mês, foi um choque. "O que estão fazendo aqui?", bradou meu coração paulistano, quase infartado pelo impacto visual. O Metrô diz que, no final da obra, será um marco futurista da cidade. [Que futuro é esse?] Não basta um Minhocão, nosso monstro arquitetônico de todos os dias, um câncer urbano instalado no centro de São Paulo? Estão construindo outro, desta vez na zona sul [foto]. A Avenida Roberto Marinho ganhou pilastras gigantescas, que vão sustentar o monotrilho, por onde circularão trens com pneus, a 25 metros de altura [mais alto que o Minhocão do centro]. Os pilares faraônicos transformam carros e pessoas em formigas ou habitantes de Liliput. O Metrô promete plantar árvores, fazer um paisagismo para esconder a "engenharia de Gulliver", suavizar a brutalidade do excesso de concreto que já cortou o horizonte de outrora. Só com palmeiras imperiais para camuflar o desastre. A conferir, uma vez que o "monstro" está em gestação.

      Trata-se de Linha 17-ouro, cuja primeira fase vai ligar o Aeroporto de Congonhas à Marginal Pinheiros. Esse trecho, de 7,7 km, deve começar a operar no final de 2014. Ao todo, porém, essa linha terá 18 km e 18 estações -- ligando a estação Jabaquara à estação São Paulo/Morumbi, que terá conexão com a linha amarela, perto do Estádio do Morumbi. O preço? Estimados R$ 4,1 bilhões.

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