Onda de 15 metros de altura atingiu Mariana (MG) , depois que duas barragens de uma mineradora se romperam |
Cenário de devastação : casas, carros, gente e animais soterrados |
[versão atualizada]
"Oi, estourou a barragem, sai todo mundo daí!", grita pelo rádio um dos funcionários da mineradora Samarco, no instante em que uma avalanche de lama com 15 metros de altura começou a avançar após o rompimento das barragens de Fundão e Santarém. Há pelo menos oito mortos e 23 pessoas desaparecidas depois que 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério e água "engoliram" a parte baixa do distrito de Bento Rodrigues, na cidade histórica de Mariana (MG), vizinha a Ouro Preto. Cerca de 600 pessoas perderam tudo e estão sem casa. O cenário é muito semelhante com a devastação que decorre de uma tsunami [a onda gigante formada após abalo sísmico no fundo do mar], com casas completamente destruídas, carros sobre telhados, ou o que sobrou deles. Animais que sobreviveram e ficaram presos no lamaçal estão sendo resgatados pelos bombeiros. A busca aos desaparecidos é uma tarefa difícil e incerta.
Mas o que causou a maior tragédia ambiental do país? Quem é o responsável pelo desastre que liquidou um distrito e contaminou com ferro, alumínio e manganês os rios que chegam ao Espírito Santo? O governo de Minas Gerais suspendeu as atividades da mineradora, a Samarco então mentiu ao dizer "rejeito é inerte"? Cidades da bacia do Rio Doce, que já viviam sob tempo de seca, recorrem a garrafões de água mineral e a caminhões-pipa, porque não podem mais captar água do rio. Cidades como Governador Valadares (MG), com 1,5 milhão de habitantes, e Colatina (ES), 212 mil, cortaram o abastecimento de água. A informação de que um abalo sísmico pode ter ajudado a romper as barragens, além das chuvas fortes na região, confere? Ou o que houve mesmo é uma falha técnica, ou ainda vista grossa na manutenção das barragens, já que a mineradora estava pensando em paralisar as atividades dessas barragens, já saturadas, e a construção de novo local de rejeitos? Ou tudo isso junto? Quem errou e quem vai pagar por isso? E pelas mortes, inclusive de crianças, quem vai responder por negligência em relação aos moradores à jusante da barragem ou por crime culposo, no mínimo? Você sabia que o plano de emergência em caso de rompimento de barragem se restringiu inicialmente ao aviso por telefone, de alguns moradores, para que saíssem a tempo antes de a onda gigante de lama chegar? Não havia uma sirene de alerta, nem transporte de urgência, nem plano de retirada em massa.
A mineradora Samarco é uma joint-venture pertencente à brasileira Vale e à anglo-australiana BHP Billiton, cada uma com 50% de participação. A mineradora brasileira afirmou ao jornal "The Wall Street" que a Samarco é uma empresa de responsabilidade limitada, que atua independentemente dos acionistas e é responsável por todas as questões técnicas e financeiras de suas operações. Foi o mesmo tom dado pela BHP Billiton ao caso. Ninguém é responsável por nada. O grande capital não esperou nem os cadáveres esfriarem [melhor, serem encontrados] para "lavar as mãos", literalmente enlameadas. Ao estilo Pilatos, os dois donos da Samarco dizem que não são responsáveis nem direta nem indiretamente no caso.
[Mal comparando: é como o político que disse ter fumado maconha, mas não tragado.Ou ainda equivale ao deputado Eduardo Cunha alegar, depois de descobertas suas contas milionárias na Suíça que ele negava existir, que não é o titular delas, apenas beneficiário. Enfim, é mentir, mentir e mentir, ou usar um artifício legal para tentar escapar de uma eventual punição].
O noticiário parece que vai durar poucos dias. O povo que vive ali e seus parentes mortos são pobres. E tragédia de pobre no Brasil não resiste nas manchetes de jornais. Na TV, as imagens, impressionantes, talvez deem sobrevida de alguns dias ao jornalismo sério. E indenização para as famílias e comerciantes que estavam tranquilos em suas casas e lojas até serem surpreendidos pelo mar de lama? Ninguém fala!? Vamos comparar com a cobertura pela imprensa do acidente do Bateau Mouche na Baía de Guanabara, em 1988, quando morreram 55 pessoas em um barco superlotado durante o réveillon no Rio de Janeiro? Daqui a 25 anos alguém vai fazer reportagem sobre o dia em que Minas Gerais foi tragicamente banhada por um mar de lama?
Bombeiros: resgate de potro e cavalo presos na lama |
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