Uma agulha no palheiro. Informação selecionada e às vezes comentada, histórias do dia a dia dos mortais, crônicas e tudo aquilo que mexe com o humor de um jornalista inconformado
domingo, 8 de novembro de 2015
OS DIAS CONTADOS - HISTÓRIAS DE CAMPANHA
Faltando 15 dias para a eleição do prefeito paulistano em 2012, o candidato Celso Russomanno despenca nas pesquisas e cai de primeiro lugar confortável para terceiro e não vai para o segundo turno. Eu trabalhava no chamado Grupo Record, do bispo Edir Macedo, o chefão da Igreja Universal do Reino de Deus, que tem no Partido Republicano Brasileiro o seu braço político. O PRB tem espaço cativo na "Folha Universal", o porta-voz impresso da IURD. Durante um período curto de sua história, o jornal teve a linha editorial sob a tutela da direção de jornalismo da TV Record, mas logo voltou às mãos dos pastores, com a truculência e a arrogância que lhe são peculiares. Mas essa cena me veio à cabeça quando li que Russomanno vai tentar de novo ocupar a cadeira que Janio Quadros "desinfetou" ao vencer Fernando Henrique Cardoso em 1985. O candidato tucano [que viria a ser presidente] fez a besteira de posar para foto na cadeira nº 1 da cidade antes de abertas as urnas. Janio não perdou! Posou para fotos limpando o assento e ainda disse alto e em bom som aos fotógrafos e jornalistas presentes à posse: "Gostaria que os senhores testemunhassem que estou desifentando esta poltrona porque nádegas indevidas a usaram".
A queda de Russomanno, candidato do PRB, tirou os sorrizinhos dos rostos de fiéis enfronhados na máquina da igreja evangélica. Outra máquina administrativa, gigantesca, deixou de lhes cair nas mãos, pelo voto. "O que houve?", indagava um deles. "Foi preconceito", esboçou o discurso de vítima outro integrante da gestão da IURD. Lembrei: a verdade é outra. Animado com as pesquisas eleitorais que já o davam como certo no segundo turno, Celso Russomanno relaxou, baixou a guarda, se empolgou e passou a se expor, falando de suas "propostas geniais". O candidato inventou um novo lema para o transporte, acreditando fazer justiça com as próprias mãos: "Quem andar mais de ônibus, vai pagar mais". Nada mais justo, certo? Errado. A notícia caiu como uma bomba na periferia da cidade e nos rincões de pobreza. Afinal quem anda mais de ônibus? Criador do bilhete único, o PT não perdeu tempo. Contou a novidade aos quatro cantos da cidade e como um rastro de pólvora isso serviu para alavancar a candidatura de Fernando Haddad. Isso detonou "o fogo de artifício" que explodiu e feriu de morte a candidatura do PRB, que definhou a poucos dias do primeiro turno.
Em julho de 2012, segundo o Datafolha, José Serra (PSDB) tinha 30.% das intenções de voto, Russomanno (PRB), 26% e Haddad (PT), 7%. Em meados de setembro, Russomanno liderava com 35%, Serra tinha 21% e Haddad, 15%. Resultado oficial do 1º turno foi: Serra (30,7%, 1,8 milhão de votos), Haddad (29,8%, 1,7 milhão) e Russomanno (21,6%, 1,3 milhão). No segundo turno, o petista Haddad atropelou o tucano Serra: 55,5% (3,3 milhões de votos) contra 44,4% (2,7 milhões), principalmente na periferia da cidade [veja o mapa do município abaixo].
A lição que Russomanno aprendeu para o próximo pleito, em 2016: com a boca fechada você pode ganhar uma eleição [ou ir para o segundo turno] mesmo sem programa de governo, e só com bravatas ditas na TV. Mas, naquele ano, para a sorte dos paulistanos, ele não tinha programa e nenhuma ideia do que pretendia fazer [ou cometer?] com a cidade e cometeu a "gafe" de abrir a boca antes do segundo turno, na área de transporte público. Ao lançar seus pensamentos rudes ao vento... caiu, caiu, caiu, e se foi, graças ao Senhor, Amém.
PS - Cá entre nós, Russomanno, com seu verniz de credibilidade criado em torno do código do consumidor brasileiro [este sim coisa séria e moderna], faria melhor a todos ficando só na TV, faturando onde o negócio faturar não envolve dinheiro público e carências alheias. É mais um falso "xerife", com DNA moderno do espírito populista, fanfarrão e autoritário de Janio Quadros, mordido pela mosca azul que pica a todos que rondam [e ficam] imanizados pela caneta do poder.
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