Cada época parece ter a "loucura virtual" coletiva que merece. No início dos anos 1980 surgiram, de repente, os "kikos marinhos”. Estava na faculdade de comunicação e só se falava desses seres, de suposta origem pré-histórica, que faziam sexo o tempo todo dentro de um saco plástico cheio de água salgada. Todo mundo dizia que já tinha visto. Inclusive, eu. Nunca vi um kiko, mas vendeu como água. Foi uma febre, os tais kikos eram comprados nas bancas de jornais. O kit era composto por dois envelopes pequenos, parecidos com os pacotinhos de gelatina. Um com ovos desidratados do atlético animalzinho marinho [chamado também de humanóide] e outro com comida ideal para alimentá-lo. Foi um caso típico de 171, estelionato puro. Naquele tempo, ainda não havia pelo menos no Brasil [o caso Kikos foi um fenômeno internacional] o Código de Defesa do Consumidor. E muita gente levava para casa gato por lebre e ficava por isso mesmo. Depois de adquiridos os saquinhos, misturava-se o pozinho do envelope com os ovos dos bichinhos num copo com água. Durante dias, ou mesmo semanas, os que acreditavam no conto ficavam olhando aquela água parada à espera dos humanóides rabudos surgirem e começarem a brincar de reprodução -- fazendo as "acrobacias" prometidas. Na verdade, nada acontecia e a água apodrecia e era jogada fora pelos pais, inconformados. Houve gente que levou um saquinho com os supostos bichinhos na faculdade. "Você não está vendo, mas eles estão aí", diziam eles, tentando convencer colegas. Não me convenceram. Como eu, muita gente fez de conta que sim -- talvez só para manter-se na onda ou para fazer chacota. "Claro, estão ali, olha lá, dando cambalhotas".
Foi como no conto infantil "A Roupa Nova do Rei", que zomba da vaidade humana -- quando dois malandros chegaram a um reino e enganaram a todos dizendo que fabricavam um tecido de ouro. Ninguém via o tecido. Mas diante do rei pelado, seus assessores receosos em desagradar a majestade, diziam que estava lindo e reluzente, até que alguém [um garoto considerado honesto pelo povo] ousou gritar "o rei está nu!" durante o desfile público de apresentação da vestimenta e a farsa foi desmascarada, para o vexame do imperador. Nessa época, no entanto, os "kikos marinhos" inspiraram minha imaginação em outro sentido. Lembro-me que fiz uma adaptação: passei a usar a expressão "kikos terrestres" para denominar um episódio ocorrido com a namorada da época. Aos 18 anos -- no auge da adolescência e das descobertas desse período -- passamos quatro dias trancados num quarto, na cama, num feriado prolongado frio e chuvoso da Independência do Brasil. Mal saíamos para comer ou mesmo tomar banho.
Hoje temos os “pokemons go". Bem menos divertidos que os "kikos marinhos", na minha opinião. Só não é estelionato porque eles são assumidamente virtuais, mas tem gente ganhando uma fortuna com essa brincadeira sem graça, que leva pessoas a parecerem zumbis perambulando nas ruas com seus telefones celulares.
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Foi como no conto infantil "A Roupa Nova do Rei", que zomba da vaidade humana -- quando dois malandros chegaram a um reino e enganaram a todos dizendo que fabricavam um tecido de ouro. Ninguém via o tecido. Mas diante do rei pelado, seus assessores receosos em desagradar a majestade, diziam que estava lindo e reluzente, até que alguém [um garoto considerado honesto pelo povo] ousou gritar "o rei está nu!" durante o desfile público de apresentação da vestimenta e a farsa foi desmascarada, para o vexame do imperador. Nessa época, no entanto, os "kikos marinhos" inspiraram minha imaginação em outro sentido. Lembro-me que fiz uma adaptação: passei a usar a expressão "kikos terrestres" para denominar um episódio ocorrido com a namorada da época. Aos 18 anos -- no auge da adolescência e das descobertas desse período -- passamos quatro dias trancados num quarto, na cama, num feriado prolongado frio e chuvoso da Independência do Brasil. Mal saíamos para comer ou mesmo tomar banho.
Hoje temos os “pokemons go". Bem menos divertidos que os "kikos marinhos", na minha opinião. Só não é estelionato porque eles são assumidamente virtuais, mas tem gente ganhando uma fortuna com essa brincadeira sem graça, que leva pessoas a parecerem zumbis perambulando nas ruas com seus telefones celulares.
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