terça-feira, 3 de setembro de 2013

EM NOME DE DEUS



Imagine se Deus usasse a justiça dos homens para processar quem pronuncia o seu nome em vão. Isso faria certamente a alegria dos advogados, que ficariam ricos mais rapidamente. Deus ganharia milhares de ações por calúnia, difamação e danos morais. Em nome dele, fala-se de tudo, justifica-se qualquer coisa, ato ou ideia. Vende-se a alma a qualquer preço, compra-se pensamentos ruins e baratos, arrecada-se dinheiro [muito dinheiro] de quem não tem onde cair morto. Em nome dele, uma pessoa se mata (que Deus a tenha), pessoas são mortas [que Deus nos perdoe] e há até casos em que corruptos foram filmados [com sacolas cheias de dinheiro] orando pela "graça alcançada". É um escárnio, mas Deus -- se é que ele existe mesmo -- não tem nada a ver com isso.
 
      Você liga a televisão e escuta blasfêmia atrás de blasfêmia [Deus me livre]. Passeando pelos canais, você dá de cara com um torneio de MMA [Mixed Martial Arts], que dizem ser um "esporte". Deve haver algum engano aí. Trata-se de um espancamento autorizado. Não há esporte no MMA [nem no boxe]. O objetivo é esmurrar o adversário, fazê-lo sangrar, feri-lo com socos, cotoveladas e joelhadas mesmo quando o rival já está desacordado. O curioso é que após esse banho de sangue nos octógonos, grande parte dos vencedores, em entrevistas, ainda agradece "a Deus" por ter quase matado um oponente [e por isso vai ganhar um bom dinheiro]. Um locutor famoso até que tentou "glamourizar" essa selvageria, chamando os lutadores de "gladiadores do 3º milênio". É a decadência humana. Na minha concepção, só é esporte aquele jogo ou atividade em que o objetivo é ganhar fazendo mais pontos ou errando menos, ou sendo o mais veloz ou o mais alto...

      Mudo, então, de canal e me vejo diante de Valdemiro Santiago, chefão da Igreja Mundial, que pretende comprar a MTV. Sim, é ele mesmo, aquele sujeito [dissidente do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal] que, usando um chapéu de boiadeiro, se auto-proclama "apóstolo" e afirma que Deus opera milagres através dele. Costuma pedir dinheiro no ar ["preciso de R$ 700 mil agora!"], sem nenhum rubor, para supostamente pagar programas na TV, em horário arrendado ["porque sem isso, essa obra acaba"]. Você sabe, as igrejas têm isenção de impostos. É a garantia perfeita para a lavagem de dinheiro.

     Mudo de canal outra vez [não estou com sorte, Deus me ajude] e me vejo, de novo, diante de outro bispo, R.R. Soares, da Igreja Internacional, que aliás conseguiu permissão da Anatel para comprar do Grupo Abril três operadoras de serviço especial de TV por assinatura. Tudo em nome de Deus. Como disse o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987): "Meu Deus, por que me abandonastes/ se sabias que eu não era Deus/ se sabias que eu era fraco". [Deus te ouça, pelo amor de Deus!]
   Mudo outra vez de canal, e o zap corre, corre, corre e pára na Rede Vida, da Igreja Católica, na hora de um programa que explica o Evangelho. O "timer" expirou, a televisão desliga sozinha. [Deus lhe pague!]


  

Nenhum comentário:

Postar um comentário