terça-feira, 23 de julho de 2013

CHAME O LADRÃO! CHAME O LADRÃO!

                          

      Alguma coisa está errada. 

      Restaurantes bons, sem frescura ou requinte, estão causando indigestão em São Paulo. Tida como a capital gastronômica nacional, houve tempo nessa cidade em que comer fora de casa era bom, farto e barato. Tão barato que os estrangeiros comentavam isso como algo positivo da maior e mais frenética metrópole do país. Quando era universitário cheguei a frequentar restaurantes e cantinas duas vezes por semana, pelo menos, com amigos ou namoradas. Um casal gastava R$ 30 para comer dois pratos individuais de massa, incluindo bebidas, chope ou refrigerante. Luxo era rachar a sobremesa. Era assim nas cantinas do Bexiga, no auge de sua glória, nos anos 70 e 80. Ah, o cafezinho era cortesia da casa!
      
       E mais: uma vez por mês dava para fazer turismo nos restaurantes mais sofisticados, aqueles com grife, em que o preço embute a saborosa decoração e talheres de prata. Era assim antes do real e da paridade com o dólar... A tal paridade acabou logo após a reeleição de FHC. Você se lembra?

       Pois é, faz pouco mais de uma década que o prazer de experimentar restaurantes passou a causar cólicas no bolso. Mas a coisa desandou de vez nos últimos meses. Bom, vejamos o caso de O Brazeiro, na Vila Mariana, conhecida casa que fez fama com seu galeto na brasa, bem temperado no limão, e que fica torradinho nas bordas e úmido por dentro. Agora ali um franguinho com polenta e uma porção de arroz para duas pessoas saem por R$ 90. Não, não cometi erro de digitação: noventa reais por extenso, por favor. Se ainda, por infelicidade, ocorrer um arrastão, algo em voga na cidade, você pode perder o relógio, o celular e também o que sobrou de dinheiro na carteira. Isso se não "pedirem" o seu carro "emprestado".

        Pizza, antes boa e barata, virou artigo de luxo na Paulicéia, realmente desvairada. Gastar R$ 40 reais numa redonda tamanho grande é de lei -- se for um pedido de entrega em casa. Se você preferir pegar o seu carro e ir a uma cantina, é uma loucura. Na 1900, uma pizza grande e alguma bebida fica em torno de R$ 120. Na tradicional Moraes, aquela da Brigadeiro, uma pizza grande com três sabores custa nada mais nada menos do que R$ 100, para duas pessoas, incluindo seis chopes, sem a gorjeta. Há o estacionamento, que fica por R$ 5, bem razoáveis diante do que se cobra por aí.
       
        Até o momento só falei de restaurantes pop... Outro dia parti para um teste de luxo: fui ao Bacalhoeiro, pra lá de famoso e, diga-se de passagem, com serviço impecável: em três pessoas gastamos quase R$ 300, sem couvert. Estava muito bom, mas é bacalhau a preço de ouro. E é pouco perto de outros restaurantes e bistros chiques paulistanos, destino de "gente diferenciada", jargão que surgiu para definir quem adora viver em seu gueto, longe do cheiro de povo.
    
        Talvez seja por isso que outro tipo de assaltante passou a frequentar as nossas mesas, como garçons às avessas. Tudo isso me fez lembrar do refrão de uma música de Chico Buarque: "Chame o ladrão! Chame o ladrão!" Ah, nem é preciso chamar, eles já estão chegando... e esse serviço não está incluído na conta.
 

2 comentários:

  1. George, o incrível é observar que mesmo cobrando comida a preço de ouro esses restaurantes ficam cheios, nos finais de semana ficam até lotados, com filas. Pizza no Brás ou jantar romantico no Mani demandam paciência de Jó e salário de político.

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  2. Acho invrível tb, mas brasileiro não sabe bem o valor do dinheiro e é gastõa... Brasileiro é sacoleiro, de luxo ou de lixo

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