domingo, 20 de dezembro de 2015

O RESUMO DA ÓPERA - SEMPRE ÀS QUINTAS

UMA LEITURA SEMANAL DOS JORNAIS -- N11 - 17.12.2015

POR GEORGE ALONSO



 SENTIR-SE INTEIRO: O PÊNIS EM QUESTÃO

               Deu no "NYT". Os EUA estão oferecendo transplante de pênis para mutilados de guerra. O receptor só recebe o pênis, porque o pênis é transplantado sem os testículos. Há várias exigências para se candidatar à cirurgia, que dura 12 horas. Mas a frase de um mutilado de guerra explica tudo: "Quero me sentir inteiro outra vez". A palavra "inteiro", inevitavelmente, remete ao vocabulário dos haras: o cavalo é "inteiro ou castrado"? Há coisas muito sutis que esse transplante talvez seja capaz de devolver. 

              O primeiro transplante de pênis dos EUA será feito em um soldado ferido na guerra dentro de um ano ou menos, segundo o Hospital da Universidade Johns Hopkins. O soldado é jovem e foi ferido no Afeganistão. O novo pênis será de um doador morto. Em entrevista ao “The New York Times, os cirurgiões esperam restabelecer a função urinária, restaurar as sensações e a capacidade de manter relações sexuais do paciente alguns meses após a operação. Andrew Lee, chefe do serviço de cirurgias reconstrutoras do Johns Hopkins, alertou que os pacientes devem evitar ter esperanças "irreais" de que possam recuperar inteiramente as funções do membro, mas estimou "realista" que possam esperar procriar. Como o jovem não teve os testículos afetados, se tudo dor bem, poderá ter filhos. Entre 2001 e 2013, 1.367 militares enviados ao Iraque e ao Afeganistão foram feridos nos genitais, informou o Pentágono ao jornal. Quase todos tinham menos de 35 anos e foram feridos em explosões de bombas artesanais. A faculdade de medicina da Johns Hopkins autorizou mais 59 transplantes experimentais deste tipo. Depois, os resultados serão avaliados para decidir se a operação poderá se configurar como procedimento habitual. 

O  MÉDICO E O PACIENTE: POR QUE LEVY CAIU?

                  O sociólogo André Singer comenta a saída de Joaquim Levy (foto), no artigo "Antes tarde", sobre o primeiro ano do segundo mandato de Dilma, e as chances de dar certo com Nelson Barbosa na Fazenda, publicado na "Folha".

              Após um ano trágico, a presidente Dilma Rousseff corrige o dramático erro que cometeu ao optar por Joaquim Levy e coloca no Ministério da Fazenda aquele que deveria ter sido o escolhido desde o início. Diante das opções moderadas que a correlação de forças provavelmente impunha naquele distante novembro de 2014, o economista Nelson Barbosa era a melhor escolha. Vamos ver o que conseguirá fazer agora que o país rola no despenhadeiro do austericídio.

             As condições em que Barbosa assume são das mais difíceis. No entanto, chega ao comando da economia quando novo pacto de classe aponta no horizonte. Depois do fracasso do ensaio desenvolvimentista apoiado na coalizão entre trabalho e capital formalizada em maio de 2011, houve reagrupamento da burguesia em torno do ajuste recessivo. De 2013 em diante, a frente produtivista se desfez. 

            Foi necessário que, em 2015, uma das mais graves retrações em décadas ameaçasse não só as conquistas recentes dos empregados, mas igualmente a sobrevivência dos capitalistas, para que a unidade do setor produtivo começasse a se restabelecer. Na terça passada, representantes da CUT, da Força Sindical e de outras quatro centrais, junto a relevantes associações de empresários, entre elas a Confederação Nacional da Indústria (CNI), entregaram a Dilma documento sob o título "Compromisso pelo desenvolvimento".

            De acordo com Clemente Ganz Lúcio, diretor do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), a proposta, destinada a propiciar transição rápida para o crescimento, sugere a retomada do investimento público e privado em infraestrutura, em particular nos setores de petróleo e gás; o destravamento da área da construção; o incentivo à exportação industrial; a ampliação do capital de giro para as empresas e o fortalecimento do mercado interno.

           A adesão do capital a essa agenda não é completa, como o demonstra a significativa ausência da Fiesp entre os signatários. Dada a fragilidade política do governo, a tarefa número um do novo ministro seria a de negociar o apoio dos até aqui recalcitrantes. Contudo, há sinais de que mesmo o setor financeiro estava insatisfeito com a política seguida por Levy, o que poderia facilitar em algo a tarefa de unificar a sociedade em torno de um horizonte construtivo.

          Dada a profundidade do buraco econômico em que caímos e a gravidade da crise política, a missão do novo ministro é quase impossível. Mas depois de ter tomado caminho por completo equivocado, o lulismo volta aos próprios trilhos. Pode ser tarde demais para salvar paciente que respira por aparelhos, mas ao menos o médico intensivista quer fazê-lo. O anterior exalava evidente antipatia pelo doente. 

A FRASE

"A multidão que passa barulhenta e circula por aqui está atrás de um Duce de ocasião, um líder que se apresente 'acima dos partidos' e cultive incontido ódio por todos os tons de vermelho, como o próprio Mussolini"
[Trecho do livro "Golpe de Estado", de Palmério Dória e Mylton Severiano, recém-lançado. Qualquer semelhança é mera coincidência]


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Esta coluna entra em férias e volta em meados de janeiro

domingo, 13 de dezembro de 2015

A SOLIDÃO DENUNCIADA


        
       Está bem! Conjuguei o verbo querer no tempo errado [disse ao rapaz, ou melhor digitou, hoje ninguém diz, digita]. Estava irritada demais para saber. Odeio bate-boca seja real ou virtual e não vejo lógica alguma em colecionar inimigos [inimigos virtuais então! Ô, coisa mais besta!]. Nós nos equivocamos. Espero sinceramente que tente não odiar-me. Eu não gostaria de saber que você é um feiticeiro vodu poderoso [pausa dramática]. Por favor, diga que você não é. Tem razão! Os meus desejos não são sonhos. São fantasias, "faz favor"! Algumas mais inocentes. Outras nem tanto. Não posso evitar que sejam contigo. Em algum momento irão embora. Em 20 anos, talvez?
       Publicou o texto na íntegra! Concordo com sua descrição e queixas. Só se esqueceu de escrever sobre "scammers", pessoas com um gosto tão refinado, capazes de perceber beleza de olhos e sorrisos em avatares totalmente desprovidos dos mesmos. Mas, sabe?, as pessoas aqui não são assim tão diferentes das reais. Os sites apenas viabilizam encontros que em circunstâncias normais seriam inviáveis -- como aqueles oriundos de Estados diferentes por exemplo -- e o amor, embora possível, por ser como uma planta daninha, viceja em terrenos aparentemente áridos e inférteis [Hitler, o genocida mais maldito de todos, aparentemente amava sua companheira, Eva Braun, e casar-se algumas horas antes de uma captura ou morte certa foi um ato muito romântico], torna-se um pouco mais difícil de alcançar por conta da demanda.

        O site relata milhões de inscritos, entretanto o registro de usuários online dificilmente ultrapassa a casa dos 20 mil. Ainda assim é um número assustador de caras e bocas. É como experimentar perfumes. Depois de alguns minutos, todos parecem iguais. Minha visão pessoal: não existe amor à primeira vista. Ou amor sem cheiro, textura, sabor. Sem algumas afinidades reais [porque papel, nesse caso a tela do computador, aceita tudo], sem admiração mútua. Sem falar do respeito, da cumplicidade. Tudo isso só se alcança com o tempo. O que existe à primeira vista é desejo. Em intensidades variáveis. Amor, poderá surgir depois ou não.

        E sobre safadeza no site. "...Que devagar vais desfolhando a líquida espuma do prazer em rito mudo, lenta-lambente-lambilusamente ligada à forma ereta, qual se fossem a boca o próprio fruto e o fruto a boca, oh chega, chega, chega de beber-me de matar-me, e, na morte, de viver-me..." É Carlos Drummond, vocè sabia? Pois, é um trecho de um de seus poemas eróticos. Safadinho, né? Mas quem não é? Corrigindo: então, quem não é?

        Havia uns três dolorosos dias que não sonhava com a cor de teus beijos e o deslizar agoniante de sua pele queimando a minha. O desejo, pulsando nas têmporas, nos caminhos esquerdos e nos lugares escondidos. Branco ou tinto? Minha cabeça em seu peito e uma dúvida: acaricio suas pernas ou você, as minhas?

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sábado, 12 de dezembro de 2015

O RESUMO DA ÓPERA - SEMPRE ÀS QUINTAS

 UMA LEITURA SEMANAL DOS JORNAIS - N10 - 10.12.2015

GEORGE ALONSO

 José Serra: tucano aliado da ambição de Michel Temer visita governadores, contra Dilma 
Temer quer a faixa



















O impedimento de Dilma e o embaixador do golpe

O desembarque do vice de Dilma, Michel Temer (PMDB), um ano depois de eleito é mais uma demonstração de que o presidencialismo de coalizão está esgotado, além da barganha descarada e corrupta no Congresso. Ninguém consegue governar sem apoio do baixo [baixíssimo] clero dos parlamentares. Com a carta chororô e o discurso  de "precisamos unir o Brasil", Temer, o traidor, tenta convencer governadores que são contra impedir a presidente, para que apóiem a derrubada da petista por meio do artifício legal [questionádo] das "pedaladas fiscais".  Se a presidente for impedida, pergunta-se, qual governador ou prefeito será também afastado??? Não se trata de apoiar "mutretas fiscais", mas o resultado eleitoral jamais aceito pela oposição é a razão de tentar tirar do Planalto uma presidente de mãos limpas (até agora pelo menos). Trata-se de uma ameaça a democracia. Até o "NYT" percebeu a "jogada" e a denunciou em editorial. O senador José Serra (PSDB) tem desempenhado um papel que é bem de seu feitio: tenta convencer governadores a abandonar o apoio a Dilma. Serra é o embaixador de Temer, é o embaixador do golpe branco. E já tem vaga garantida num eventual governo Temer.


Frase da semana

"Você é um homem deselegante, descortês, arrogante e prepotente. Por isso nunca chegará à Presidência da República"
Kátia Abreu, ministra da Agricultura, recém-casada, ao jogar uma taça de vinho branco no rosto do senador José Serra (PSDB) que a chamou de "namoradeira" numa festa de final de ano em Brasília

Elite corrupta na cadeia

Marcelo Odebrecht deixa a presidência da holding da família. Justiça mantém presos executivos da Andrade Gutierrez. Preso, banqueiro é afastado da direção de banco. Vice-presidente da Anfavea também preso é afastado da entidade. Quem diria que veria tanta gente graúda na cadeia? E tem muito mais por aí, alguém duvida?


Estado oligárquico de direito

Esse é o título do artigo que o filósofo Vladimir Safatle publicou na "Folha" e que reproduzo aqui, pela clareza de sua visão do momento político brasileiro 

Neste momento, a população brasileira vê, atônita, a preparação de um golpe de estado tosco, primário e farsesco. Alguém poderia contar a história da seguinte forma: em uma república da América Latina, o vice-presidente, uma figura acostumada às sombras dos bastidores, conspira abertamente para tomar o cargo da presidente a fim de montar um novo governo com próceres da oposição que há mais de uma década não conseguem ganhar uma eleição. Como tais luminares oposicionistas da administração pública se veem como dotados de um direito divino e eterno de governar as terras da nossa república, para eles, "ganhar eleições" é um expediente desnecessário e supérfluo.

O vice tem como seu maior aliado o presidente da Câmara: um chantagista barato acostumado, quando pego em suas mentiras e casos de corrupção, a contar histórias grotescas de fortunas feitas com vendas de carne para a África e contas na Suíça com dinheiro depositado sem que se saiba a origem. Ele comanda uma Câmara que funciona como sala de reunião de oligarcas eleitos em eleições eivadas de dinheiro de grandes empresas e tem ainda o beneplácito de setores importantes da imprensa que costumam contar a história do comunismo a espreita e do bolivarianismo rompante para distrair parte da população e alimentá-la com uma cota semanal de paranoia. O nome de sua empresa diz tudo a respeito do personagem: "Jesus.com".

O golpe ganha um ritmo irreversível enquanto a presidenta afunda em suas manobras palacianas estéreis e nos incontáveis casos de corrupção de seu governo. Ela havia dado os anéis para conservar os dedos; depois deu os dedos para guardar os braços. Mais a frente, lá foram os braços para preservar o corpo, o corpo para guardar a alma e, por fim, descobriu-se que não havia mais alma alguma. Reduzida à condição de um holograma de si mesma e incapaz de mobilizar o povo que um dia acreditou em suas promessas, sua queda era, na verdade, uma segunda queda. Ela já tinha sido objeto de um golpe que tomou seu governo e a reduziu à peça decorativa. Agora, nem a decoração restou.

Bem, este romance histórico ruim e eternamente repetido parece ser a história do fim da Nova República brasileira. Que ela termine com um golpe de estado primário, fruto de um pedido de impeachment feito em cima da denúncia de "manobras fiscais" em um país no qual o orçamento é uma ficção assumida por todos, isto diz muito a respeito do que a Nova República realmente foi. Incapaz de criar uma democracia real por meio do aprofundamento da participação popular nos processos decisórios do Estado e equilibrando-se na gestão do atraso e do fisiologismo, ela acabou por ser engolida por aquilo que tentou gerir. Para justificar o impeachment, alguns são mais honestos e afirmam que um governo inepto deveria ser afastado. É verdade, só me pergunto por que então conservar Alckmin, Richa, Pezão e cia.

O fato é que, no lugar da Nova República, o Brasil depois do golpe assumirá, de vez, sua feição de Estado Oligárquico de Direito. Um estado governado por uma oligarquia que, como na República velha, transformou as eleições em uma pantomima vazia. Uma oligarquia que já mostrou seu projeto: uma política de austeridade que não temerá privatizar escolas (como já está sendo feita em Goiás), retirar o caráter público dos serviços de saúde, destruir o que resta dos direitos trabalhistas por meio da ampliação da terceirização e organizar a economia segundo os interesses não mais da elite cafeeira, mas da elite financeira.

Mas como a população brasileira descobriu o caminho das ruas (haja vista as ocupações dos estudantes paulistas), engana-se aqueles que acreditam poder impor ao país os princípios de uma "unidade de pacificação". Contem com um aumento exponencial das revoltas contra as políticas de um governo que será, para boa parte da população, ilegítimo e ilegal. Mas como já estamos dotados de leis antiterroristas e novas peças de aparato repressivo, preparem-se para um Estado policial, feito em cima de leis aprovadas, vejam só vocês, por um "governo de esquerda". Faz parte do comportamento oligarca este recurso constante à violência policial e ao arbítrio para impor sua vontade. Ele será a tônica na era que parece se iniciar agora. Contra ela, podemos nos preparar para a guerra ou agir de forma a parar de vez com este romance ruim.

Frase e comentário

"O mal-estar presente dos brasileiros afeta a memória que eles têm do governo Lula e, por extensão, suas chances como candidato no futuro"
Hélio Schwartsman, colunista da Folha, sobre a avaliação do governo Lula em 2010 e agora. Em 2010, 71% consideravam a sua gestão a melhor da história do país contra 39% agora, sem contar a derrota em um eventual 2º turno em 2018, segundo pesquisa feita pelo Datafolha.


Só faltou dizer que Lula sofre uma campanha diária de desgaste na mídia que a propaganda eleitoral na TV pode reverter. Agora, se Lula for mesmo candidato, infelizmente, deve haver uma eleição muita radicalizada e com alto risco de violência entre simpatizantes petistas e antipetistas. O país, cindido, vai ter um pleito "tipo Venezuela", com jeito de plebiscito.  

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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

O RESUMO DA ÓPERA - SEMPRE ÀS QUINTAS

UMA LEITURA SEMANAL DOS JORNAIS -- N9 - 26.11.2015

POR GEORGE ALONSO

André Esteves, do banco Pactual, preso sob a acusação de prejudicar investigação na Lava Jato

LIGAÇÕES PERIGOSÍSSIMAS


A prisão de André Esteves, sócio do banco Pactual, causou tanta repercussão como se não fosse sabido que banqueiros de qualquer matiz político financiam campanhas e mandam a conta depois. Só que desta vez, o faroeste caboclo envolveu cidadãos acima de qualquer suspeita, gente muito rica e poderosa. E agindo juntos contra uma investigação pesada, a corrupção na Petrobras e a compra da companhia de petróleo de Pasadena, nos Estados Unidos. As gravações telefônicas revelaram uma aposta na impunidade e no tráfico de influência. A ponto de a Justiça reafirmar a prisão do banqueiro e decidir pela transferência do delator premiado, com medo que ele seja morto na cadeia... 

Delcídio do Amaral: preso por negociar fuga com delator
O que impressionou é saber que ele teve acesso a declarações sigilosas da delação premiada de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, na Operação Lava Jato. O lugar dele no banco foi assumido pelo economista Pérsio Arida, que já esteve no Banco Central
e é considerado um dos pais do Plano Real. Amigo de Lula, não escondia 
de ninguém que votou em Aécio para presidente em 2014. Pior: o ex-tucano 
e atual senador petista e ex-líder do Governo desde ontem, Delcídio do Amaral foi pego em gravação sugerindo a Cerveró R$ 50 mil mensais para não aceitar a delação premiada e mais direito a fuga pelo Paraguai, segundo o Supremo Tribunal Federal (STF), em um jato Falcon 50. Iria para Madri, onde obteria com facilidade a cidadania espanhola e fixaria residência. Tudo isso é estarrecedor... tanto quanto a suspeita cada vez maior de que há um esquema de vazamento ilegal, nem um pouco republicano, de dados da investigação para investigados e outros interessados. Há, segundo a "Folha", forte suspeita de que policiais instalaram grampos ilegais em departamentos da própria Polícia Federal, para investigarem uns aos outros.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, foi muito claro ao comentar que havia até anotações manuscritas de Cerveró com o banqueiro. "Isso revela a existência de perigoso canal de vazamento, cuja amplitude não se conhece. É um genuíno mistério o fato de que um documento guardado em ambiente prisional, sob sigilo, tenha chegado às mãos de um banqueiro privado em São Paulo".

PS  - A República está em frangalhos, é um castelo de areia desmoronando. De qualquer lugar onde você aperta, esfarinha ou sai lama -- desde quem paga um despachante para liberar multas de trânsito e pontos na carteira até banqueiro "interessado" e empreiteiro falido. E todos replicam, em geral, o raciocínio tacanho e sórdido de nossas elites. Se mexermos, muito"santo" vai vira diabo e muito diabo vai se "purificar", não de todo, é claro. Não adianta o ex-presidente FHC chiar e tentar tirar proveito da situação, porque se houver mesmo rigor na apuração, ele também pode ser forte candidato ao banco dos réus, com chance de ir para a cadeia. A corrupção parece ser mesmo atávica na vida política e econômica brasileira, só que agora com valores estratosféricos e dando sinais de que o banditismo é logo ali [ou aqui?].

Com rigor, meio Brasil vai para a cadeia. Haverá cama para tanta gente? Nunca é demais repetir, quando privado e o público já não se distinguem mais: é hora de refundar a República, fazer as reformas política e tributária de verdade. Que tal começarmos por elegermos uma Constituinte exclusiva? E correndo...


AMIGO DA ONÇA?


José Carlos Bumlai: preso por fraude com R$ 12 milhões

A força-tarefa da Operação Lava Jato mira em financiamentos concedidos pelo BNDES a empresas do pecuarista, falido, José Carlos Bumlai. São alvos da investigação a São Fernando Açúcar e Álcool e a São Fernando Energia 1, empresas sob administração dos filhos do amigo do ex-presidente Lula. A São Fernando Açúcar e Álcool foi beneficiária de um primeiro empréstimo, no montante de R$ 64 milhões, em fevereiro de 2005. Isso ocorreu quatro meses depois de um empréstimo de R$ 12 milhões ter sido concedido pelo Banco Schahin a Bumlai – dinheiro que teria sido destinado ao PT. Segundo a investigação, para pagar a campanha presidencial. Uma operação fictícia de doação de “embriões de gado de elite” para agropecuárias do Grupo Schahin teria sido a forma de simular a quitação formal do empréstimo de R$ 12 milhões concedido, em 2004, pelo banco do grupo ao pecuarista. O dinheiro que nunca foi devolvido para Schahin teria abastecido os cofres do PT e de campanhas do partido, entre elas a reeleição do Lula em 2006, suspeita a força-tarefa da Operação Lava Jato, informa o "Estadão". 

Bumlai foi preso na terça (dia 24), na Operação Passe Livre, nome dado pelo fato de o pecuarista ter entrada livre no gabinete da Presidência, no primeiro mandato de Lula. Não há provas de envolvimento de Lula. “A Receita constatou que a empresa [SFAA] estava inativa na época, não tinha empregado, nem receita operacional quando recebeu o primeiro empréstimo”, assinala o procurador da República Diogo Castor de Mattos, da força-tarefa do Ministério Público.  Já em 2012, a São Fernando Energia 1 tinha apenas sete funcionários. Mas recebeu um aporte no capital social, elevando-o de R$ 10 mil para R$ 30 milhões, e começou a ter atividade operacional. Os fatos ainda estão sob investigação. Para obter os empréstimos, Bumlai teria usado o nome de Lula, sem que o presidente soubesse.
ENQUANTO ISSO LÁ FORA...
Oposição ganha eleição na Argentina e Turquia abate caça russo em seu espaço aéreo.
PROCURA-SE NOS JORNAIS BRASILEIROS
A obra: "O Acrobata do Amor"
Artista plástica, ela é a única "da terrinha" a ter uma obra na sempre grandiosa exposição anual de aniversário do Grand Palais, em Paris, na França. A 131ª mostra comemorativa teve sua vernissage na terça (dia 24). A comissão internacional da Sociedade de Artistas Independentes (Salão dos Independentes) já havia selecionado “O Acrobata do Amor”, tela de 1,30 x 2,00 m, pintada com técnica acrílica, crayon a óleo e grafite (foto à esquerda).

É o reconhecimento estrangeiro ao trabalho e ao talento de uma brasileira que atingiu a maturidade com suas telas gigantes, de até 4 metros de altura e cores vibrantes.  Embora seja possível ver alguma influência de Chagall e Matisse, os traços dela são originais e expressam feminilidade e também a sua vitalidade como artista. Não saiu uma linha na imprensa brasileira.

PS - Pergunto: qual é o nome dela? Aposto que não sabem. Acompanham a cena das artes plásticas no país? Ela se chama Angélica Pedroso. Há um silêncio dos cemitérios na mídia. A imprensa cultural morreu, por incompetência [ou desinteresse propositado?] para trazer à baila os novos talentos. A imprensa cultural brazuca dançou!!! Porque, repito, é cega, surda e muda!

A artista: Angélica Pedroso
O local: Grand Palais, em Paris

terça-feira, 24 de novembro de 2015

QUANDO A VÍTIMA TOLERA [ATÉ AMA] O CARRASCO

             
Sem opção; moradores defendem a permanência da Samarco em Mariana [MG], apesar da tragédia da barragem
               Centenas de pessoas vestindo camisas brancas com os dizeres “Justiça sim, desemprego não!" realizaram na semana passada uma manifestação pela manutenção da mineradora Samarco, em Mariana (MG). A passeata terminou aos gritos de “Fica, Samarco!”. Eram 1.000 pessoas, segundo a polícia. A situação explica: a cidade, sem ser auto-sustentável, está entre a cruz e a espada, Triste é ver a falta de opção para a sobrevivência econômica levar uma população a "abraçar o diabo" -- como se sem a mineradora Samarco não houvesse chance à vida e à economia, nem mesmo a possibilidade de outra mineradora [mais responsável, existe isso?] assumir a exploração de minérios no município. É uma espécie coletiva de "síndrome Estocolmo"? Esse é o nome dado a um estado psicológico em que uma pessoa submetida há um tempo prolongado de intimidação passa a ter simpatia e até mesmo sentimento de amor ou amizade perante o seu agressor.


                A síndrome não consta da lista de patologias psiquiátricas reconhecidas, por isso especialistas preferem tratar a pretendida síndrome como um "mito urbano", afirmando não haver base para classificá-la como um distúrbio da mente. A síndrome tem esse nome em referência ao famoso assalto a banco em Estocolmo, na praça Norrmalmstorg, e que durou de 23 a 28 de agosto de 1973, sendo o primeiro evento criminoso transmitido ao vivo pela TV naquele país. No caso, as vítimas defendiam seus raptores mesmo depois dos seis dias de "prisão física" terem terminado e, ainda mais, mostraram um comportamento reticente nos processos judiciais que se seguiram. O termo foi cunhado pelo psicólogo Nils Bejerot, que ajudou a polícia durante o assalto, e se referiu à "síndrome" durante uma reportagem.

              O caso mais famoso da "doença" ocorreu com Patty Hearst, que desenvolveu a síndrome em 1974, após ser sequestrada pela organização engajada esquerdista Exército de Libertação Simbionesa, na Califórnia (EUA). No cativeiro, ela ficou dias trancada num armário, no escuro, saindo de olhos vendados só para comer e receber ensinamentos políticos. Depois, passou a ter uma lanterna para ler os textos no "congelamento".  Como efeito da "lavagem cerebral", ela anunciou que mudara seus conceitos de vida e, com o apelido de "Tânia", juntou-se aos seus raptores, indo viver com eles e sendo cúmplice em assaltos a bancos. Nesse período, ela teria sido "estuprada". Neta de um magnata editorial americano, Hearst foi presa 19 meses depois de seu sequestro, julgada e condenada a longa pena de prisão. A sentença, que gerou polêmica, foi comutada pelo presidente Jimmy Carter. Anos depois, ela ainda foi perdoada pelo presidente Bill Clinton.

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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

BARREIRAS CONTRA UM DESASTRE AINDA MAIOR

                    Ameaçada de tomar multa diária de R$ 10 milhões [seria um jogo de cena?], a Samarco decidiu implantar barreiras de contenção ontem na foz do Rio Doce, no Espírito Santo, para tentar preservar a fauna e a flora locais e impedir a destruição de corais da "cortina de Abrolhos", que começa ali na foz do Rio Doce -- que, além de área de manguezais, também é ponto de desova de tartarugas marinhas. O arquipélago propriamente dito está a 300 km dali. O governo diz que não há chance de contaminação do arquipélago, mas quem acredita? 

        A instalação teve seu início na parte sul da foz, em Regência, e segue até Povoação, na região de Linhares. A implantação da medida e a escolha da metodologia foram feitas pela Fundação Pró-Tamar, representantes do Instituto Chico Mendes (ICM Bio), pescadores da região e a a mineradora Samarco -- responsável pela tragédia de Mariana e pelo maior desastre ambiental do país. As barreiras de contenção são feitas de lona 100% impermeável e fixadas no fundo do rio, próximo às duas margens. Sua altura é adaptada de acordo com a profundidade de cada ponto de instalação, o que permite uma melhor contenção dos rejeitos. A previsão é de que o trabalho seja concluído nos próximos dias. As barreiras ficarão instaladas até que a água recupere a qualidade adequada para a fauna e a flora. Além disso, estão sendo realizados, em outros pontos, testes com floculantes e coagulantes a fim de acelerar a clarificação da água. As barreiras serão suficientes?

      Também está havendo o resgate emergencial dos peixes e crustáceos da bacia. Em Linhares, as espécies resgatadas estão sendo levadas para tanques do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Imcaper) e, em Regência, para tanques do projeto Tamar. Essa ação tem como objetivo fazer uma espécie de banco genético de espécies que vivem no Rio Doce para que, no futuro, elas sejam devolvidas à natureza. Além disso,  especialistas estão recolhendo amostras de peixes e da água.

Auxílio piada

     Em resposta às recomendações do Ministério Público, a Samarco propôs, na última sexta-feira, o pagamento mensal de um salário mínimo para cada núcleo familiar e um adicional de 20% do salário mínimo para cada um dos dependentes, além de uma cesta básica. A Samarco diz que está trabalhando para que, até o início de dezembro, os desalojados e desabrigados comecem a receber os cartões com o valor do auxílio.

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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

O RESUMO DA ÓPERA -- SEMPRE ÀS QUINTAS

UMA LEITURA SEMANAL DOS JORNAIS - N8 - 19.11.2015

GEORGE ALONSO


Urna eletrônica terá máquina auxiliar que vai registrar em papel o voto dos eleitores: para eventual recontagem


  VOTO ELETRÔNICO, A CONTRAPROVA

      Embora apertada, o governo teve vitória significativa na aprovação em votações de vetos presidenciais que se derrubados pelo Congresso, inviabilizariam qualquer ajuste fiscal significativo pretendido pelo governo. Mas em uma coisa, a derrubada do veto presidencial ao equivalente em papel do voto eletrônico vai contribuir para o aperfeiçoamento da democracia. A exigência de comprovante de voto em papel, para eventual conferência ou recontagem da votação eletrônica, é uma decisão que vai custar aos cofres públicos cerca de R$ 2 bilhões, segundo o Tribunal Superior Eleitoral [TSE], mas foi uma medida importante. Não acredito que tenha havido fraude nas eleições para qualquer cargo político desde a introdução da urna eletrônica no país.

      [Me lembro como se fosse hoje a reportagem que durante eleição presidencial, se não estiver enganado em 1994, em que provei que havia em Tocantins e, por tabela em todo o país, cidades com número incompatível de eleitores diante de dados populacionais, o número de crianças, por exemplo. Na minha cola, outro jornalista fez um livro sobre o tema, que ganhou até prêmio. Diante da obviedade, o TSE optou por fazer um recadastramento nacional de eleitores. porque havia seis milhões de votos passíveis de fraude, inclusive em municípios paulistas. Também à época tentei fazer uma reportagem do mesmo tipo em São Paulo, e a direção da "Folha" vetou, talvez porque o vencedor do pleito fosse FHC, em 1994, em primeiro turno, devido ao Plano Real, na segunda eleição direta para presidente da República pós-ditadura militar. Havia receio de que uma reportagem desse tipo levantasse a lebre da fraude possível, que Brizola chegou a aventar em 1989, no famoso episódio que envolveu a TV Globo, mas ainda sem a urna eletrônica]. No pleito de 2014, a urna eletrônica completou 18 anos de existência.

      Sempre houve chororô dos perdedores de todos os matizes. Não acredito, para deixar bem claro, em conspirações com o voto eletrônico, até porque cada urna eletrônica é uma unidade fechada em si mesma, que só descarrega no sistema geral os números de votos de um distrito. Claro, sempre haverá algum modo de fraudar, mas não vejo tanta facilidade quanto na contagem manual -- e também do controle nominal dos votos.
   
     O fato é que a votação ficou mais rápida e a apuração muito mais veloz -- e aparentemente com bem menos possibilidade de fraude do que na contagem manual de mesários. Mas o fato também é que no mundo, embora se tenha em geral boa impressão [sem trocadilho] da urna eletrônica, sempre houve quem desistisse de sua implantação por considerar uma falha grave do sistema o fato de não haver o comprovante em papel do voto eletrônico correspondente. Ou seja, a possibilidade de conferência "material" do voto. Os Estados Unidos são um deles. Assim, pelo menos até o último pleito presidencial, houve sempre quem a boca pequena levantasse alguma suspeita, embora o TSE sempre negue a chance de fraude e ofereça a quem quer que seja a possibilidade de conferência nas totalizações [pessoalmente, acho muito mais provável que possa ter tido tentativa de manipulação nas pesquisas de intenção de voto e de boca de urna do que na urna eletrônica]. Até porque os resultados já mostraram vitórias de candidatos das mais variadas vertentes políticas, e em geral aparecem dentro da tendência apontada pelas pesquisas.

      A partir do próximo pleito presidencial, de qualquer modo, um novo equipamento digital acoplado à urna eletrônica vai registrar o voto do eleitor, sem permitir sua identificação, é claro. Porque aí sim seria a volta do coronelismo. Mas enfim uma das questões que sempre ficava sem resposta, agora será respondida; se alguém questionar a votação em algum local poderá requerer ao TSE a recontagem e conferir o registro em papel dos votos. Claro que o comprovante do voto não ficará com o eleitor, ficará registrado nos computadores do TSE. Eis aí um gasto que se deve pagar em nome da democracia e da transparência, desde que não seja ferido o princípio do voto secreto.



Rio Doce????

LATA D'ÁGUA NA CABEÇA

           A fotografia feita no Rio Doce é auto-explicativa. A Vale, umas das donas da mineradora Samarco, a responsável pela tragédia de Mariana e do maior desastre ambiental da história, anunciou que já comprou 14,5 milhões de litros de água mineral para serem distribuídos em cidades de Minas Gerais e Espírito Santo, por onde passa o Rio Doce, que foi atingido pela onda de lama de metais pesados. Várias cidades tiveram de suspender a coleta de água no rio. A Vale afirma ter entregue já 2,2 milhões de litros de água mineral e prevê ainda a perfuração de poços em locais afetados pelo mar de lama tóxica. Depois da barragem arrombada...


MEGA PETROBRAS

          A MegaSena vai pagar o maior prêmio da SUA história: R$ 170 milhões, no próximo sorteio. Aplicado, esse dinheiro renderia R$ 1,5 milhão ao mês. E ainda sim é "titica de galinha", se comparado com as cifras da corrupção na multinacional brasileira Petrobras. Isso é que é um megaescândalo...

E AGORA GOVERNADOR?

Da lista das 94 escolas estaduais que devem ser fechadas pelo governo paulista, conforme decisão de Geraldo Alckmin, 67 foram ocupdas por seus alunos...


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terça-feira, 17 de novembro de 2015

11 MORTOS, 20 SUMIDOS, RIO MORTO! E ABROLHOS?

     


        O Rio Doce está morto, porque a lama "inerte" segundo a empresa mineradora Samarco na verdade tem ferro, chumbo, magnésio, cádmio, mercúrio, alumínio e outros metais pesados em níveis acima dos toleráveis... ou seja, vão se infiltrar no solo, nas plantas e nos animais. A morte de pessoas contaminadas é lenta, Significa que as pesssoas vão viver 10 ou 15 anos menos do que sua longevidade presumível. O Rio Doce está morto porque todos os peixes depois das barragens vão morrer ou vão ser contaminados

        Uma terceira barragem está rachada em Mariana (MG). O que garante que ela também não vai estourar? Ah, parece piada [de péssimo gosto]: a empresa que havia dito que a barragem Santarém havia estourado, agora diz que "não estourou"? Por que está no limite e os rejeitos da mineração estão vazando "por um ladrão"?

         Ladra foi a Samarco. Que roubou as casas de 700 pessoas, nos distritos de Bento Rodrigues e Paracatu, que roubou a vida de 11 pessoas, e que tirou de cena pelo menos outros 20 desaparecidos. Procura-se uma sirene, que jamais foi instalada na jusante das barragens para avisar a população em caso de falência da muralha de contenção. [Mesmo que a sirene existisse, ela deveria ter sido testada com periodicidade, como numa brigada de incêndio, mas ela jamais existiu!] Procura-se um plano de emergência superior a duas ligações para dois celulares de moradores. Procura-se transporte e um treinamento de retirada em massa dos moradores abaixo das barragens.

         Procura-se quem foi o responsável por tamanho desastre humano e ecológico, Procura-se gente séria, que não "lave as mãos", enlameadas pelos metais e pelo sangue dos mortos, todos pobres, ou perto disso. Procura-se gente menos cara de pau, menos omissa ou menos mentirosa, quando tratar do assunto, a trágica avalanche de 15 metros de altura que devastou dois bairros de Mariana, e avança pelo Rio Doce rumo ao Oceano Atlântico.

        Um bilhão de reais, quantia inicial que a Samarco promete dispor para ressarcir os moradores e programas de recuperação ecológica, é o preço real da tragédia? Paga a reconstrução das casas dos desasbrigados, paga a matança de peixes, paga a "pavimentação" dos rios da Bacia do Rio Doce? E quando a lama atingir o mar, o que poderá acontecer ao arquipélago de Abrolhos, reserva de incrível diversidade de vida animal e vegetal? Como evitar um desastre ecológico ainda maior, que pode exigir séculos para que a natureza se recupere?

Peixes mortos: nem Arca de Noé salva o Rio Doce



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MAR DE LAMA COM ONDA DE 15 METROS: QUEM ERROU?

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sábado, 14 de novembro de 2015

ENTÃO NÓS, BRASILEIROS, SOMOS LAGARTAS?!



Milho GM: afeta os filtros do corpo  humano, como fígado e rins



      O milho, um dos alimentos mais antigos da humanidade, tem hoje quase toda a sua produção destinada ao consumo animal no Brasil. Só 15% é para o consumo humano. Defendido por conter vitaminas A e do complexo B, proteínas e minerais como o ferro, fósforo, potássio e cálcio, o uso do grão transgênico de milho sofreu um golpe nas últimas pesquisas internacionais.

     Um artigo publicado no International Journal of Biological Sciences mostrou que o consumo da semente modificada tem efeitos negativos sobre o fígado e o rim, os filtros do corpo humanos. Embora as propriedades nutricionais sejam mantidas, estudo francês revelou que os grãos do milho transgênico apontam claros sinais de toxidade. O biólogo molecular Gilles-Eric Séralini e sua equipe puderam divulgar a pesquisa depois que uma decisão judicial obrigou a Monsanto revelar sua própria análise dos grãos, que manteve em sigilo impedindo que a informação se tornasse pública.
   
    Os franceses divulgaram a comparação dos efeitos das sementes MON 863, NK 603 e MON 810 na saúde de mamíferos, sendo as duas últimas permitidas no Brasil, assim como sementes resultantes do seu cruzamento. No caso do NK 603, os dados apontam perda renal e alterações nos níveis de creatinina no sangue e na urina, que podem estar relacionados a problemas musculares. O quadro para o MON 810 não muda muito. Em experimentos feitos com ratos, os machos em geral se mostraram mais sensíveis, mas foram as fêmeas que apresentaram ligeiro aumento do peso dos rins, que pode corresponder a uma hiperplasia branda, presente quando associada a processos imunoinflamatórios. Os autores concluíram que os dados sugerem fortemente que estas três variedades de milho transgênico induzem a um estado de toxicidade, que pode resultar da exposição a pesticidas (glifosato e Bt) que nunca fizeram parte de nossa dieta.

     Já a Comissão Técnica de Biossegurança (CTNBio) informa que “o milho NK603 é tão seguro quanto às versões convencionais”, que a modificação genética “não modificou a composição nem o valor nutricional do milho”, que “há evidências cientificas sólidas de que o milho NK 603 não tem efeitos adversos à saúde humana e animal” e que “o valor nutricional do grão derivado do OGM referido tem potencial de ser superior ao do grão tradicional”. A CTNBio avaliou MON 810 “os efeitos intencionais da modificação não comprometeram sua segurança nem resultaram em efeitos não-pretendidos” e que a “proteína é tóxica só para lagartas”.

     O que esperar da CNTBio, que autorizou o plantio do milho geneticamente modificado no Brasil? Ou ainda aquela cantilena famosa e mentirosa de que os grãos OGM vão permitir o uso de menos áreas cultiváveis. E com isso a fome seria extinta no mundo.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O CARNAVAL E A BOLSA

            
Funcionários  da estação de trem de Coroador, da estrada de ferro Noroeste do Brasil, posam para foto em 1975
               Carnaval no interior paulista, meados dos anos 1970. Coroados, a cidade que se recusou a crescer. Sim, ela recusou uma fábrica de sapatos e empacou, até diminuiu. A vizinha Birigui cresceu, floresceu, caminha a passos largos. Carnaval de salão em Coroados. Chão de terra batida. A música tocou. Poeira, poeeeeeira, o som da banda levantou poeira, literalmente... até que saí lá fora pra tomar um ar, e um pouco de água. No bebedouro, fiz uma gracinha para uma moça amiga da família que me hospedava em sítio próximo à cidadezinha de quatro, cinco travessas e a avenida principal [por onde, durante o dia, vi passar charretes].

             Ela me respondeu:

             --  Olha, que eu te dou uma boooorçada!",  disse ela,  sorriso maroto, meia boca, brincando e não brincando.
             --  Você vai me dar uma boooooooorrrrçada?", perguntei rindo, quase gargalhando. Achei o máximo... o carnaval, a moça da bolsa e bolsa da moça....

PS - Hoje,
 Coroados, que já teve densa floresta povoada pelos ferozes índios caingangues, tem cerca de 4,6 mil habitantes, praticamente a mesma população de1975. Birigui tem atualmente estimados 118 mil moradores.