terça-feira, 30 de agosto de 2016

PROCURO A SUA VOZ


        Nunca imaginei que um dia estaria procurando a sua voz. Há seis meses você não fala comigo. E, o pior, confesso, eu já me esqueci do som dela. E isso é algo que me tortura. Como em tão pouco tempo não consigo lembrar-me mais dela? Tento buscá-la através de fatos importantes de nossas vidas, mas nem assim resgato o som de sua voz. Recordo-me de frases completas, de pensamentos, mas não do som, nem o tom. Se tiver me ouvindo [eu sei que está], vou revelar, então, um segredo meio antigo: certa vez, mantive durante alguns meses uma gravação deixada por você na caixa-postal do meu celular, para poder matar a saudade quando quisesse. Mas um gaiato levou meu celular e com ele a sua voz. Hoje, após dias e dias a fio sem ouvi-la, penso como gostaria de escutá-la mais uma vez, mesmo que por apenas segundos, pelo menos um aceno de amor: "Oi, como você está, filho?", seguido de um beijo carinhoso no rosto, ou na testa. Como seria confortante.

       Quantas coisas boas você me disse, quantos pitos na infância, quantos toques na adolescência ["acho que sua vida anda um pouco desorganizada", foi o bilhete sutil que deixou na cabeceira da cama, quando eu vivia indo a festas e dormindo tarde todos os dias] e quantos conselhos na maturidade. Quantas risadas gostosas nós demos [lembra-se quando, durante uma viagem de carro a Búzios, você me acordou, à noite, em Itaboraí, para mostrar a antena parabólica gigante, toda branca, que fazia transmissões via satélite, uma novidade no início dos anos 1970? Você apontava pra antena de um lado, eu olhava para outro e dizia "estou vendo, estou vendo, que linda", para gargalhada geral, sua e de meus irmãos? Você lembra da chicotada que deu em meu rosto, sem querer, tentando acelerar o passo de um pangaré que puxava a charrete em Cambuquira? Eu chorei e você riu, meio sem graça, enquanto pedia desculpas. Hoje, dou risada sozinho desses episódios. Consigo visualizar seu sorriso mas, é terrível, não lembro mais de sua voz. Olha, moramos tanto tempo longe um do outro depois que cresci, você mudou-se para outra cidade, coisas da vida, e eu fui buscar meus sonhos, cometer meus erros e tentar encontrar o meu lugar no mundo.

       Agora, vendo-o deitado nesse leito de hospital há meses, abrindo os olhos ao chamá-lo, mas sem dizer uma palavra, qualquer que fosse, fico imaginando-o como um pássaro preso na gaiola, sozinho, triste e sem cantar. Eu sei que, rigoroso como é, não diria, mas eu adoraria que [para demonstrar sua irritação com o estado das coisas] você gritasse um palavrão. Que tal um puta que pariu!!!!!? Ou dar um basta com um caralho! Chega! Às favas com o que dizem os médicos... Lá no começo dessa tragédia, eu o vi se mexer como quem quisesse dizer algo, mas parece ter se cansado, selado dentro de si mesmo, frustrado com a condição de incomunicabilidade.Talvez eu esteja vendo demais, talvez porque o tombo que o imobilizou e o emudeceu também tenha me aberto os olhos e me roubado as palavras. O que dizer? Contar o meu dia, contar histórias, ligar a TV e assim encobrir esse silêncio tão doído. Perdão pai, se não estou te entendendo! A vontade é de gritar... mesmo que ninguém me escute, mesmo que eu pareça um louco.

      A vida, muitas vezes, vai emudecendo as pessoas. Tirando-lhes a vontade até de falar. Uma tristeza, um desapontamento, uma desatenção, um desenlace amoroso que não se espera... Às vezes o sentimento é de que a vida é uma misteriosa caixa que, aberta por um desavisado, espalhou pelo mundo todo o tipo de mal e desgraça. E pior, após o susto, fechada rapidamente, aprisionou logo seu único bem: a esperança. Não me entenda mal. Não desisti, mas a cada dia que passa sem que você diga uma única palavra, penso, quem me dera ter poderes para tirá-lo dessa clausura: o seu silêncio me silencia, é morte em vida.

 Que saudade de sua voz, pai!


 [se gostou, compartilhe ou dê "share"]   

domingo, 28 de agosto de 2016

AMOR, ESTRANHO AMOR


Não se sabe quando, mas algum dia depois de uma satisfação ligeira vem o gosto azedo e corrosivo do arrependimento, da sensação de incompletude que a coisa passageira parece dar ao desavisado. Quantas mentiras foram ditas, quantas falsos juramentos foram feitos. Quantas palavras ao vento. Calma, não se aborreça. Não se interesse por isso. Afinal. a quem quis enganar? Só enganou a si mesma. Apressada, fez a troca dominada pelo impulso, e a noitada não deu em nada. Não foi nada daquilo, bateu na porta errada. E, se não foi desta vez, quando será o novo descarte? De repente, você está diante de perguntas mais pesadas sobre o sentido daquilo tudo. E o vazio já terá voltado sorrateiramente para dentro de casa, outra vez. Qual é afinal a direção certa, sem escalas, da felicidade e do fim da monotonia? Quem sabe o caminho das pedras? Ou só há pedras no caminho? E atiramos pedras para todos os lados e -- só para tirá-las do nosso sendeiro -- é aquele selvagem salve-se quem puder?

Aquele rapaz já havia sido preterido. Quem nunca foi? Ele lembra agora o que ouvira de uma ex-namorada adolescente que reencontrara numa padaria já mulher: "Não sabia que havia te magoado tanto!", disparou ela. Foram três longos anos sem receber dele um pio, um sinalzinho de vida. Ela, então, pediu desculpas, naquele reencontro por acaso com aquele homem [que a perdoara, mas para sobreviver precisara sumir para estancar o sofrimento]. Fora uma decisão dele, difícil de seguir à risca. Aos olhos dela, naquele momento, então, ele lhe parecia ainda mais bonito do que no passado, diferente. Como não notei isso antes?, pensou ela: ali percebera aquilo que até havia se dado conta antes, mas fingira não entender, repetindo à náusea a lenga-lenga de sempre "eram momentos diferentes". [Que gosto temos pelo auto-engano, não é?] Que ele, sim, a amara como nenhum outro, que desperdiçara uma chance. Por que é sempre assim? A gente só se dá conta depois? [Mas aquele homem ainda via beleza naquela mulher, claro que ela não era mais a mesma, mas ainda sentia atração por sua magreza sinuosa, seu olhar esverdeado e aquela boca... Claro eram tantas e boas lembranças, até mesmo do dia em deixaram uma festa e meio embriagados foram expulsos de uma delegacia, "saiam daqui!", onde pediam "queremos nos casar, o delegado está?"]

De lá para cá, quantas promessas não foram cumpridas. Muitas, poucas, grandes, pequenas? Tanto faz, estava feito. Novos momentos sublimes podiam vir? Sim, e vieram, juntos até o dia em que um câncer fulminante a matou em menos de três meses. Ele chorou muito. ela havia sido o seu grande amor da juventude. A segunda chance fora boa, mas curta. A vida é tão simples. Ele queria mais... Morreu do coração, dormindo, dois meses depois dela. Deixaram filhos, mas de outros casamentos.

[se gostou, compartilhe ou dê "share"]   


TÃO PERTO, TÃO LONGE


Ele sente a sua presença. Apesar do silêncio, ele sabe que ela está por perto. Sinal de que ainda está conectado, de coração e mente. Já ela... tão perto e tão longe. Seu bobo, ainda esperava uma visita surpresa? Não, como ele não sabia o que a movia tão distante de sua própria casa numa noite de inverno? Mesmo que seja pura imaginação ou fantasia ruim, não importa, esqueceu-se do que sugerira, com uma frase solta, com a separação inexplicada? Perto, mas não mais com ele. Que lamenta. De que isso adianta? Deixa o tempo passar, dizem "que tudo passa". Passa? E a ferida lá aberta. Quem sabe o tempo não irá amenizá-la -- isso acontece com poucos, é verdade, mas ocorre [há quem perdoe, mas não esqueça jamais!]. E, por que não?, há também quem a esqueça! No teste de múltipla escolha da vida, as três respostas são possíveis e estão certas. Deixe, portanto, de pensar onde estará, nem no que estará fazendo. Esfria-te neste momento, o coração não aguenta, assuma que perdeu. Chega! Uma hora ele, o músculo da vida, volta a esquentar e, nunca se sabe, o que era passado vira futuro de novo, e o que era futuro dela se transforma em pretérito imperfeito.

De nada adianta ter raiva. Fazer figa, torcer contra. Encher a cara. Chorar no bar com os amigos e as amigas, reclamar com o garçom do boteco predileto. Perambular pela noite com um animal faminto. Não há crianças na pista de dança, ainda mais com essa idade e a essa hora da noite. Quando alguém faz muita economia com as palavras já era, o outro já virou miragem, mesmo quando trocado por outra miragem pior, às vezes muito pior. Não importa a circunstância, se já estava engatilhada ou não. Em algum momento houve outras tentações, mesmo que recheadas de ilusionismo e falsas promessas. "Quando alguém diz que torce pela sua felicidade" é como aquele que afirma "a gente vai se falando": é melhor pôr a roupa de domingo, mudar de assunto ou ir dormir. Não rola, muito menos deita. Que pena? Que pena nada! Não vale a pena...  Ah, não tem sono? Trate de tomar um vinho, relaxar e rir. Agora não haverá mais cobranças "demasiadas". [E você até gostava de algumas, era sinal de que "o gostar" ainda estava ali]. Às vezes, quando não há compromisso, tudo fica mais fácil, até seu olhar vai mudar diante dela. Com todo o respeito, é claro. E o dela também. Sem grandes sonhos, mas também sem pesadelos. Quem sabe, até boa diversão seja possível...

Sozinho? Ok, pense assim, essa prestação não será paga mais em 12 meses, com juras [de amor]. Sem cobrança, a dívida acabou. Foi quitada ou suspensa antes do prazo. Claro, ela saberá na hora certa como identificar quem é quem diante da balança. E aquelas fotos todas espalhadas por vários arquivos do computador? Abra uma pasta única, jogue todas lá dentro. Só não as apague, seja porque você não desapega nunca, ou seja porque é você é daqueles que pensa, "nunca se sabe, até os mais experientes reabrem crediários antigos". Nunca se sabe.

De repente, você acorda assustado no meio da madrugada, um bocado suado, quase cai da cama e pensa... Putz, então tudo isso não passou de pensamentos vãos, horríveis? Foi mais uma "turbulência noturna"? Que bom! Vire de lado, ajeite a cabeça no travesseiro e volte a dormir, agora mais leve, porque amanhã está previsto um domingo de sol e calor!  E nem tudo está perdido.

[se gostou, compartilhe ou dê "share"]   




quinta-feira, 25 de agosto de 2016

KIKOS MARINHOS E POKEMONS


             Cada época parece ter a "loucura virtual" coletiva que merece. No início dos anos 1980 surgiram, de repente, os "kikos marinhos”. Estava na faculdade de comunicação e só se falava desses seres, de suposta origem pré-histórica, que faziam sexo o tempo todo dentro de um saco plástico cheio de água salgada. Todo mundo dizia que já tinha visto. Inclusive, eu. Nunca vi um kiko, mas vendeu como água. Foi uma febre, os tais kikos eram comprados nas bancas de jornais. O kit era composto por dois envelopes pequenos, parecidos com os pacotinhos de gelatina. Um com ovos desidratados do atlético animalzinho marinho [chamado também de humanóide] e outro com comida ideal para alimentá-lo. Foi um caso típico de 171, estelionato puro. Naquele tempo, ainda não havia pelo menos no Brasil [o caso Kikos foi um fenômeno internacional] o Código de Defesa do Consumidor. E muita gente levava para casa gato por lebre e ficava por isso mesmo. Depois de adquiridos os saquinhos, misturava-se o pozinho do envelope com os ovos dos bichinhos num copo com água. Durante dias, ou mesmo semanas, os que acreditavam no conto ficavam olhando aquela água parada à espera dos humanóides rabudos surgirem e começarem a brincar de reprodução -- fazendo as "acrobacias" prometidas. Na verdade, nada acontecia e a água apodrecia e era jogada fora pelos pais, inconformados. Houve gente que levou um saquinho com os supostos bichinhos na faculdade. "Você não está vendo, mas eles estão aí", diziam eles, tentando convencer colegas. Não me convenceram. Como eu, muita gente fez de conta que sim -- talvez só para manter-se na onda ou para fazer chacota. "Claro, estão ali, olha lá, dando cambalhotas". 

      Foi como no conto infantil "A Roupa Nova do Rei", que zomba da vaidade humana -- quando dois malandros chegaram a um reino e enganaram a todos dizendo que fabricavam um tecido de ouro. Ninguém via o tecido. Mas diante do rei pelado, seus assessores receosos em desagradar a majestade, diziam que estava lindo e reluzente, até que alguém [um garoto considerado honesto pelo povo] ousou gritar "o rei está nu!" durante o desfile público de apresentação da vestimenta e a farsa foi desmascarada, para o vexame do imperador. Nessa época, no entanto, os "kikos marinhos" inspiraram minha imaginação em outro sentido. Lembro-me que fiz uma adaptação: passei a usar a expressão "kikos terrestres" para denominar um episódio ocorrido com a namorada da época. Aos 18 anos -- no auge da adolescência e das descobertas desse  período -- passamos quatro dias trancados num quarto, na cama, num feriado prolongado frio e chuvoso da Independência do Brasil. Mal saíamos para comer ou mesmo tomar banho.

     Hoje temos os “pokemons go".  Bem menos divertidos que os "kikos marinhos", na minha opinião. Só não é estelionato porque eles são assumidamente virtuais, mas tem gente ganhando uma fortuna com essa brincadeira sem graça, que leva pessoas a parecerem zumbis perambulando nas ruas com seus telefones celulares. 

[se gostou, compartilhe ou dê "share"]  

DO QUE SE LEMBRA?


      É desses gestos que ele se lembra. Do cheiro dos cabelos enquanto repousa sua cabeça no ombro dele após uma delicada sequência de beijos sequinhos -- ou mesmo só por sono. É de sua mão percorrendo o contorno da face com suavidade, como quem identifica e faz a "colheita de rosto", antes da entrega. É daquele abraço apertado sem muita explicação ou justificativa ao revê-lo. Aquele olhar ressabiado entre aspas ao dar uma opinião, esperando uma resposta. Da calma extrema de pensar e agir nos momentos em que parece que um cano estourou ou que o mundo parece desabar. É da nitidez dos sentimentos e da clareza das palavras ditas de forma pausada, quase soletradas. É disso que se lembra. É da mania paulistana de, às vezes, comer os "plurais". Ao inferno com as concordâncias verbais, devoradas pelo hábito, se o que importa é o sentido. É disso que se lembra. É de estar presente e tranquila quando para ele o mundo travava. Ou de não se importar muito com isso. Ou só dizer com doçura "anda direito homem" [e aquilo ter o efeito de uma ordem divina]. Ou fazer piada e rir de "seu ratinho" a caminhar... psssspsss  É disso que sempre se lembra. É da felicidade de receber flores e um vidro de temperos. E do olhar iluminado ao comentar sobre viagens que gostaria de fazer? [pena que se quer deu tempo de planejá-las]. É das sessões de cinemas luxuosos, onde dois filmes aconteciam, um na tela e outro no sofá da sala de projeção, marotos no escurinho. É disso que se lembra. Do perdão, às vezes demorado e estridente, por desapontamentos. É disso que se lembra. É do passeio de bicicleta que virou uma corrida contra o relógio atrás da cria em desenfreada carreira no parque. É do sorvete que ele sonhava que gostaria, mas que ela não gostou tanto. E do "tá bom", quando concordava discordando. É de repetir o nome dele soletrado e com entonação, antes de falar de algo importante, para o qual queria chamar a atenção. De fazer comida com gosto para agradar o paladar de outros. É disso que se lembra. É de fazer [de vez em quando] troça de coisas sérias. Rir do que supostamente não se podia [ou pode] rir. Não por maldade, não dos outros, mas de si mesmo. De trajar um vestido ao contrário por achar mais bonito assim e pronto. É disso que se lembra. Da habilidade de contornar chatos e chatices com diplomacia. De acordar tarde quando tinha dito que era preciso sair cedo para viajar. De quebrar regras, de repente, a moral e os bons costumes só como diversão boba, e rir disso. É disso que se lembra. De bilhetes saudosos, ou recados digitais como "ai, que vontade de morder" ou "eu preciso te ver por motivo urgente"... De ficar molhada da chuva sem se importar ao receber flores em casa, quando tudo parecia perdido, jogado por terra, sob a pá de cal. É do último beijo que se lembra. Procura-se um sorriso largo e bonito. Procura-se a felicidade.
     É disso que aquele homem se lembra. De pequenos gestos diários. Não, não quer lembrar mais, quer voltar a viver. E a vida dá voltas. Mas tem volta? A vida [revira e] volta? E o ombro dele agora está vazio. Dá de ombros? Do que se lembra mais, sei lá! Repete: de vê-la receber, mezzo alegro mezzo andante, lembranças de viagem e um buquê de rosas à noite de um domingo ensopado no portão de casa [de novo, quando tudo parecia perdido, jogado por terra, sob uma pá de cal]. Outra vez, é do último beijo que se lembra. E não esquece jamais o gosto, agridoce.
      Discordâncias? Inúmeras, mas pouco importam agora. Não se vive delas, não se leva nada delas.

[se gostou, compartilhe ou dê "share"] 

terça-feira, 23 de agosto de 2016

DOCE CATIVEIRO



              Eram 9h da manhã de um domingo que começara ensolarado. O galo já havia cantado e o sino da igreja já dera várias badaladas. O rapaz mal acordara de uma noitada daquelas. Depois de bebericar e conversar horas a fio degustando bolinho de bacalhau com a mulher que gostava loucamente, foram para casa, onde se amaram como sempre. Da sintonia mágica, ironizavam: "Definitivamente, a gente não se entende!" Na casa da moça, ele já estava à vontade, como num recanto predileto, um descanso para o corpo e para a alma. Não por luxo, embora a casa fosse confortável, mas porque ali não sentia-se como as pessoas nascem e morrem [e muitas vezes vivem]: sozinhas. Ali estava ela inteira. E ele idem. Ali havia tantas carícias quanto confidências, tanto suor quanto sonhos. Ali a realidade ganhava novas dimensões e possibilidades. Ali se contornavam -- pelo menos no jorro dos pensamentos e na avalanche dos corpos -- os impedimentos. Ali, juntos, era como se a vida ganhasse mais energia. Pareciam dois adolescentes testando sabores novos e cores improváveis. Por isso, ele cortava a cidade sem vacilar, percorrendo 20 km, ora cansado ora triste com as condições, nem sempre favoráveis, que a vida lhe impunha. Por que ali até o silêncio era um sinal de alegria... Puft!
            De repente, um susto! Toca a campainha. No portão, está a mãe daquela moça madura, aos olhos dele exuberante e generosa. Como no cinema, ele pula da cama, pega as roupas e tudo que pudesse dedar a sua presença ali, vai para um dos quartos do sobrado sem dar um pio, em segundos. "Mas ela não tinha dito que jamais viria alguém de surpresa? Ainda mais tão cedo", pensa, enquanto a adrenalina percorre seu corpo. Passa 40 minutos cativo, sem quase se mexer, sem tossir, sem respirar forte, sem dar um espirro, sem um ruído.
           O que diria se aquela senhora subisse e, por acaso, ele acabasse de algum modo flagrado escondido trancado naquele cômodo como um adolescente assustado? "Me desculpe, amo sua filha, quero morar com ela, quero que seja a minha esposa!", imaginava, rindo por dentro diante da situação inusitada e inesperada. No fundo, até gostaria que assim fosse, mas não desse modo. Ainda não havia perdido de todo o juízo. Ou então, mesmo depois dos 40 anos, inventaria uma história da carochinha? "Bom dia, não é nada disso o que a senhora está pensando. Saímos ontem, passei mal e sua filha sugeriu que dormisse aqui" [só não saberia explicar por que aceitara a sugestão tão prontamente e de bom grado]. O rapaz tinha certeza de que a mentirinha não iria colar, mas pelo menos era uma saída honrosa, ainda que com um inevitável constrangimento. "Já estava indo embora, já estou melhor, bom dia, bom domingo..."
         Depois que tudo acabou, os namorados, aliviados, começaram a rir da surpreendente blitz materna. Para o rapaz , o "sequestro relâmpago" havia terminado. Eles não estavam mais em maus lençóis. Nunca estiveram...

[se gostou, compartilhe ou dê "share"] 

domingo, 21 de agosto de 2016

A ERUPÇÃO NO NATAL



A paixão é como um vulcão em erupção intensa. É a felicidade elevada à enésima potência. Ela exala "cheiro de alegria" e quem está ao redor percebe. Ela move aquele rapaz e aquela moça que se conheceram na cidade bruta, implacável, congestionada e que une e separa pessoas na velocidade da luz. Ali o fôlego da novidade gerara energia suficiente para a ilusão da infinitude do amor. Ela estava no trânsito na hora de pico voltando para casa eufórica com a descoberta, seduzida pelas conversas diárias com aquele que mexeria para sempre [nessa hora tudo é eterno] com a vida dela. Ele, já em casa, aguardado ansioso o contato com furacão Jane, apelido que deu àquela mulher que representava mais impulso ao seu "renascimento". Por uma fração de segundo, o rapaz lembrou da tradição de dar nomes femininos a furacões. Mais do que pertinente, afinal ela entrara como um vendaval na vida dele, varrendo parte de suas dores e lembranças do passado. Agora, os tempos verbais eram diferentes, presente e futuro. Além disso, Jane trazia à memória um seriado de TV que ele adorava na infância: Tarzan enfrentava e vencia, ao lado de sua mulher Jane, os perigos da selva. Eram 5h da tarde, ela -- bem distante e ao volante -- aciona então o sistema digital de conversas pelo celular e começa a teclar.

"Oieee... meu amor!"
"Oi, ocupada?"
"Oi, fala amore!"
"Oi, o check-in será às 14h do dia 24 e o check-out ao meio-dia do dia 25 [ele contava que tinha feito a reserva para uma 'loucura' proposta por ela]. Ou seja, podemos entrar às 14h para 'o esquenta' até as 17h, e voltar após a ceia de Natal para 'o abraço' (digitou kkkkk). Muita vontade de te ver... você está aí ou acabou a bateria? [do celular]. Ele estranhara pelo horário, eram 20h25.
"Oi, você acredita que acabou a gasolina do carro!?' [e ria e ria, engarrafada no tráfego ainda pesado]. Sem celular [também com a bateria arreada], ela pedira emprestado um aparelho a moço e chamara um rebocador para levar o veículo a um posto de reabastecimento. "Cheguei só agora em casa!"
"Onde parou?? kkkkkkk
"Na Ponte Cidade Universitária."
"Putzzz!!!"
"Nem me fale... Eu sempre peço para  completar [o tanque] e vou rodando... e a luz piscando [no painel, alertando sobre o fim do combustível]. Enfim, acabou, o nervosismo se foi. Nem posso falar disso na casa dos meus pais. Acho que já fiz umas 50 vezes [ela ri]. Meu pai fica puto da vida, Eu já nem conto, digo que me atrasei, que estava longe numa visita a trabalho [kkkkkk], senão é blábláblá."

Dois atos falhos em uma semana mostravam o quanto o novo amor, aquela paixão deliciosamente desenfreada, a deixara atordoada. Esquecera de encher o tanque do carro. Outro dia, não fosse um telefonema caseiro, teria esquecido a filha na escola [coisa que jamais faria]. O rapaz brincou, então, repetindo o que já dissera a irmã dela ao comentar seus estranhos e repentinos esquecimentos. "Você está apaixonada! Você está há 30 minutos falando dele e quase esqueceu a filha na escola!". Ele emendou. "Só você. É história para os netos", disse o rapaz, se apropriando de uma das frases prediletas de Jane para justificar algumas de suas sedutoras atitudes. "Ai amor, tenho preguiça de parar no posto e aí acontece isso. Depois eu fico nervosa comigo mesma. Mas tudo bem, já foi... Até a próxima [kkk]. "Meu amor, você tem certeza que quer continuar comigo?" [ela ri com intensidade, após o episódio da pane seca]. Ele, de bate-pronto, diz: "Por que não?"

"Onde você está? Vai dormir logo? Posso te chamar às 22h30? Vou comer algo, tomar um banho. Caso contrário, tudo bem, amanhã nos falamos", aliviou Jane. Eram 20h45.
Deu no relógio, 22h08, e o rapaz não se aguentou. "Oiiiiiii."
A resposta veio às 22h22. "Oi, amore, onde você está?"
"Aqui te esperando. Me liga, meu amor, sem pane seca!", disparou o rapaz, com singela ironia.
"Que foto é essa?", disse ela, reagindo a uma imagem que toma a tela do celular.
"Um teste, como não consegui apagar, enviei. É minha coxa direita" [kkk digita já deitado no leito].
"Você é maluquinho. Não dorme? [ele já tinha dormido sentado] Vou fazer  chocolate para a minha filha. Sério, me espere, volto em 10 minutos". São 22h52,]
"Dê-me um pouco de sua atenção", buáááá, brinca o rapaz.
"Darei, meu amor. Me espere, não durma, ouviu?" Já venho!"

Como uma lava de vulcão, o sangue ferve e revela o quanto a paixão tomara seu lado esquerdo do peito e também o quanto as emoções já dominavam seus pensamentos mais que imperfeitos. "Preciso te beijar correndo, sinto sua falta. É caso de Janetite aguda", escancara o rapaz. "Ohhh, não fala assim, que loucura!", afirma ela, repetindo, com carinho, dua vezes o nome daquele homem que bagunçara seu coreto nas últimas três semanas e meia de amor na máxima voltagem. Bate gongo das 23h: Por que me perguntou se quero ficar mesmo com você?" "Estava brincando, mas ainda está em tempo! [de desistir]. Ambos gargalham à distância.

Meados de novembro. E a conversa digital ganha contornos ligeiramente mais sérios, assim como mais de 50 tons de cinza. "Não virou o ano e ainda vamos fechar nosso caderno para balanço" {ela diz e ele ri]. "É uma boa época. Vamos ficar sem nos ver, você vai viajar com seu filho, na volta, sentamos e fechamos. O que acha?"  [ele envia um sorriso de novo, concordando]. "Já vamos estar  mais estruturados..." "E se a conta fechar, o que acontecerá?" Ela não titubeia: "Nos conhecendo melhor, mais amor, mais beijos, mais entregas". Ele segue o fluxo: " Mais, mais e mais loucuras, mais carinhos".

Jane então bota mais lenha na fogueira. "Sou muito reservada. Quem sabe começo a adquirir confiança, mais e mais". Ele, afoito, reage: "Aí começa a adquirir?""Não, amore, não me interprete errado. Confiança, mais confiança, você adquiri com o tempo! É isso, eu tenho que ter esse tempo. Lembra que te falei do conjunto?" "Do conjunto da obra?!" "Isso, meu amor, não estaria saindo com você, se você não estivesse me fazendo bem. Você é um cara legal, gosto de estar com você, de te beijar... Vamos nos dar o tempo de nos conhecer. Não quero alguém para uma semana, um mês". "Eu também". "Todo esse tempo, você já imaginou se realmente quisesse tirar uma onda? Olha quanto tempo perdido. Penso em tempo, sim, tenho 45 anos, não vou ficar com uma pessoa que não me agrega nada" "Claro que quando se gosta de verdade, você que 'para sempre'" [ele interrompe brevemente] "Sim, que seja eterno enquanto dure! Mas meu amor... tenho saudade e tenho sono [diz ela, rindo]. Aquele homem, romântico, então dá a sua nova noção de tempo: "Aos 58, o 'para sempre' e 'o eterno' são logo ali!" [ambos riem] "Esqueci, não parece. Para mim, você tem 40, meu amor". Antes de dormir, ele ainda diz: "O que me importa são todos os dias, parece louco, apressado, mas vivi assim. Vivo assim. entendeu?" "Não entendi!" "Espero ficar com você 10.000 dias desde que fique hoje, amanhã e depois". "E também na noite do dia 24", afirma ela, em tom claro de brincadeira. "A intensidade também me interessa, é isso" [ele arremata].

E Jane volta sugerir: "Vamos dormir?" "Dia 24 está pronto. Você leu o que escrevi sobre isso", insiste ele. "Sim", responde ela, sonolenta. "A noite de Natal vai ser na minha irmã e o 25, na minha mãe. Vou estar liberado à meia-noite. No 24, vou entrar no seu caderninho". "Com certeza, meu amor, mas vamos dormir?" "Vamos", enfim diz ele, e manda beijos "daqueles". "Nossos". Ela retribui e, num último suspiro, pergunta: "Neste domingo, a que horas você vai deixar seu filho?" [com a ex] "Às 20, como diz a lei", ironiza. "Não tem como levá-lo mais cedo?" "Vou ver. Quais são suas intenções? [kkkk maroto] "Amanhã, nos falamos". "Se não der [para vê-la] no sábado, vou garantir o domingo". Ela envia beijos digitais com um "está bom". "Eu te quero", digita o rapaz.

Na noite chuvosa e fria do Natal daquele ano, Jane e aquele homem se encontraram e passaram a madrugada em um hotel da zona sul da metrópole, após brindes com champanhe francês. Não abriram nem as cortinas das grandes janelas do quarto. Não olharam para o céu para saber se havia lua ou muitas estrelas. Só olharam para eles mesmos. Bastava. Um vulcão "apagado" acabara de explodir naquele momento, espirrando fogo de seu caldeirão em lavas.

[se gostou, compartilhe ou dê "share"] 



quarta-feira, 17 de agosto de 2016

COMO UM CUBO DE GELO




    De repente, ela começou a desdizer tudo o que já havia dito e fazer aquilo que não parecia capaz de fazer. De repente, o que era quente virou frio, o que era uma explosão de cores não passava de um preto e branco, o que era flex ficara duro, o que era calma agora apressava, o que fora tolerância pintava impaciência, o que era irrelevante ganhara importância, o que era notável causava indiferença, o que era acolhedor já se tornara inóspito, o que tinha valor por ser simples transformara-se em solução pobre, o que era soberba virara qualidade. O que tinha gosto de camarão agora mal cheirava arroz e feijão. Como um carvão em brasa se desmanchava assim como um cubo de gelo?

     De repente, tudo muito de repente. Tão de repente que parecia intencional. O que estivera cheio [de amor], assim da noite para o dia, era um imenso vazio. Por que aquilo que fazia sentido agora era incompreensível? Como palavras claras tornaram-se um dialeto inaudível. De repente, a surdez aguda. De repente, a rigidez sem apelação. Em vez afeto, desatenção e desdenho. Certa vez,  havia dito que se alguém gosta de alface e o outro de tomate e cebola, por que não servir salada de alface, com tomate e cebola? Por quê, por quê, se tudo antes era passível de conversa e o qual gesto ou palavra [ele não sabe bem o quê] agora tinha sido a gota d'água?

    Às vezes, então ele se pergunta, onde estará ela? [Ela quem?, você me pergunta?]. Aquela que o  roubou dele mesmo. Às vezes, indaga-se: onde estará ela, a outra? [Que outra? Lá vem você, minha consciência] Aquela que devolveu a alegria e permitiu a euforia àquele rapaz. Às vezes, ele acha que ela não existirá mais, que ela nunca existiu, na verdade. Às vezes, ela ainda parece estar tão perto... O que faltou para que essa novidade apagasse de vez aquela antiga [tristeza] com sua magia sorridente, sim, sem voltar para a "prateleira"? Ele se lembrou de Clarisse Lispector e o seu pessimismo sobre a condição humana: "Cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro".

   Vai uma caipirinha ou um dry martini? Por que ela voltou à "prateleira"? Amigos, o tempo dirá, na cor sépia? Se renascer é como sair do armário sem olhar para trás, como serão amigos? Ou essa "solução" só é mais uma terrível forma de dizer de adeus... até que a brisa sopre leve outra vez e tudo volte a ser possível. Tudo!

[se gostou, compartilhe ou dê "share"]

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

SOB A LUZ DAS BEGÔNIAS



As begônias vermelhas estão aí? Sim, respondeu ela, digitando. Ele festejou sem dizer uma palavra. Afinal, enquanto aquele oceano de cor viva estivesse lá, em um grande cesto, ao lado dos temperos, na bancada que separa a sala de jantar da cozinha da casa, seria como um relógio carinhoso do tempo a lembrá-la que nem o passar das horas a faria esquecer dele, dos energéticos e fogosos tempos juntos, embora sempre [diga-se de passagem] aquela mulher tivesse dificuldade em pronunciar tal palavra e conjugar o verbo, rigorosa demais com o significado das palavras. Dele, não havia dúvida, o amor. E as begônias diriam [diante dela, enquanto durasse a sua vermelhidão quase solar] que ele era seu amante, que estava ali cuidando dela. Amantes para sempre, era o bordão.

Para aquele homem, ela significava oxigênio, não dióxido de carbono. A presença dela o acalmava. A ausência, agora maior, transformava tudo em cansaço, como o escapamento dos carros, a respiração ficava ofegante. A separação por alguns dias já escancarava que aquele encontro na prateleira digital não tinha sido fortuito. Que aquele acaso, ocorrido há nove meses, era algo mais forte, como uma providência divina. Era algo que nenhum dos dois iria conseguir "matar", mesmo tentando usar o tempo como uma arma eficaz. [Afinal, dizem que o tempo cura tudo, deixa então o tempo levar, deixa o tempo apagar, deixa isso deixa aquilo.] Não, pensava alto: o tempo apenas envelhece e mata as pessoas. Não, não cura nada, mal cicatriza feridas. [Então, não vamos perder tempo?, sugeriu.]
Um dia lá atrás, na euforia do inesperado encontro e de longas e deliciosas conversas matinais [ela ao volante rumo ao trabalho e ele, ainda deitado, acordando de suas insônias], ela disse, rindo: "Me segue que você brilha. No final tudo vai dar certo". Agora como um filme passava pela cabeça dele... a cabeça dela em seu ombro, a alegria dos olhares, os beijos secos e molhados, também os doces e salgados, o silêncio da cumplicidade, as viagens quase às escondidas, os segredos revelados, as vontades partilhadas, as loucuras bem vividas, as diferenças conhecidas, o grampo do motel, a embriaguez anestesiante dos bares, até mesmo as estridências sagitarianas.... Ninguém apaga o que a vida te dá como uma benção dos deuses, sob o risco de perder o viço.

As begônias vermelhas estão aí? Sim, então ainda há uma chance de sentir-la [mesmo à distância] como um sol tão perto. Mesmo quando ela ergue fronteiras que impedem aquele abraço fio-terra, gostoso, relaxante. As begônias vermelhas estão aí? Sim, para mostrar que ele te segue e vê seu brilho, a luz interminável daquela mulher. Ele segue, mesmo ferido sem entender muito bem o porquê [se ela não pode ficar 15 dias sem vê-lo, pode ficar sem vê-lo para sempre?]. As begônias vermelhas estão aí? Sim? Ele se recusa a calar e a aceitar a sombra que ausência dela vai deixando nas coisas.  

[se gostou, compartilhe ou dê "share"]

domingo, 7 de agosto de 2016

A MULHER QUE NUNCA VIU O BRUXO


Não sei porque ele me inspira. Nem mesmo sei se vou enviar esta carta. Claro que se esse bruxo enviar notícias de tão longe... receberá. Estou com saudades, sabia? Ele disse que ligaria antes de ir e eu, boba, acreditei. Será que é isso que tentou me dizer com "alma liberada"? Saí com uma amiga, descontraí, esqueci o trabalho, lembrei-me dele. Olho para aquela foto, onde um sorriso cativante, másculo e desleixado me enfeitiçou (suspiros). Ah, bruxo abissal, o que faço para quebrar o encanto? O que me admira é que nem o conheço pessoalmente. Adoro dançar, gosta? Fico viajando, será que um dia vou vê-lo, tocá-lo? Também não quero saber agora... só quero sentir a sensação maravilhosa que explode quando penso nele, ativa minha alegria, meu lado brincalhão, coisa que adoro.

Como posso sentir amor assim? Parece tudo uma enganação. Mas não com ele. Qual é a mágica? Ele nem sabe dos meus pensamentos profanos, mas me imagino sendo dele, simplesmente mulher. Penso tolices com ele. Já sei que estou fora, que me excluiu, mas espero que ele guarde isso como uma confidência, isso se eu enviar mesmo esta carta revelando minhas perdas e danos. O que mais me intriga é que outros homens me abordam e eu insisto nele, o bruxo abissal. A memória só o traz à mente, ele, o homem que foi embora! Preciso quebrar esse encanto, preciso conhecê-lo. imagino ser essa solução. Caso ele não queira me ver ao vivo, fico imaginando..."quem sabe, podemos negociar!".

Os meus olhos se fecham... Exausta, acordo para a realidade: um amigo internauta, fazendeiro bem-sucedido, pensou que podia rolar algo entre nós. Saímos, mas travei. Penso nele, de novo, o internauta bruxo. Outro dia andei conversando com alguém na rede, um tal de Feiticeiro. Não foi como com ele, aquele dos beijos virtuais molhados [Como eu sei que eram? Ah, eu sei...] e da voz rouca no arquivo de mensagem sonora. Sei que ele está desconectado em Sommerville, um subúrbio de Boston. E eu aqui de Porto Alegre, a "garota minuano", ainda tento uma conexão improvável com o bruxo. Eu me perdi.



[se gostou, compartilhe ou dê "share"]