quinta-feira, 8 de setembro de 2016

A SRA. GÔNDOLA



               A geladeira está fazendo eco, de tão vazia. Conto quatro tomates, meia dúzia de latas de cerveja, uma ameixa... ah, um pote de açaí "decora" o freezer, acompanhado por uma garrafa de vódca. Não vejo frutas no cesto, fora de geladeira, claro. Torna-se imperioso admitir que a situação é grave. Tenho que ir ao supermercado, com quem mantenho uma relação de amor e ódio. Atacando as gôndolas e enchendo o carrinho, há até uma sensação de felicidade, que se esvai logo quando penso na operação toda... Entra na megafila, espera espera espera, tira tudo do carrinho no caixa. Ensaca tudo e devolve pro carrinho, tira do carrinho e coloca no porta-malas do carro, tira do porta-malas pra pegar o elevador, segura a porta do elevador com um dos sacos para tirar as compras no 14º andar. Libera o elevador. Bota tudo no chão pra abrir a porta de casa, carrega tudo pra cozinha e começa a tarefa de tirar um a um os produtos... ih, esqueci a porta do apê aberta. Fecho a porta e volto a guardar cada coisa em seu lugar... Perdeu o fôlego? Imagine eu! [quem diria, quando criança ficava feliz em ir ao super com meu pai]

              Pois, hoje é sábado,  e tenho que sair. Antes fosse para encontrar uma linda mulher, mas não, ando solitário, vou ver a Sra. Gôndola e passear entre outras tão parecidas com ela. Que chatice, um passeio de "voyeur". Ir às compras é reviver hoje o mito de Sísifo: em vez da pedra empurrada morro acima e que depois rolava morro abaixo, agora empurramos carrinhos de supermercado para encher a geladeira vazia que, para não fazer "wall wall wall" ao ser aberta, é preciso ser sempre reabastecida. Com uma diferença: além do esforço físico aborrecido, há um custo adicional mensurável no caixa, pago em papel-moeda ou com cartões e que pode dar uma tremenda dor de cabeça.

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