[versão atualizada, em 10 de agosto]
Não entendi bem, ainda, o motivo de tanta ira de motoristas paulistanos contra a redução da velocidade nas grandes avenidas, principalmente nas marginais -- onde normalmente a velocidade já não passa dos 60 km/h nos picos. Onde, por exemplo, um motorista de caminhão levanta a caçamba e destrói uma ponte só para não ser pego pelo radar e assim não pagar multa, na faixa central. Mas nós vamos pagar o conserto da ponte do Piqueri [a conta é nossa].
Curiosamente, desde que a velocidade foi reduzida nem houve congestionamentos nas marginais -- houve claro lentidão e engarrafamento nos horários de pico da manhã e no anoitecer. As rádios e emissoras que se interessam pelo assunto, vivem [e faturam] com a informação do tráfego ruim deram voz -- como cantou certa vez Caetano -- "aos boçais" [necas de gente que estuda o tema, necas de especialistas isentos]. Somos todos uns boçais?, indagava a música.
Não sou engenheiro de tráfego, mas me parece meio óbvio que carros andando na mesma velocidade, baixa, em avenidas expressas. causam menos acidentes, e isso aumenta a velocidade média geral, Exceto claro se o um doido andar, ziguezagueando, em outro ritmo, obrigando os outros a frear, ou ainda pior, se caminhões, ônibus e motociclistas não respeitarem as leis de trânsito como é de costume e provocarem acidentes. Ok, Haddad, os radares controlam os carros. Mas, sem demagogia prefeito, dezenas de marronzinhos deveriam se dedicar a fiscalizar ônibus e caminhões "alucinógenos alucinados" colando em carros, desafiando ora as leis da física ora a decência no trânsito ora agindo como assassinos. "Policiais de radar em punho sobre as pontes deveriam também vigiar só os motoqueiros suicidas, que continuam soltos aos borbotões [desses que morrem um por dia passando a 200 km entre um carro e outro, acenando e chutando espelhinhos]. Nada contra o serviço fundamental de entrega dos motoboys, Mas os imprudentes, velocistas e apocalípticos devem sentir o peso da caneta, do bolso e da apreensão da moto.
Nas marginais; o que falta é muita fiscalização; boçais de todos os matizes e veículos travam o que chamo diariamente de a "Batalha de Hobbes"; a guerra de todos contra sobre rodas*. Por exemplo, um motoqueiro que fosse pego acima do limite de 60 km na marginal, entre o carro e outro, perderia a carta na hora por 15 dias. Reincidente, por 30 [desde quando é permitido por lei moto andar entre um carro e outro sob a faixa, a mais de 100 km/h?]. Por que os brasileiros que vivem em Miami, ou qualquer cidade americana, lá respeitam as leis? Que são muito mais rigorosas que as daqui. Nem ia falar da tolerância zero de Nova York [zero, sim, nenhuma morte no trânsito, e a meta lá agora]. Mas como o brasileiro adora "arrotar" exemplos da sociedade americana...
O paulistano, doente por automóvel não suporta ver seu bem mais "valioso'' restringido [tem sujeito que até tem na garagem um carro que vale mais que a casa onde mora]. Nada contra os os objetos de desejo de alguém; apenas retratos que ilustram o espírito dessa terra que já elegeu Janio, Maluf, Pita, a velha turma dos túneis, elevados, das avenidas superfaturadas só para carros -- e que fizeram escola. Transporte coletivo, só "no céu", em obras que aparecem em campanhas eleitorais na TV, mas nunca começam ou acabam; tipo "aerotrem", "VLTs", monotrilhos. [Ackmin vai entregar, por exemplo, o Rodoanel Norte, mas não o monotrilho Congonhas-Vila Sônia, um esqueleto aéreo, fratura exposta cortando há anos a zona sul]. Claro que o Rodoanel é importante, mas você me entende...
No início, os "homens e mulheres rodados" odiavam o cinto de segurança, depois o rodízio e agora ciclovias ou ciclofaixas. que "roubam" seu espaço [claro que houve erros e alguns exageros nessa última ideia]. Se pudessem, os "homens rodados" só usariam helicópteros. E as "penélopes charmosas", estas sim teriam faixas exclusivas. E a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)? Já foi melhor. Hoje, prefere fazer papel ridículo. Prefere falar em arrastão nas marginais, como se a Prefeitura facilitasse a vida dos marginais. Aliás, como se arrastão fosse novidade ali.
Estranhou as fotos? O assunto não é a "'redução da velocidade penal" das marginais?
Mas a guerra está é aquí. Na guerra do Vietnã, 58 mil soldados dos EUA voltaram ensacados, de 1965 [quando iniciou-se o envio de tropas] a 1975 [a derrota americana]. No Brasil. morrem por ano no trânsito cerca de 45 mil pessoas. No ano passado, foram 48 mil mortos aqui [uma pessoa a cada 10 minutos, 6 pessoas por hora, 132 por mês]. Em número absolutos, o Brasil é o quarto país do mundo com o maior número de mortes no trânsito, atrás só da China, Índia e Nigéria. No Vietnã, morreram durante toda a guerra cerca de 4 milhões de civis vietnamitas (do norte ou do sul), em 20 anos (1955-1975), ou sejam 200 mil por ano. No país com a maior frota veicular do mundo, os Estados Unidos, morrem 11 pessoas para cada grupo de 100 mil habitantes. No Brasil, 22 pessoas. Só, na cidade de São Paulo, morreram no ano passado 1.200 pessoas vítimas da imprudência no trânsito, quase 10% dos casos nas marginais.
[Se ficou lento demais na pista local, sempre há como rever, não é prefeito? Passados, 15 dias de nova velocidade, acho que já é tempo de rever: 50 km/h é muito pouco, é difícil até para mudar de faixa] Já nas pistas expressas, tudo bem nos 70 km/h, o motorista que ligue o piloto automático, olhe pra frente, ouça música, bata-papo, e só não use o celular.
O que custa tentar? Custa mais vidas e menos gastos colossais com hospitais, flores, enterros etc. Sendo contido nas estatísticas, nos últimos 50 anos o trânsito matou 2,3 milhões de pessoas no Brasil. Sem choro nem vela, é preciso dizer mais alguma coisa?
***
PS - O filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) é conhecido pelo seu pensamento político, que até hoje permeia as relações sociais e está mais vivo do que nunca no mundo contemporâneo. Sua principal preocupação é o problema da ordem social e política: como os seres humanos podem conviver juntos em paz, sem "a guerra de todos contra todos"? Ele apresenta medidas austeras: na verdade, defende um Estado forte [autoritário até, mas isso é outra discussão]. Caso contrário, o que existe é um ''estado de natureza" parecido a guerra civil -- uma situação de insegurança onde todos têm motivo para temer uma morte violenta e a cooperação humana não existe. O livro clássico: "Leviatã".
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