quarta-feira, 17 de julho de 2013

VIVA A DEMOCRACIA

13/06

VIVA A LIBERDADE

     Veja como são as coisas. A garotada que foi às ruas me fez lembrar de um ato público contra o regime militar (1964-1985), marcado para o Largo São Francisco, em 1977. A polícia da ditadura e do cel. Erasmo Dias (que já foi desta para uma pior) ocupou o largo. Houve, então, dezenas de passeatas pipocando pelo centro todo de São Paulo, durante uma tarde inteira, apesar de nós estudantes sermos seguidos por policiais à paisana (cheguei a apontar para um deles, no outro lado da rua e ele ficou sem graça, tentando se esconder, como um rato que era). Nesse dia, uma foto ganhou o mundo, a de uma estudante sentada no chão, com o medo estampado no rosto, enquanto um PM com uma cinta na mão, pronta para açoitá-la. Mas escrevo todas essas linhas para dizer que, naquele dia, o que chamou minha atenção, e me encheu de orgulho juvenil, foi ouvir de office-boys e meninos de rua "vcs [nós estudantes] são foda, prometeram e vieram enfrentar a polícia. Um deles, animado, começou a querer quebrar lojas e toldos das fachadas. A gente falou pára! pára! senão vão chamar a gente de baderneiro, ou de vândalos... e eles pararam. A gente queria a democracia, e ela está aí, com todos os seus defeitos. São histórias de um período nefasto, de trevas, de medo, em que passeata era proibido. E eu não perdia uma passeata. Daria (ou dá) um livro... Foi o início do fim do silêncio. É o que as manifestações de agora me fizeram lembrar.


14/06

O PREÇO DA LIBERDADE

     A despeito do direito irrevogável à manifestação, essencial à democracia que defendi ontem, uma pequena reflexão mais objetiva sobre incidentes violentos precisa ser feita. Claro está que o protesto foi e é organizado por estudantes e jovens militantes de esquerda oriundos do PT antigo, que abrigava de social-democratas a radicais ortodoxos, que hoje caminham fora do petismo, e contra o petismo. Pela imagens fica claro que não são eles que sofrem com o aumento das passagens de ônibus em São Paulo. Afinal, como estudantes, eles pagam meia. A tarifa subiu de R$ 3 para R$ 3,20. Ou seja, para eles o custo (subsidiado) é de apenas R$ 1,60. Será que eles -- esses estudantes e radicais -- aceitariam cortar esse subsídio para garantir um preço menor para quem depende mesmo de ônibus e metrô? Há que se considerar que, antes do bilhete único, esse custo era bem maior. Hoje paga-se a condução por tempo de uso, podendo combinar por exemplo ônibus e metrô etc. O passageiro gasta agora R$ 3,20 para no mínimo duas conduções. Quem utiliza mesmo o transporte coletivo todos os dias, e sofre com suas deficiências, não está reclamando --- pelo menos por enquanto. Há que considerar ainda que existe o vale-transporte que também reduz o valor da tarifa cheia para o trabalhador. Ontem mesmo houve greve no superlotado sistema de trens metropolitanos e não houve quebra-quebra por parte do povão mesmo – sim, o povão, aquele que para a esquerda antiga seria massa de manobra, a ser conscientizada por uma "vanguarda". Ok, a democracia prevê o confronto. Mas nada justifica o vandalismo. Nada também justifica a violência policial, que me pareceu muito interessada em se vingar de jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas, gente que estava tomando cerveja em boteco ou fugindo da confusão... Segunda-feira tem mais!

17/06

CONTRA TUDO
 
       Com o perdão dos companheiros, a passeata multifocal reuniu deus e o diabo na terra do sol, o que aparentemente pode revelar uma fragilidade da democracia brasileira. [opa, antes de atacar a primeira pedra, leia até o fim, porque sempre fui favorável à liberdade de manifestação e expressão, e continuo a ser] A divisão em três grupos na passeata em São Paulo e o leque de mazelas (do novo preço do ônibus e à corrupção) para a qual foi convocada me assustam. Confesso que me assusta pela falta de lideranças de peso e de interlocutores, e mostra o desencanto com os partidos, principalmente PT e PSDB, que dirigiram o país nos últimos 12 anos. Quem vai conseguir ser o catalisador dessas insatisfações? Ali estavam integrantes do Passe Livre, PSTU, PSOL, punks, anti-punks, petistas insatisfeitos, ex-petistas, tucanos, ex-tucanos, anarquistas, patriotas, oportunistas, anti-Copas e um montão de gente bem-intencionada. Havia todo tipo de palavra de ordem, algumas contraditórias, bem diferente da Campanha das Diretas Já e do impedimento de Collor. É o que tenho a dizer... espero que dê tudo certo! Amanhã, será outro dia?

20/6

AÇÃO DIRETA
 
     A coisa está ficando feia..Ação direta costuma dar merda. Essa de coisa de sem partido é ainda mais perigosa... Quem fala por quem? Qual é a reivindicação da vez? Não conheço democracia sem partidos... Democracia sem partido é ditadura. Cá entre nós, tem gente querendo ver o circo pegar fogo. E tem apresentador cretino, mais preocupado com a audiência falando muita bobagem na TV de forma irresponsável. Só falta defender a volta da ditadura militar. A democracia, com todos os seus defeitos, é o melhor regime que temos para o momento. Vivemos sim uma crise de representatividade. Se o regime fosse parlamentarista, era só trocar o primeiro-ministro e convocar eleições.

21/06

A mídia que era contra o MPL (Movimento do Passe Livre) e um dia virou a favor das manifestações. Agora, arrependida, depois de defender o "sem partido", deve voltar atrás e defender a ordem. Hoje, embora a conjuntura seja bem diferente, ruma-se para o caos. Em 1964, os milicos alegaram ameaça comunista e a corrupção como motivos para a intervenção golpista. Se a coisa sair do controle... Com o quebra-quebra que começa a surgir nas periferias (quase ninguém deu, mas na zona sul paulistna já saquearam a Casas Bahia e outras lojas) a coisa vai ficando preta. Logo logo parte da sociedade vai exigir o fim da “baderna”, e pedir ordem e progresso. Como desmobilizar agora gente sem lideranças e golpistas usando a internet para promover o caos. Há quem interessa isso? A democracia prevê o confronto, de ideias. Na França, em Paris, 1 milhão de pessoas foram às ruas contra a união gay e outro 1,2 milhão de pessoas foram a favor. Gostaria que no Brasil toda essa força fosse resolvida em manifestações contra ou a favor de medidas objetivas, como ocorreu com a tarifa de ônibus e com protestos pacíficos no Congresso, por exemplo, sobre temas também importantes. Na surdina, tem gente importante defendendo o caos, com objetivos políticos claros... 

25/06

DÁ PARA EXPLICAR?

Alguns dias antes da avalanche de protestos, os institutos Datafolha e Ibope apontavam governantes com avaliação elevada, embora as duas pesquisas também registrassem queda de oito pontos percentuais na aprovação do governo Dilma Rousseff. Pelo Datafolha, 57% avaliavam o governo Dilma como bom ou ótimo, contra 65% em março. Pelo Ibope, caiu de 63% para 55%. No Estado de SP, a aprovação de Geraldo Alckmin era de 52%. Novas pesquisas devem derrubar esses índices. Mas, curioso, as pesquisas não captaram o tamanho da insatisfação.

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