sexta-feira, 22 de novembro de 2013

ESTRADA DE SANTOS: A PÉ É MAIS RÁPIDO




Na infância, viajar para Santos era o supra sumo do passeio perto de casa. O mar era logo ali. Minha avó tinha um apê próximo à Praça da Independência, que eu, na ingenuidade infantil, chamava de "pracinha" [só adulto ficaria sabendo que é a praça mais importante de Santos]. Os bondes abertos ainda circulavam pela orla. Os cobradores ficavam pendurados como macacos, fazendo acrobacias para receber dos passageiros. O Guarujá era bem chique e só era acessível por balsa. E o Samambaia, situado no morro do final da praia da Enseada, era o clube da elite paulistana no balneário. O percurso, a partir de São Paulo, era feito em no máximo duas horas. Um dia, porém, no final dos anos 60, a subida da serra durou seis horas, pela sinuosa via Anchieta, a única estrada que existia então rumo ao litoral sul. A diversão, naquela exaustiva viagem de volta, era "brincar" de buzinar nos túneis. Uma atitude bem paulistana, bem neura. Nesse dia meu pai decretou: "Nunca mais vamos para Santos". Ele levou a palavra ao pé da letra. Lamento, Roberto Carlos, mas meu pai cantou a bola antes da letra de sua música alardear "na estrada de Santos eu não vou mais passar".

    No último feriado de três dias, em 15 de novembro, muita gente viveu o horror que é completar 64 km em até 12 horas -- notáveis 5,3 km por hora. Caminhando, calmamente, você chegaria junto com o automóvel. Um vencedor da São Silvestre faria o percurso em 3 horas, a 20 km por hora, que é a velocidade de cruzeiro de um fundista. Um inferno, só para colocar o pé na areia, para tomar um banhozinho de mar sob o céu azul. Mesmo tendo uma rodovia moderna e larga como a Imigrantes, houve gente que fez piquenique na estrada, como em um famoso conto de Júlio Cortázar, intitulado "Auto-Estrada do Sul", que fala de um congestionamento gigante sem explicação. A primeira vez que o conto virou realidade aconteceu no final dos anos 80, quando o pedágio da Imigrantes funcionou como comporta, liberando os veículos aos poucos. Eu era repórter, e havia um inédito "engarrafamento de descida", na serra, contrariando o ditado que diz que "pra descer todo santo ajuda". Houve réveillon no asfalto: muita gente deu meia-volta, desistiu de viajar, como aconteceu no último feriado. Só escapei desta porque passei pelas curvas da estrada de Santos um dia antes.

 

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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

SDS, É ISSO MESMO



Quando vou realizar um check-up -- imperioso depois dos 40 mil quilômetros rodados [já estou na casa dos 55 mil] -- um pensamento recorrente me toma de assalto. O preparo impõe restrições que me fazem, quase sempre, lembrar de coisas boas da vida. Para o exame completo de sangue e PSA [bom dia, próstata, tudo bem aí?], aquela checadinha básica, é exigido jejum de 12 horas, sem esforço físico na véspera, 72 horas sem bebida alcoólica e 48 horas sem sexo. Mesmo que passe rápido, é duro se abster de tudo. Foi assim ontem, uma quarta-feira chuvosa na Paulicéia ingovernável. Se no mesmo dia você der uma geral no abdome, além do jejum de 8 horas, terá que tomar seis copos de água antes do ultrassom [bom dia, vesícula, em que pé estão os pólipos? São cinco, grandes, pequenos, estagnados? Estou de olho em vocês! E a bexiga, vai bem obrigado! E o fígado e os rins, mudaram de tamanho? Estão filtrando direitinho?].

       Já para fazer uma breve visita ao coração, na sexta que vem, a ordem é não tomar café [dizem que é um veneno, mas adoro um puro], chocolate ou achocolatados [é melhor nem comentar], qualquer tipo de chá, refrigerantes [e seu açúcar adorável, viciante] e bebidas alcoólicas [hoje estou  moderado, o medo da ressaca venceu a esperança]. Pior, temo dar vexame na esteira, não atingir o protocolo mínimo. Se não me engano, são 7 ou 8 minutos (es)correndo na ladeira. Que vergonha, já cheguei a parar só após 12 minutos, o tempo máximo [quem mandou não caminhar 30 minutos por dia? Ou nadar duas vezes por semana, para garantir um fôlego razoável?]. A humilhação se completa se esse teste de esforço for monitorado por jovens enfermeiras [vou ter que dizer que eu já fui “uma brasa, mora!”].
 
       A esses pensamentos imperfeitos seguem-se outros, que aliviam um pouco a barra deste “bokomoko”. Soube que essas jovens enfermeiras ou médicas, novatas na profissão, já salvaram vidas. Uma vez um sujeito, aparentemente em perfeito estado de manutenção por dentro e por fora, corria na esteira. Uma das jovens de branco achou esquisito o gráfico do ritmo cardíaco. Chamou um médico, que de imediato decretou: “Pode parar, você está próximo de um ataque cardíaco”. Surpreso, o sujeito, de meia idade, perguntou se podia buscar em casa uma muda de roupas. O médico foi no fígado: “Daqui você só sai de ambulância”. Pobre homem, com a lataria em dia, mas com o motor pronto para fundir sem ele saber, sem nenhum sinal. Foi internado. Por outro lado, que sorte. As meninas fizeram o trabalho direitinho. Ele era daqueles que participa de corridas de rua em busca da resistência e da virilidade juvenil perdidas [ou por ser viciado em endorfina e outras “inas” que nos enchem de prazer e dão a sensação ilusória de ser um super-homem].
      
       Essa revisão não-programada puxa o fio do novelo de outro pensamento, e arranca de mim um leve sorriso, apesar do desfecho trágico. Soube que um “tio”, padrasto de um velho e saudoso amigo de colégio, cumpriu sua missão por essas terras com a honra de quem vai até o rabo da palavra. Generoso, engraçado, culto, companheiro, advogado e um debatedor ágil das belezas e dos pecados do mundo, adorava tomar um bom uísque escocês. Fez questão de tomar sua penúltima dose no leito hospitalar. Admirável. Inesquecível. Dele ganhei o apelido provisório de “Calígula, o devasso”, pelos trejeitos ao dançar com as moças no salão, em um memorável carnaval em Birigui [o filme sobre o imperador de Roma estava em cartaz e havia celeuma em entorno das cenas explícitas]. Quase um ano depois, fui surpreendido pelo sócio dele [que esteve na festa interiorana do rei momo] num elevador cheio na Avenida Paulista. “Ooooiiiii, Calígula! Como você está?!!!!”. Todos olharam para mim. Eu não sabia onde enfiar a cara. “Tudo bem”, respondi meio encabulado -- embora contente pelo reencontro e pela lembrança do apelido que achava esquecido, coisa do passado. Eu tinha 19 anos.
    
       Esse turbilhão de pensamentos desordenados me veio à cabeça em frações de segundo, enquanto conversava com uma amiga -- ela no check-in do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e eu em casa, em São Paulo. Ela contava que um atendente acabara de lhe dizer na lata: “O aeroporto está fechado e seu embarque será SDS”. Diante do espanto com a sigla desconhecida, o funcionário da empresa aérea não titubeou: “Só Deus sabe”. Era bem cedo, gargalhei. Fui correndo fazer o check-up. Tinha hora marcada. O resto, SDS.

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sábado, 12 de outubro de 2013

MARINA NA CABEÇA DERRUBA TUCANOS


                                                           [versão atualizada]

A pesquisa Datafolha publicada neste sábado (12 de outubro) mostra que, após Marina Silva (Rede Sustentabilidade) optar por ser vice na chapa de Eduardo Campos (PSB) na corrida presidencial, o eleitorado que a tinha como a preferida (26%) se pulverizou quase igualmente entre os outros candidatos. A presidente Dilma Rousseff (PT) subiu de 35% para 42% das intenções de voto. Aécio Neves (PSDB) cresceu de 13% para 21% e Campos, de 8% para 15%. Brancos, nulos ou nenhum somaram 16%. Outros 7% disseram ainda não saber em quem votar. Com esses números, Dilma seria reeleita no 1º turno.

     A novidade é: se Marina encabeçar a chapa de Campos (PSB), não só haveria 2º turno, como o PSDB ficaria fora da disputa -- seria o fim do Fla-Flu político entre petistas e tucanos. Aécio teria 17%, contra 39% de Dilma e 29% de Marina. Caso o rival fosse José Serra (PSDB), também haveria 2º turno sem os tucanos: Dilma teria 37%, Marina, 28% e Serra, 20%.

     A pesquisa aponta que o PSDB iria para o 2º turno se Serra tomasse o lugar de Aécio na cabeça da chapa e, ao mesmo tempo, Marina fosse vice de Campos: nesse cenário, Dilma teria 40%, Serra, 25% e Campos, 15%. Com Campos na cabeça da chapa PSB/Rede, Aécio também iria para o 2º turno, e o Fla-Flu de tucanos e petistas continuaria. Convém lembrar que Serra é o presidenciável com maior índice de rejeição: 36% jamais votariam nele.

     Num eventual 2º turno, a atual presidente venceria todos os rivais. Mas a ex-senadora e ambientalista Marina não faria feio. Pelo contrário, a disputa ficaria mais apertada. A presidente petista teria 47% dos votos e Marina, 41%. Nos outros cenários, a vitória do PT seria mais folgada: Dilma 54% contra 31% de Aécio; Dilma 54% contra 28% de Campos e Dilma 51% contra 33% de Serra.

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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

SERÁ O FIM DO FLA-FLU ENTRE PT E PSDB?


A aliança de última hora de Marina Silva (Rede Sustentabilidade) à candidatura Eduardo Campos (PSB), já em marcha, mostra alguns equívocos dos marineiros, mas também pode significar o fim do Fla-Flu eleitoral dos últimos anos entre PT e PSDB. Até junho de 2014, muita água vai correr por debaixo da ponte. A seguir, seis considerações sobre o surgimento de uma "terceira via" que pode virar "segunda via".

       1) Com o "capital eleitoral" conquistado na última campanha presidencial, quando obteve cerca de 20 mihões de votos, Marina Silva e sua equipe de articuladores demoraram muito para lançar a ideia de um novo partido, a Rede Sustentabilidade. Isso ocorreu só no início deste ano, em fevereiro. Não houve tempo suficiente para conseguir o total mínimo exigido de assinaturas reconhecidas [492 mil], uma vez que era sabido que a Justiça Eleitoral costuma rejeitar milhares de assinaturas [a Rede obteve 304 mil validações].

       2) A cúpula da Rede parecia crer que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) seria benevolente, e incapaz de barrar o novo partido devido à presença de Marina na mídia, seu histórico, seu carisma e, mais, com as pesquisas apontando-a com 26% das intenções de voto para presidente.

      3) Essa postura, quase "certeza" em relação ao tribunal, permitiu que Marina Silva e sua Rede não tivessem um plano B. Não foi à toa que a presidenciável, surpreendida, disse logo depois de perder por goleada na Justiça [6 a 1] que a Rede era "o primeiro partido clandestino da democracia". Ninguém nega a grandeza da candidatura, mas a Justiça não podia abrir exceções. Por isso, os ministros [alguns até lamentando] barraram o registro da Rede. Eles apenas aplicaram a lei.

      4) Com esse resultado, Marina tinha duas opções, ambas difíceis: continuar o processo formal de criação da Rede Sustentabilidade [esperando por mais 4 anos, e arrumando um jeito de fazer oposição] ou filiar-se a um partido menor, desses de aluguel, onde seria a candidata -- embora isso significasse entrar na disputa pela porta dos fundos, fazendo uso de prática da "velha política".

       5) O plano C, de Eduardo Campos, candidato pelo PSB, surgiu então, em cima da hora, como uma forma de permanecer ativa no cenário político, emplacando no programa da chapa suas preocupações ambientais e outros pontos programáticos. Sem falar nos ajustes que terão de ser feitos nas alianças estaduais, o dilema dessa escolha é que uma candidata com 26% das intenções de voto teria que ir a reboque de um candidato com 8% apenas [três vezes menos]. Marina disse, num dia, que decidiu "adensar uma candidatura já posta". Em outro dia, porém, declarou: "Nós dois somos possibilidades". O bafafa está formado. Será que essa aliança dura, nesse formato? [se durar, será o fim da Rede?]

       6) A expectativa é enorme em relação às pesquisas eleitorais após esse acordo. O quanto do eleitorado de Marina vai "adensar" a candidatura Campos? Para onde irão os descontentes da Rede [os "puros" e "viúvos"] com a opção de Marina [que não quis ser Madre Teresa de Calcutá]? O que será de Campos se as pesquisas mostrarem que as chances aumentam se Marina for a cabeça na chapa? A adesão marineira aos "socialistas" será suficiente para rebaixar os tucanos à terceira força, fazendo com que se rompa pela primeira vez, nos últimos pleitos, com o Fla-Flu político entre PT e PSDB?

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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

MARINA: UMA ALIANÇA EM CIMA DA HORA




Uma aliança por cima, em cima da hora. A surpreendente opção feita pela presidenciável Marina Silva não apareceu nos prognósticos das dezenas de jornalistas que escrevem sobre eleições. Com a decisão [técnica e no limite do tempo] da Justiça Eleitoral, que recusou o registro da Rede Sustentabilidade por falta do número mínimo de assinaturas de eleitores, Marina parecia "eliminada" da disputa [adiando o sonho por mais quatro anos] ou condenada a entrar no jogo pela porta dos fundos de pequenos partidos de aluguel -- com exceção do PPS de Roberto Freire, que flertou com José Serra, acreditando que o tucano deixaria o PSDB [o que também não ocorreu].

     À primeira vista, um político que tem de 16% a 26% das intenções de voto não aceitaria ser vice numa chapa em que o presidenciável se mantém na faixa dos 6% aos 8% nas pesquisas, como é o caso do senador Eduardo Campos (PSB). Em tese, Marina aceitou, ao dizer que veio "engrossar uma candidatura já posta", ela abriu mão de ser cabeça de chapa. O que a levou a suspostamente não ter essa ambição? Outra pergunta: a decisão que coloca a Rede a reboque do PSB pode vingar? E mais: Marina irá conseguir transferir a maioria dos votos para essa nova aliança [uma aliança em cima da hora e acima de qualquer suspeita?], "pura", baseada em acertos programáticos? Vale lembrar ainda que o PSB foi o partido que mais cresceu nas últimas eleições, municipais. Elegeu mais de 100 prefeitos [além do que tinha eleito em 2008]. Os prefeitos socialistas comandam hoje o dobro de eleitores em relação há quatro anos: foi o maior crescimento absoluto e proporcional entre os partidos. O PSB cresceu mais no Nordeste [proporcionalmente o maior reduto de Lula] e em Minas Gerais [maior reduto do tucano Aécio Neves].

     Eu estava escrevendo esse artigo quando vi na internet a entrevista dada por Marina ao "Estadão". Optei então por inseri-la aqui, porque a pré-candidata dá suas explicações:


Influências sobre decisão

"O que me levou a essa coligação programática foi a coerência. Eu sempre disse que a Rede Sustentabilidade não estava aí na lógica da eleição pela eleição, que nós desejávamos era discutir propostas e ideias, mas acho que os sinais não eram suficientes. Nós já abdicamos das eleições de 2012. O que me fez pensar essa possibilidade, acompanhada pela maioria da executiva da Rede, foi a coerência com o que nós estamos nos propondo, de que nós queremos muito mais do que eleição. Analisamos o que mantinha coerência com a visão de que o que nos interessa é uma agenda estratégica para o Brasil. Em termos de candidatura posta com a qual podemos fazer um diálogo com alguma possibilidade de prosperar era o PSB. E o PSB foi um partido que entrou com a liminar na Justiça, que quando o ministro Roberto Amaral deu uma declaração bastante dura contra a Rede, o governador Eduardo Campos fez questão como presidente de fazer uma nota dizendo que a Rede tinha direito de se constituir como partido. Então, eu vi ali a disposição para o diálogo."

Sem foco no Planalto

Alguém me perguntou: é vingança? Eu disse: não, é uma sede muito grande de esperança. Geralmente a gente vê nos outros aquilo que está dentro da gente. Alguém que tem 20%, 16% ou 26%, se dispõe a esse gesto. Isso eu acho que tem algo que fala por si mesmo. Eu não preciso dizer que é desprendimento. Acho que é uma grande ambição, de que a política pode ser melhor, de que o Brasil possa ser melhor. É uma ambição saudável e que não vou abrir mão. Foi por ela que eu saí do PT, o que passei até a decisão de conversar com o Eduardo Campos e selarmos a aliança programática não chega nem perto do sofrimento que eu passei na decisão de sair do PT. É porque eu acredito que o sonho não pode parar. A história não para. Alguém tem que continuar. É engraçado que foi muito bom poder ficar recordando esses dias todos. Quando o Lula fez o movimento no ABC e quis transformar aquele movimento em um partido político foi muito incompreendido, pelo PMDB de luta, que dizia que iria dividir as oposições, pelos partidos marxistas leninistas que tentavam rotulá-lo de ser um partido de direita para fazer o jogo da direita e era rotulado pela direita de ser um partido de esquerda que era um perigo para o Brasil. E de uma forma diferente, sem a força do Lula, a estrutura sindical, de repente eu me vi numa situação de alguma forma parecida. Uns querendo rotular a Rede Sustentabilidade como um partido frágil e outros entendendo que de fato é um esforço para criar uma instituição que dialoga com esse novo sujeito político que está surgindo e outros dizendo que não é algo diferente, é como todos os partidos. Não é a mesma coisa. Tem muita gente que discorda do que eu fiz, está me criticando fortemente, mas compreendendo e respeitando, mas dentro da Rede. Nós estamos metabolizando, debatendo. A Rede não está se fundindo com o PSB, está fazendo uma aliança programática.

Desistência da candidatura

Qual é o problema? Não frusta porque as pessoas estavam frustradas com o que o TSE fez. Quem inviabilizou a possibilidade de a Rede ter a sua candidatura foram os cartórios reconhecidos pela Justiça Eleitoral. Não vamos deslocar o que aconteceu anteriormente ao que ocorreu posteriormente. A Rede sabe muito bem disso. A questão é, deveria ter ficado apenas dentro da Rede e não ter nenhuma incidência na conjuntura política do País, ou deveria ir para um partido, e o PPS dizia: façam a mesma filiação transitória e você tem a possibilidade de ser candidata, no meu entendimento, aí sim era dizer o mais importante era a candidatura pela candidatura, mas o mais importante é poder expor a proposta. Eu via que tinha uma torcida muito grande por uma coisa e por outra, ir para um partido para ser candidata ou me resignar na metáfora que eu fiz de ser a Madre Tereza de Calcutá da política. Eu ficaria no meu conforto e neste momento 99,9% das pessoas jovens da direção da Rede Sustentabilidade estariam felizes, teria sido uma atitude de anticandidatura e com certeza estariam dizendo que tudo que foi referenciado na plataforma Brasil que queremos, eu me omiti por vaidade, para preservar meu capital político e junto aos meus e de dar uma contribuição para o país. Eu me vi diante de uma situação que o Eduardo Giannetti diz que é de dilema, ou faz isso ou aquilo, ou vai para o recolhimento do conforto ou vai para um partido que mesmo com toda a narrativa nós podemos dizer que ela foi para uma sigla de aluguel. Era um dilema e eu tive que criar um trilema, e aí você elimina as duas possibilidades e cria uma terceira que não estava prevista por ninguém. Foi o que aconteceu. Não está previsível porque a lógica da política é: serei eu e o resto que está por aí, ninguém presta. E eu digo que tem muitas coisas dentro do PT, do PSDB, do PSB, do PPS, do PMDB. As pessoas tem o previsível porque não consideram outra possibilidade. Na conversa com o Eduardo, era muito claro para nós dois, eu não quero destruir ninguém, quero construir. Aí as pessoas dizem, vocês são a costela do Lula e eu até brinquei: a costela é uma coisa melhorada.

Decepção com o PT

Você me perguntou o que me decepciona, eu vou começar pelo que me emociona. O que me emociona no PT foi o PT ter cumprido de fato o que sinalizou na questão da justiça social, tirar 30 milhões de pessoas da extrema pobreza, que era uma promessa que o presidente Lula fazia de um jeito muito simples, no jeito dele, eu quero que as pessoas possam tomar café da manhã, almoçar e jantar, isso me emociona. Mas infelizmente o PT não foi capaz de entender que nós que fomos a força criativa, produtiva e livre que produziu um ato de mudança na década de 80 e chegou até aqui não poderíamos nos conformar com a repetição do sucesso, que é estar no poder. Isso foi aprisionando o poder nessa lógica de não conseguir ver as novas bandeiras, as novas utopias. Eu lutava muito para dizer que a sustentabilidade era a ideia cujo tempo chegou, de que era a atualização da utopia. Mas quando eu dizia isso, as pessoas achavam que eu estava querendo cacifar a minha agenda. Nas campanhas muitas pessoas diziam, você não pode aparecer, se não a gente perde voto, e eu me resignava, porque eu dizia, não quero atrapalhar. Eu me resignava porque eu dizia: não quero atrapalhar, quero que o PT ganhe, que o Lula ganhe. Só que chegou um tempo que eu comecei a ver que jamais eu ia fazer as pessoas se convencerem de que a utopia desse século que todo mundo está correndo atrás é o desenvolvimento sustentável, que é ressignificar as nossas bandeiras, ressignificar nossa utopia. Foi por isso o ato extremo de sair do PT e ir para o PV. Eu estou acreditando profundamente que o Eduardo pode dar uma contribuição para essa atualização. Nesse momento o peso está muito nos ombros dele.

Alianças regionais

As conversas que estavam postas nos Estados elas também vão participar de um processo de reelaboração e ressignificação. Porque se a aliança prospera, ela vai se adensando na direção de um novo caminho e uma nova maneira de caminhar.

Transferência de votos

Não acredito em transferência de voto porque o voto não é meu, o voto é do eleitor. E a gente tem que começar a respeitar o eleitor. Eu acho um desrespeito esse negócio de que você é dono dos votos de cidadãos e cidadãs conscientes. As pessoas votam em quem elas se convencem de votar. O eleitor, o cidadão, não quer ficar nessa posição de mero expectador, ele quer ser protagonista, autor, mobilizador. E isso ficou claro nas manifestações agora de junho. O pessoal entrou em crise, 'mas como é que tem esse bando de gente na rua e não foi um sindicato, não foi um partido, não foi a Marina, não foi o Lula'? Quem chamou foi o próprio cidadão porque ele é um novo sujeito politico, é autor, é mobilizador. É isso que temos que entender e cada vez mais vai ser assim. E vai ter que negociar com ele. Não vamos trata-lo como se ele tivesse uma atitude passiva. Tanto não tem que botou o Congresso para, envergonhadamente, enterrar a PEC 37. Botou o Congresso e o governo para, envergonhadamente, ressuscitar para em seguida matar a reforma política. Quem fez isso foi o cidadão. Ou a gente convence esse cidadão, de que essa proposta é boa para o Brasil, ou ele não vai dar o voto só porque a Marina está dizendo vote no Eduardo, no João, no Francisco ou na Maria. Vamos começar a respeitar o cidadão. Eu digo: não acredito em salvadores da pátria, eu acredito em homens e mulheres que se disponham a construir pátria. Eu não acredito que alguém propõe para um povo um destino, eu acredito em quem propõe um mundo melhor, construído por todos. É por isso que eu fiz esse gesto. E só Deus e o tempo dirão se foi para ajudar a mudar ou se foi para me vingar. E, se eu não tiver mais aqui, com certeza, como historiadora, eu ficarei feliz do mesmo jeito porque foi para construir.

Cabeça de chapa

Esse trabalho não é ele quem vai conseguir, numa aliança a gente tem que conseguir juntos. É um convencimento conjunto. Agora, para convencer os outros, a gente tem que ter o que dizer. E não só o que dizer, a gente tem que mostrar o que está fazendo. E é desse estar fazendo é que vamos mostrar muito mais pelo que fizemos do que pelo que dissermos. Mas a gente está só no começo, vamos começar o diálogo. Não tem nada impositivo. A Rede tem o seu programa, o PSB tem o seu programa, a Rede tem seus militantes, o PSB tem os seus militantes, e vamos nos comportar como um partido político. A história vai provar que o que aconteceu com a Rede Sustentabilidade é o maior paradoxo da política partidária brasileira. Tem partido que se legaliza dentro de uma pasta para tentar ganhar capilaridade social, com apoio inclusive do governo para já ter um ministério. Tem partido que tem capilaridade social, não quer um ministério para aumentar cada vez mais os gastos públicos e mesmo assim não consegue um registro legal. Eu não tenho como objetivo de vida ser a presidente da República, eu tenho como objetivo de vida um país melhor. Se para isso necessário for ser presidente da República, serei com a mesma alegria que faço como professora de história. Eu acho que as pessoas não entenderam que o meu gesto porque continuam não acreditando nisso que estou dizendo. Se o Eduardo se comprometer com essa agenda, se o Eduardo fizer um gesto de mudanças significativo que o Brasil precisa, eu não preciso ser vice dele, eu só preciso ser cabo eleitoral. Eu repito aquela história de que sábio são os que aprendem com os acertos dos outros. Estúpidos são aqueles que não aprendem nem com os seus acertos. O PT e o PSDB tem dois grandes acertos para aprender, serão estúpidos se não aprenderem com eles que podem fazer mais e melhor, podem fazer mais com sustentabilidade. Eu não tenho nenhum problema com isso se o Brasil for melhor, não tenho como objetivo de vida ser presidente do Brasil, tenho como objetivo de vida ter um país melhor.

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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

OUTRO MINHOCÃO À VISTA?

 

Quando dei de cara com "aquilo", há mais ou menos um mês, foi um choque. "O que estão fazendo aqui?", bradou meu coração paulistano, quase infartado pelo impacto visual. O Metrô diz que, no final da obra, será um marco futurista da cidade. [Que futuro é esse?] Não basta um Minhocão, nosso monstro arquitetônico de todos os dias, um câncer urbano instalado no centro de São Paulo? Estão construindo outro, desta vez na zona sul [foto]. A Avenida Roberto Marinho ganhou pilastras gigantescas, que vão sustentar o monotrilho, por onde circularão trens com pneus, a 25 metros de altura [mais alto que o Minhocão do centro]. Os pilares faraônicos transformam carros e pessoas em formigas ou habitantes de Liliput. O Metrô promete plantar árvores, fazer um paisagismo para esconder a "engenharia de Gulliver", suavizar a brutalidade do excesso de concreto que já cortou o horizonte de outrora. Só com palmeiras imperiais para camuflar o desastre. A conferir, uma vez que o "monstro" está em gestação.

      Trata-se de Linha 17-ouro, cuja primeira fase vai ligar o Aeroporto de Congonhas à Marginal Pinheiros. Esse trecho, de 7,7 km, deve começar a operar no final de 2014. Ao todo, porém, essa linha terá 18 km e 18 estações -- ligando a estação Jabaquara à estação São Paulo/Morumbi, que terá conexão com a linha amarela, perto do Estádio do Morumbi. O preço? Estimados R$ 4,1 bilhões.

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segunda-feira, 30 de setembro de 2013

TERROR NA INTERNET




Duas notícias chamam a atenção hoje (dia 30) para o uso da rede mundial de computadores para malfeitorias e terrorismo contra pessoas e países. A primeira, publicada pelo "The New York Times" mostra o drama de vítimas que lutam por leis que impeçam a vingança on-line, como por exemplo a publicação de fotos íntimas de ex-namoradas ou ex-esposas. A segunda, que saiu na "Folha", trata da descoberta e suspensão de uma conta oficial da Al Quaeda no Twitter. Na terça-feira (dia 24), o site Shumukh al-Islam [fórum de jihadistas, soldados da guerra santa islâmica, e local por onde terroristas passam “recados” aos inimigos, americanos e europeus] abriu o endereço twitteiro [@shomokhalislam] com acesso livre. Funcionou por cinco dias. O Twitter suspendeu a conta no domingo (dia 29), quando já tinha 2 mil seguidores, principalmente curiosos e jornalistas. Essa é só uma faceta da guerra cibernética -- na qual a rede pode ser usada para desorganizar sistemas muito importantes de outros países. Neste caso, o monitoramento absurdo de e-mails da presidente Dilma e a vigilância das operações da Petrobras são "fichinha".

Reproduzo o texto do "NYT" sobre vingança on-line, por tocar em algo próximo do dia a vida

Ele era um sujeito "com um charme meio nerd", recorda Marianna Taschinger, 18 (foto acima), combinação irresistível para a adolescente de uma pequena cidade do Texas. Os dois namoraram, romperam, voltaram a namorar. Ele pediu que ela escolhesse um anel de noivado. Também fez outro pedido: que ela tirasse fotos nua e as enviasse. "Disse que se eu não mandasse as fotos, não confiava nele, e com isso não o amava", conta Taschinger. Segundo ela, ele prometeu jamais mostrar as fotos a ninguém. E ela acreditou, até dezembro passado, mais de um ano depois do rompimento, quando uma dúzia de imagens que a mostravam sem roupa foram postadas em um site que tem por foco a chamada "pornografia de vingança". Ela está processando o site e o ex-namorado.

     Os sites de pornografia de vingança publicam fotos postadas por ex-namorados, ex-maridos e ex-amantes, muitas vezes acompanhadas por descrições e detalhes que permitem identificação. As páginas, que vêm proliferando, são no geral imunes a processos criminais. Mas a situação pode estar mudando. Legisladores da Califórnia aprovaram, neste mês, a primeira lei cujo objetivo é controlar tais sites. A pornografia de vingança pode ter efeitos devastadores. Algumas vítimas dizem ter perdido empregos, recebido abordagens públicas de desconhecidos que reconheceram suas fotos, desfeito amizades e enfrentado dificuldades em seus relacionamentos familiares. Algumas dizem ter mudado até de nome.

       Quando as vítimas procuram a polícia, são invariavelmente informadas de que não há muito que fazer. Processos podem ocasionalmente resultar em pagamentos da parte de quem postou as fotos, ou no fechamento de um site. Porém, depois que as imagens estão na rede, terminam copiadas em dezenas ou centenas de outros sites.  Quando Holly Jacobs, da Flórida, mudou de nome para se dissociar de fotos postadas por um ex-namorado, ela logo as encontrou identificadas pelo seu novo nome. E os proprietários e operadores dos sites responsáveis contam com a proteção de lei federal, que os isenta de responsabilidade por material postado por terceiros. "É um modo bem fácil de impedir que uma pessoa arranje emprego, namore e de talvez colocá-la em risco físico", diz Danielle Citron, professora da Universidade de Maryland, que está escrevendo sobre o assédio on-line.

        Só Nova Jersey conta com uma lei estadual que permite processo criminal contra os responsáveis, ainda que a medida não tenha sido redigida tendo em mente a pornografia de vingança. Mas as propostas enfrentam oposição vinda de críticos que se preocupam com a possibilidade de que leis desse tipo violem a proteção constitucional à liberdade de expressão. E mesmo a lei californiana torna apenas algumas das formas de posts de vingança ilegais, como delitos puníveis por pena de prisão e pesada multa; a lei só se aplicaria a fotos tiradas por outros e postadas com a intenção de causar sério incômodo. "O texto perdeu força enquanto percorria o caminho do Legislativo estadual", diz Charlote Laws, que começou a pressionar por leis do tipo quando fotos de sua filha, Kayla, apareceram na web.

          Algumas mulheres que se tornaram vítimas de ex-namorados inconformados abriram processos civis contra eles alegando violação de direitos autorais, invasão de privacidade ou, em certos casos, pornografia infantil. Em Michigan, um juiz federal no mês passado concedeu indenização de US$ 300 mil em um processo aberto por uma mulher cujas fotos foram publicadas no yougotposted. Taschinger é uma das 25 queixosas, cinco das quais menores de idade, que estão processando a Texxxan.com, bem como a GoDaddy, a companhia que hospedava o site agora extinto, por invasão de privacidade.

         O ex-namorado de Taschinger, Eastwood Almazan, também é acusado, além de sete outros homens que o processo alega terem subido fotos de queixosas para o site. Por telefone, Almazan, 35, negou ter postado imagens de Taschinger ou de quaisquer outras mulheres. Ele disse que não conhecia o site Texxxan.com e que nem tinha computador.

        John Morgan, advogado em Beaumont, Texas, que representa Taschinger e as demais queixosas, disse que o site está sob investigação no Texas pela divisão de crimes cibernéticos do FBI e pela polícia do condado de Orange, na Califórnia. Nem todos concordam em tratar a pornografia de vingança como crime seja a melhor estratégia. Marc Randazza, advogado de Nevada que representa mulheres no caso contra o yougotposted, diz acreditar que soluções civis sejam preferíveis. "Por mais horríveis que eu ache as pessoas que fazem coisas desse tipo", ele disse, "será que precisamos de mais uma lei para colocar pessoas na cadeia nos EUA?".

       Alguns especialistas, como Eric Goldman, professor de direito na Universidade de Santa Clara, afirmaram que leis estaduais poderiam ser contestadas por violação de liberdades constitucionais. Um exemplo do formato que uma lei como essa poderia ter foi rascunhado por Mary Anne Franks, professora de direito na Universidade de Miami. Ela diz que a oposição a esse tipo de legislação muitas vezes deriva da atitude de culpar a vítima, de responsabilizar a mulher por permitir que as fotos fossem tiradas. "No momento em que surge a informação de que a mulher deu a foto voluntariamente ao par, a simpatia por ela some", diz Franks.

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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

DEPOIS DA ANESTESIA



O diagnóstico: hérnia de umbigo. Teria de operar. Pronto, de cara um "sossega leão" para que  dormisse bem pesado. Alguns minutos depois, meio zonzo, é levado do quarto. Lembra-se de percorrer corredores do hospital deitado numa maca, rumo à sala da cirurgia. Via as pessoas, as luzes, escutava os barulhos, mas tudo já parecia meio distante e um pouco embaçado. A sala de cirurgia era grande, bem espaçosa. Chegara a hora da anestesia. Uma enfermeira passa e, de relance, diz: "Vou cuidar de você, fique tranquilo". Estava calmo [em que estado poderia estar depois de tomar aquele torpedo sonífero?]. De repente, abre os olhos e vê um enfermeiro ao lado. A pergunta: "Quando vai começar?" A resposta: "Já acabou!"

    Fica perplexo. Tinha perdido a noção de tempo, não sentia dor, nada. Tudo tinha acontecido literalmente em um piscar de olhos. Se morrer for assim, apagar sem perceber, que bom! Divagou: nem vou ficar sabendo que morri. Que alívio! Desde a infância a morte nos corteja, pensamos nela, tememos o fim, imaginamos o que viria depois dela -- porque queremos, "do fundo de nossa alma", a continuidade, a "imortalidade" mesmo que em nova dimensão. Se ela existir. Desde que lhe contaram que o avô virara uma estrela no céu, e que só voltaria a falar com ele quando também se tornasse uma estrela, o assunto o aflige de algum modo. Sem saber, teve até o mesmo pensamento do cineasta espanhol Luis Buñuel, que gostaria de descer do além, de tempos em tempos, ler as notícias do dia e retornar às alturas celestiais.

     Numa dessas descidas, com sorte, leria histórias como a de Jason, que, depois de uma cirurgia de hérnia, não reconheceu a mulher, Candice, com quem é casado há seis anos. Ao acordar, meio grogue, ele começou a paquerá-la, como se fosse um amor à primeira vista. "O médico que mandou você aqui? Como você é linda! É a mulher mais linda que já vi. Você é modelo?" Ela, pega de surpresa, começa a rir, e diz: "Sou Candice, sou sua mulher. Estou aqui ao seu lado, coma a bolacha!". "Você é a minha mulher? Meu Deus, há quanto tempo". "A gente tem filhos?"."Ainda não". "A gente já se beijou?". Candice ri de novo e insiste para ele comer a bolacha. "Está difícil, baby", diz Jason, sentindo ligeira dor. "Por quanto tempo estamos casados?". "Muito tempo". "Meu Deus, tirei a sorte grande. Deixa eu ver seu rosto. Nossa, que dentes perfeitos. Vira de costas!". "Não! Come a bolacha". "Eu te dei esse anel? Devia estar gostando muito de você".

     Antes de voltar aos céus, após dar boas risadas com histórias como essa, confabularia consigo mesmo. Deveria existir uma cirurgia que "zerasse" os namoros ou os casamentos, para que pudéssemos viver tudo de novo, com direito a duas versões, como ocorre com aparelhos eletrônicos nos dias de hoje. Recomeçar do início ou de onde parou? De qualquer forma, em ambos os casos, o passado vivido teria sido apagado.

      De repente, de volta ao quarto, pergunta: "Já foi mesmo?". Estava estupefato com a rapidez da cirurgia, que normalmente dura uns 40 minutos. E durou, só ele que não notou. O médico cirurgião, então, reaparece em visitinha rápida: "Deu tudo certo, e você ganhou um umbigo de miss". Agradeceu [não pelo umbigo, claro!]. Como Jason, ele também estava bem zonzo e eufórico. Não parava de perguntar. "Acabou mesmo? Não senti nada", dizia à irmã que o acompanhou em sua primeira imersão hospitalar. "Estou ótimo, quero uma feijoada!", pede, com ironia. Risos. O médico pergunta: "Ele é sempre assim?". Exceto quando está com fome, revelou a irmã, sobre os humores do paciente.
    
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terça-feira, 24 de setembro de 2013

MENTIRAS URBANAS 1 - CÁPSULAS ANTICONTATO



As grandes cidades brasileiras cresceram muito rápido nos últimos 50 anos, e o Brasil passou a ter uma população urbana maior do que a rural. Esse processo gerou uma série de crises. São Paulo é o retrato mais fiel desse cenário caótico. Crise na moradia, porque não há dinheiro para fazer casas para todos. No saneamento, porque [além de não render votos, por ser obra invisível] a rede de esgoto não cresce na mesma velocidade dos loteamentos clandestinos nas periferias. E crise nos transportes [motivo pelo qual escrevo esse texto] porque a [i]mobilidade urbana não se restringe à falta de mais linhas de metrô e uma melhor organização do sistema de ônibus. Há um fator cultural: o brasileiro gosta de andar de carro -- gosto que foi "exportado" à nação pelo paulistano, que é viciado em quatro rodas desde os tempos dos corsos do carnaval. Arranha-céu é outro modelo paulistano ["comprado" de Nova York e também "exportado" à nação]. Enfim, carro é sinônimo de status e prédios, de suposto progresso. Em nome desses dois totens das cidades, atrocidades urbanísticas se espalham pelo país.

       São Paulo já se orgulhou dos slogans "a cidade que mais cresce no mundo" e "a cidade que não pode parar". Dois grandes equívocos dos anos 60 e 70. Pelas opções que fez, hoje paga o preço. A cidade está parada [quando se gasta uma hora de carro para trazer o filho da escola para casa, algo está muito errado]. A lei da física se impôs: dois corpos não ocupam o mesmo lugar [São 7 milhões de veículos]. Hoje se mede o tamanho dos congestionamentos por quilômetros, que já atingem com folga a casa dos três dígitos. Não existe mais "a hora do rush". Há "rush a qualquer hora". Se chover, então...

      Nos anos 60, na minha infância, lembro-me, você ia de Santo Amaro ao Centro de bonde. Hoje, o mesmo trecho, onde estavam só os trilhos foram feitas as avenidas Vereador José Diniz, Ibirapuera, uma na sequência da outra. O bonde subia e descia a Brigadeiro Luiz Antonio. Por que não se fez ali, naquela época, um metrô de superfície, ladeado pelas avenidas? Havia muito espaço desocupado no entorno. Era só trocar os trilhos, colocar trens e fazer as estações [o que está sendo feito agora, mas para uma linha subterrânea a um preço estratosférico]. Por que não se fez o mesmo na avenida 23 de Maio? Não devem faltar outros exemplos desse gênero pela cidade.

       Os anos 60 e 70 foram decisivos para os rumos de São Paulo: foi o período da construção de grandes avenidas, incluindo as Marginais, que deveriam ter sido feitas a um quilômetro distante das margens dos rios Tietê e Pinheiros, que hoje formariam um imenso parque linear de 40 km de extensão. Talvez o único no mundo. Agora só implodindo e explodindo coisas. Ou refazendo tudo, como no Largo de Pinheiros. Mas isso custa caro.

       A toque de caixa, a prefeitura está criando atualmente vários novos corredores de ônibus. A iniciativa é boa. Os carros ficarão mais espremidos do que já estão. Torço para estar errado, mas não acredito que muita gente irá trocar o carro pelos ônibus. O metrô parece ser mais aceito pelos futuros "ex-motoristas" -- mesmo que uma de suas principais virtudes, o conforto [além da velocidade, a limpeza e a ausência de freadas bruscas], tenha piorado nos últimos tempos, com a superlotação principalmente nos horários de pico.

       Já vi na TV muitos paulistanos dizendo que fariam a troca. É só pose. Pelas roupas e pelo modo de falar, dá até para perceber, nas entrevistas, que tem gente que nunca subiu num ônibus e nunca vai subir. Além disso, há outro problema [social], o preconceito. É velado, mas o contato com o povo parece incomodar muitos potenciais usuários. Boa parte da classe média e 100% dos que andam de SUV da Volvo nunca vão mudar seus hábitos individualistas. A solidão ao volante de um carro de luxo é muito mais confortável. É perfumada, tem ar-condicionado, música, celular, tevê, Facebook, "diversões" modernas praticadas quando se está retido nos engarrafamentos. Até cortar as unhas [já vi isso] está valendo para aliviar o estresse, ou para não perceber o tempo perdido dentro das "cápsulas anticontato".

      Recentemente, fiz um teste [obrigatório, após uma ralada feia que dei no meu carro havia a necessidade de reparos na funilaria]: durante 10 dias fui de casa, na Vila Olímpia, ao trabalho, na Barra Funda, de ônibus e metrô. De carro, gastei de 30 a 40 minutos. De ônibus [corredor Santo Amaro-Nove de Julho] e metrô, a vantagem é econômica. Em tempo, foram de 40 a 50 minutos, incluindo dois trechos a pé. [Me surpreendi de forma positiva, mesmo gastando um pouco mais de tempo] Andei de ônibus e metrô até os meus 21 anos. Não percebi muita diferença entre o passado e o presente nos ônibus. Não estão mais sujos ou apertados do que antes. Acho até que tiveram ligeira melhora. Mas a grande surpresa foram os corredores, onde a velocidade aumentou, é perceptível. Só medidas impopulares -- e com efeitos imprevisíveis -- poderiam mudar esse cenário, forçar o paulistano reticente a mudar de costume. Mas ninguém quer mexer em vespeiro.

     O carro é o vilão da vida moderna. Quem se candidata a ser o vilão dos carros e, eleitoralmente, de si mesmo?

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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

OS INCOMODADOS QUE SE MUDEM



Deu na "Folha" hoje que moradores de São Paulo se queixam da cantoria dos sabiás-laranjeiras. Na verdade, a reportagem mostra duas pessoas assumindo publicamente que se sentem incomodadas. Devem existir mais. Mas fiquei estarrecido. Na minha infância e adolescência, adorava observar os sabiás-laranjeiras ciscando no gramado de casa, no Alto da Boa Vista, zona sul da capital, uma região que ainda é verdejante.

Especialistas dizem que esse pássaro canta principalmente para defender o território de outros machos e seduzir a fêmea. O canto noturno dura cerca de 2 horas. Segundo depoimento dado à "Folha" por um ornitólogo, a fêmea entende essa paquera "sinfônica" do seguinte modo: o macho que gorjeia com mais vigor, em tese, é mais capaz de alimentar os filhotes e defender o ninho dos predadores. A cantoria começa com a chegada da primavera e se estende até o verão, época de acasalamento. Os sabiás são bons cantores.

 A opinião da jornalista Simone Galib, hoje (16 de setembro), no Facebook

"Há pessoas reclamando do barulho dos pássaros [em São Paulo], mais especificamente do sabiá- laranjeira. Pois digo que eles são uma verdadeira bênção em minhas madrugadas. Adoro ficar na varanda ouvindo essa sinfonia inusitada de primavera... que se espalha por toda a casa.
Como passarinhos podem incomodar tanto os humanos, que dormem com a TV ligada, fones de ouvidos de seus celulares, roncos e até mesmo com o barulho ensurdecedor de seus pensamentos? E nada disso os incomoda, claro! Que os sabiás continuem cantando cada vez mais alto e os incomodados que se mudem!


A minha sugestão

Os incomodados que se mudem... para outro planeta!

Em tempo: já estão abertas as inscrições para a colonização de Marte, a partir de 2023. O bilhete é só de ida. Lá não há sabiás -- aliás, nenhum pássaro, nenhum animal. Não tem também florestas, nem rios caudalosos, nem oceanos, e a temperatura varia de 70 graus negativos a 17 positivos. Ah, tem muita tempestade de areia. Só não vai enxergar quem não quiser ver.

Sugiro que os incomodados levem na bagagem um livro do escritor Gonçalves Dias, com a poesia "Canção do Exílio", porque podem dela se lembrar. A primeira estrofe diz:

"Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá."

Em Marte, não se ouve um pio. Nada mais foi dito, nada mais foi perguntado.

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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O SHORTINHO DA DISCÓRDIA


Que pai não se preocupa com as roupas que os filhos usam? Pois é, é nessa hora que surge o "careta" que há dentro de nós -- e às vezes não conseguimos contê-lo. Num mundo em que a sensualidade foi substítuída pelo erotismo [quando não pela vulgaridade], lidamos mal com isso, quando o assunto envolve nossos filhos e filhas [certamente é mais difícil com filha.] Esquecemos que já fomos adolescentes e que aprendemos fazendo todo o tipo de bobagem, já fomos mais contestadores [certos ou equivocados] e "tribais". Já usamos aquele velho argumento "eu me visto como quero", "eu gosto assim e pronto", "não estou nem aí para o que vão dizer". Hoje, olhando fotografias antigas, nos divertimos ao ver nossas modas e modinhas do passado -- confesso que muitas são legais, nos fazem rir, e outras são realmente ridículas [por si só ou inadequadas para determinadas situações].

      Nos Estados Unidos, um pai -- que não conseguia demover a filha Myley da ideia de usar um short bem curto em jantar com a família -- tratou de "radicalizar". "Só quis mostrar que não é tão bonito quanto ela pensa", disse ele, segundo o site "Mail Online". Para ensiná-la a se vestir de modo "apropriado", Scott Mackintosh pegou uma tesoura e cortou uma calça jeans velha no mesmo comprimento que a roupa da filha e saiu vestido também de shortinho para o jantar (foto acima). Os filhos, hipnotizados por seus celulares, não perceberam o traje improvisado do pai. Só quando estavam perto do restaurante, a filha "rebelde" indagou sobre o motivo pelo qual o pai estava vestido daquela maneira.
  
       Inicialmente, a estratégia não deu muito certo, porque a adolescente não se mostrou constrangida com a atitude do pai. "Bom, não me importo", esnobou Myley (foto abaixo). Então, Scott resolveu ir a outros lugares públicos usando aquele short pequeno e rasgado. Mas na terceira parada, uma sorveteria, a família toda [pai, mãe e o irmão] desceu do carro. Ela, envergonhada, preferiu ficar no veículo. A fotografia de Scott de shortinho acabou publicada no Facebook e virou "viral" na internet, a ponto de Scott ser convidado a dar entrevista para uma emissora de TV local, em Utah.

      "Tenho certeza de que o modo como nos vestimos envia mensagens sobre nós, e influencia na forma como nós e os outros agimos", afirmou Scott, explicando que, queiramos ou não, os códigos sociais, quando desobedecidos, podem custar a credibilidade da pessoa ou criar falsas impressões. "Não sei se minha filha entendeu o recado, mas de qualquer forma ela sempre saberá que seu pai a ama, e se importa com ela o suficiente para fazer papel de bobo, de maluco, fora de si", declarou.

      PS - Mas o tempo muda algumas coisas. Era muito ousado homem usar brinco há 30 anos. Tatuagem era coisa de tolo e bandido... Piercing, nem pensar!
                                      


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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

USP-LESTE, PRONTA PARA EXPLODIR


É inacreditável e de lascar a informação de que o campus da Universidade de São Paulo-Leste (conhecido por USP-Leste) tenha sido construído sobre uma área contaminada. O caso revela com rara clareza como é o tratamento dispensado pelo governo à Educação. Alunos -- cerca de 6 mil --  e professores podem "ir pelos ares" devido à concentração de gás metano, substância tóxica e altamente inflamável. Não é à toa que os docentes entraram ontem (dia 10) em greve por tempo indeterminado no campus de Ermelino Matarazzo, zona leste da capital. Embora o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), tenha dito que não há riscos, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) -- provavelmente para não ser acusada de omissão -- colocou uma placa de aviso num ponto onde pode haver perigosa concentração de gás. A placa diz com todas as letras (foto acima) que a "área está interditada por conter contaminantes com risco à saúde".

        Segundo a "Agência Brasil", a Cetesb informou que já autuou a USP-Leste em 2 de agosto, para "o cumprimento do que consta na licença de operação". Foram feitas exigências técnicas para evitar um acidente grave. Ainda de acordo com a agência de notícias, está prevista a realização de um mapeamento e a interdição de áreas conforme o grau de risco -- que é real se o gás ficar retido em recintos fechados.
 
       Adriana Tufaile, da diretoria da Associação dos Docentes da USP, é necessário que a unidade seja interditada porque, segundo ela, há risco de que o gás metano possa entrar em combustão. "Nós queremos transparência e informações mais completas", disse. Por nota, a USP reconheceu que o campus Leste foi erguido em uma área "ambientalmente problemática". Durante a obra [para aplainar o terreno onde foram erguidos os prédios da USP-Leste] foram despejadas terras de origem desconhecida, que provavelmente continham lixo orgânico. Análises laboratoriais posteriores demonstraram que estavam contaminadas. A universidade já instaurou sindicância para definir as ações -- como a instalação de dutos exaustores de gás.

     "As exigências estão sendo cumpridas na medida do possível, levando em consideração os mecanismos de contratação de serviços por meio de processos licitatórios", diz a nota da USP, sugerindo que o processo legal é demorado. A USP-Leste é a sede da Escola de Artes, Ciências e Humanidades. As aulas estão suspensas até pelo menos a próxima segunda-feira (dia 16).


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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

ESTÁ ESFRIANDO OU ESQUENTANDO?


 
Afinal, a Terra está esquentando ou esfriando? No que acreditar? Parece que os cientistas estão divididos [ou perdidos?]. Já houve tempo em que a teoria do aquecimento era quase unânime na comunidade científica: o mundo estaria bem perto de uma castástrofe ambiental, com o degelo nos pólos e a elevação do nível da água nos oceanos, entre outras mudanças climáticas graves. O tema já foi alvo de debates em importantes encontros internacionais, resultando em várias previsões [algumas dramáticas] e a criação de protocolos e metas pelos países. De alguns anos para cá, porém, os cientistas mudaram o discurso, e ganhou adeptos a tese de que a Terra, na verdade, está esfriando. De que o tal aquecimento global "deu um tempo" desde 1997.

      As discussões ficaram mais acaloradas e a tese do aquecimento tomou uma ducha de água fria, com imagens de satélite mostrando que a calota polar ártica cresceu 60% de agosto de 2012 a agosto deste ano [veja imagem acima]. Essa camada ininterrupta de gelo ocupa hoje uma área de quase um milhão de quilômetros quadrados, o equivalente a mais de meia Europa, antes mesmo do começo do outono no hemisfério norte. [Há, porém, quem questione esse dado, apontando como necessária uma avaliação da espessura da calota de gelo]. A imagem de 2012 [acima à esquerda] mostra o menor tamanho da calota do Ártico na história.
      
        Segundo o "Mail Online", as imagens impressionantes do aumento da calota polar em 2013 fizeram com que a divulgação do Relatório do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas (IPCC) fosse adiada. O vazamento de parte de seu conteúdo levou cientistas a dizer que o mundo caminha para um resfriamento que deve prosseguir pelo menos até meados deste século. Isso contradiz as previsões feitas há vários anos por computador [e divulgadas pela BBC] que davam como certa a extinção catastrófica da calota do Ártico no verão de 2013, devido ao aquecimento global -- e resultante principalmente da emissão de carbono pela humanidade.

     Claro que essas previsões e informações envolvem não somente os ambientalistas: elas interferem também nos rumos da economia mundial. Vários países investiram milhões de dólares em "medidas verdes", em razão das projeções do aquecimento global. Entre especialistas as incertezas ficaram maiores. Na comunidade acadêmica, há quem considere que o mundo pode estar próximo de um período semelhante ao 1965-1975, quando houve clara tendência de resfriamento. [À época, alguns cientistas previam uma iminente nova era glacial.] O IPCC diz que é "95% certo" de que o aquecimento global foi provocado pela ação do homem. Ou seja, de que os ciclos da natureza não são suficientes para explicar o aumento, nos últimos 150 anos, das temperaturas e seus efeitos na vida no planeta Terra.

     Se eles não se entendem...


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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

VOTO ABERTO AMPLO, GERAL E IRRESTRITO



Houve época em que as palavras de ordem eram "abaixo a ditadura" e "anistia ampla, geral e irrestrita". Era o tempo soturno dos coturnos, o pós-golpe militar de 1964. Muita gente boa, honesta, e oposicionistas tiveram que deixar o país, em auto-exílio, para não serem presos, torturados ou mortos. Depois de 10 anos no poder, governando por atos institucionais e censurando qualquer contestação, os militares sofreram seu primeiro revés, nas urnas. Em 1974, a oposição permitida, chamada de Movimento Democrático Brasileiro (MDB), ganhou pelo voto popular 16 das 22 cadeiras no Senado, derrotando a governista Aliança Renovadora Nacional (Arena). Depois, a partir de 1976, as universidades "pegaram fogo" e os estudantes foram às ruas contestar o regime militar. Em seguida, ressurgiram as greves de trabalhadores, com assembleias que reuniam 100 mil operários no estádio da Vila Euclydes, no ABC paulista, berço de Lula. A ditadura acabou em 1985.

        Quase 30 anos depois de restauração da democracia, da reforma da Constituição em 1988, da volta da liberdade partidária, das eleições diretas para todos os cargos, do impeachment do presidente Collor, por corrupção e uso de caixa 2 nas eleições, o país passou a se frustrar ano após ano com os políticos, apesar da importante conquista da estabilidade econômica. Pipocaram casos de suspeita de  corrupção no governo Fernando Henrique, como a comprovada compra de votos para a emenda da reeleição. O mesmo veio a ocorrer recentemente, com o mensalão no governo Lula. A população se cansou da impunidade e foi às ruas protestar em junho deste ano. O país passou a viver sob uma crise de representação, e o alvo principal é o Congresso -- que hoje não cassa nem deputado condenado por crime de desvio de dinheiro público, mesmo com o meliante já devidamente enjaulado.

       Com o Congresso "descolado" da sociedade e legislando em causa própria [como, por exemplo, nos reajustes elevados de seus salários etc], a nova palavra de ordem passou a ser "Voto aberto amplo, geral e irrestrito", em todos os legislativos. O voto aberto permite maior poder de fiscalização dos parlamentares pela população. Tanto em projetos e votações de temas importantes como em momentos de crise [no caso a cassação de um deputado], o voto aberto é melhor. O voto secreto deve ser um direito apenas do eleitor, para evitar que ele sofra pressão de "coronéis", para evitar represálias contra os descontentes, para sepultar o "voto de cabresto".

      A Câmara dos Deputados acaba de aprovar o fim do voto secreto. Mas isso não impede que o Senado -- o projeto ainda deve tramitar ali por dois meses -- altere o texto. Os senadores poderão manter o voto secreto, por exemplo, em casos de avaliação de vetos presidenciais. E mais: há outro projeto que só obriga o voto aberto em cassações de mandato. Por que os deputados e senadores temem tanto o voto aberto? Foram eleitos para representar ideais de seus eleitores, a eles devem satisfação. Querem esconder o quê? Ser parlamentar não é uma profissão, é uma representação com prazo de validade. Voto aberto é transparência.Voto secreto sugere segundas intenções e casuísmos.

     PS - Em tese, o voto secreto só funcionaria em regimes fechados, quando os parlamentares poderiam votar "livremente", atenuando a pressão de um governo ditatorial. Mas numa ditadura, o Congresso pode ser simplesmente fechado.

    

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O ERRO QUE DUROU 21 ANOS, MAIS 28



Militares contestaram o mea culpa das Organizações Globo, que anunciaram no último sábado (dia 31 de agosto) em editorial ter se arrependido de apoiar o golpe militar de 1964, que colocou o Brasil nas trevas da ditadura por 21 anos. Não é preciso explicar muito para entender o motivo pelo qual as equipes de jornalistas da Globo são hostilizadas e até expulsas das manifestações de rua desde a luta pela volta da democracia até hoje, como aconteceu nos protestos de junho passado. Recentemente, manifestantes ainda arremessaram estrume na sede da Rede Globo em São Paulo.

Em nota oficial, os militares dizem ser uma "mentira deslavada" a razão alegada pela Globo para reconhecer [só agora, 28 anos depois do fim da ditadura militar] o que a emissora chamou de "erro redacional".

Para entender o caso, leia a íntegra da nota oficial divulgada hoje (4 de setembro) pelo Clube Militar:

"Numa mudança de posição drástica, o jornal O Globo acaba de denunciar seu apoio histórico à Revolução de 1964. Alega, como justificativa para renegar sua posição de décadas, que se tratou de um “equívoco redacional”.

Dos grandes jornais existentes à época, o único sobrevivente carioca como mídia diária impressa é O Globo. Depositário de artigos que relatam a história da cidade, do país e do mundo por mais de oitenta anos, acaba de lançar um portal na Internet com todas as edições digitalizadas, o que facilita sobremaneira a pesquisa de sua visão da história.

Pouca gente tinha paciência e tempo para buscar nas coleções das bibliotecas, muitas vezes incompletas, os artigos do passado. Agora, porém, com a facilidade de poder pesquisar em casa ou no trabalho, por meio do portal eletrônico, muitos puderam ler o que foi publicado na década de 60 pelo jornalão, e por certo ficaram surpresos pelo apoio irrestrito e entusiasta que o mesmo prestou à derrubada do governo Goulart e aos governos dos militares. Nisso, aliás, era acompanhado pela grande maioria da população e dos órgãos de imprensa.

Pressionado pelo poder político e econômico do governo, sob a constante ameaça do “controle social da mídia” – no jargão politicamente correto que encobre as diversas tentativas petistas de censurar a imprensa – o periódico sucumbiu e renega, hoje, o que defendeu ardorosamente ontem.

Alega, assim, que sua posição naqueles dias difíceis foi resultado de um equívoco da redação, talvez desorientada pela rapidez dos acontecimentos e pela variedade de versões que corriam sobre a situação do país.

Dupla mentira: em primeiro lugar, o apoio ao Movimento de 64 ocorreu antes, durante e por muito tempo depois da deposição de Jango; em segundo lugar, não se trata de posição equivocada “da redação”, mas de posicionamento político firmemente defendido por seu proprietário, diretor e redator-chefe, Roberto Marinho, como comprovam as edições da época; em segundo lugar, não foi, também, como fica insinuado, uma posição passageira revista depois de curto período de engano, pois dez anos depois da revolução, na edição de 31 de março de 1974, em editorial de primeira página, o jornal publica derramados elogios ao Movimento; e em 7 de abril de 1984, vinte anos passados, Roberto Marinho publicou editorial assinado, na primeira página, intitulado “Julgamento da Revolução”, cuja leitura não deixa dúvida sobre a adesão e firme participação do jornal nos acontecimentos de 1964 e nas décadas seguintes.

Declarar agora que se tratou de um “equívoco da redação” é mentira deslavada.

Equívoco, uma ova! Trata-se de revisionismo, adesismo e covardia do último grande jornal carioca.

Nossos pêsames aos leitores."

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terça-feira, 3 de setembro de 2013

EM NOME DE DEUS



Imagine se Deus usasse a justiça dos homens para processar quem pronuncia o seu nome em vão. Isso faria certamente a alegria dos advogados, que ficariam ricos mais rapidamente. Deus ganharia milhares de ações por calúnia, difamação e danos morais. Em nome dele, fala-se de tudo, justifica-se qualquer coisa, ato ou ideia. Vende-se a alma a qualquer preço, compra-se pensamentos ruins e baratos, arrecada-se dinheiro [muito dinheiro] de quem não tem onde cair morto. Em nome dele, uma pessoa se mata (que Deus a tenha), pessoas são mortas [que Deus nos perdoe] e há até casos em que corruptos foram filmados [com sacolas cheias de dinheiro] orando pela "graça alcançada". É um escárnio, mas Deus -- se é que ele existe mesmo -- não tem nada a ver com isso.
 
      Você liga a televisão e escuta blasfêmia atrás de blasfêmia [Deus me livre]. Passeando pelos canais, você dá de cara com um torneio de MMA [Mixed Martial Arts], que dizem ser um "esporte". Deve haver algum engano aí. Trata-se de um espancamento autorizado. Não há esporte no MMA [nem no boxe]. O objetivo é esmurrar o adversário, fazê-lo sangrar, feri-lo com socos, cotoveladas e joelhadas mesmo quando o rival já está desacordado. O curioso é que após esse banho de sangue nos octógonos, grande parte dos vencedores, em entrevistas, ainda agradece "a Deus" por ter quase matado um oponente [e por isso vai ganhar um bom dinheiro]. Um locutor famoso até que tentou "glamourizar" essa selvageria, chamando os lutadores de "gladiadores do 3º milênio". É a decadência humana. Na minha concepção, só é esporte aquele jogo ou atividade em que o objetivo é ganhar fazendo mais pontos ou errando menos, ou sendo o mais veloz ou o mais alto...

      Mudo, então, de canal e me vejo diante de Valdemiro Santiago, chefão da Igreja Mundial, que pretende comprar a MTV. Sim, é ele mesmo, aquele sujeito [dissidente do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal] que, usando um chapéu de boiadeiro, se auto-proclama "apóstolo" e afirma que Deus opera milagres através dele. Costuma pedir dinheiro no ar ["preciso de R$ 700 mil agora!"], sem nenhum rubor, para supostamente pagar programas na TV, em horário arrendado ["porque sem isso, essa obra acaba"]. Você sabe, as igrejas têm isenção de impostos. É a garantia perfeita para a lavagem de dinheiro.

     Mudo de canal outra vez [não estou com sorte, Deus me ajude] e me vejo, de novo, diante de outro bispo, R.R. Soares, da Igreja Internacional, que aliás conseguiu permissão da Anatel para comprar do Grupo Abril três operadoras de serviço especial de TV por assinatura. Tudo em nome de Deus. Como disse o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987): "Meu Deus, por que me abandonastes/ se sabias que eu não era Deus/ se sabias que eu era fraco". [Deus te ouça, pelo amor de Deus!]
   Mudo outra vez de canal, e o zap corre, corre, corre e pára na Rede Vida, da Igreja Católica, na hora de um programa que explica o Evangelho. O "timer" expirou, a televisão desliga sozinha. [Deus lhe pague!]


  

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

ATÉ SEMPRE, LORRAINE



                                                           
Quando o papel venceu a internet. Após 75 anos de casamento, Fred Stobaugh, se viu sozinho. Seu único amor, Lorraine, morreu aos 91 anos em Illinois, nos Estados Unidos. A dor pela perda levou Stobaugh, com 96 anos, a participar de um concurso musical promovido pelo estúdio Green Shoes. Ele jamais poderia imaginar que a sua história de amor pudesse virar música e entrar na lista das 10 mais vendidas da iTunes Store americana, segundo a revista RollingStone.

     Stobaugh escreveu uma letra em homenagem à esposa e a enviou pelos correios para o estúdio. Na carta, ele também falou da saudade que sentia e dos anos vividos juntos. O estúdio recebeu dezenas de e-mails com links das músicas dos concorrentes. Só a de Stobaugh veio num envelope de carta, por isso chamou a atenção. Na letra da canção, escrita a mão um mês após a morte de sua companheira de vida, ele diz: "Doce Lorraine, gostaria que pudéssemos viver todos os bons momentos de novo/ Doce Lorraine, a vida só acontece uma vez, nunca de novo". Pego de surpresa, o pessoal do estúdio resolveu então investir, com músicos e cantor profissionais, e criar uma melodia para a letra de Fred Stobaugh. O vídeo mostra a primeira vez em que Stobaugh ouviu a versão final, que ganhou o nome de “Oh, Sweet Lorraine”. "Espero que você goste", disse um dos envolvidos na gravação. Após ouvir a canção, Stobaugh, muito emocionado, disse: "Maravilhoso, maravilhoso, maravilhoso, parece um sonho, mas é real, é real". A história repercutiu na comunidade local e virou tema nas escolas.

       Escute a música "Oh, Sweet Lorraine"

       A repercussão na comunidade



quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A CHEGADA DOS HOMENS DE BRANCO



Mais que deplorável, uma vergonha, a reação dos médicos brasileiros à chegada de seus pares cubanos para atuar nos rincões miseráveis do Brasil, onde muita gente só sabe o que é um médico pela televisão. Com sorte, atualmente, há quem seja atendido por um médico uma vez por ano. Essa é a realidade drástica fora das grandes cidades do país e nos lugares mais distantes da costa. As vaias e os gritos de "escravos" no aeroporto são um triste retrato do corporativismo sem sentido -- que coloca sob holofotes apenas uma das várias fraturas expostas da saúde brasileira: a má distribuição de médicos pelo território nacional.

      Para quem mora numa dessas regiões desassistidas, pouco importa a língua que os homens de branco falem. A presença deles pode significar a diferença entre viver ou morrer. Pode significar o combate a um leque de doenças, algumas muito perigosas, em que a prevenção [ou um tratamento cedo] evitaria óbitos, principalmente de crianças. O espanhol não é, digamos assim, um idioma de difícil compreensão, quando falado pausadamente. Em duas viagens a Alcântara, no Maranhão, em férias escolares [portanto faz tempo], conheci o filho de um pescador de camarões de quem acabei ficando chapa. Ele me contou certa vez que já recebera outro hóspede em sua casa e que ele falava um "português meio enrolado". Na conversa, descobri que era um uruguaio.

     Ao ouvir os gritos de "escravos" no aeroporto, um cubano entendeu o que falavam, e reagiu: "Não sei porque diziam isso. Não vamos tirar seus postos de trabalho. Seremos escravos da saúde, dos pacientes doentes". Nas redes sociais, leia-se Facebook, o tema virou motivo de agressividade entre internautas. Uma jornalista gaúcha, que depois se arrependeu e se retratou, chegou a dizer que as recém-chegadas "médicas cubanas têm cara de empregada doméstica". Estava falando obviamente de médicas negras, preconceito e racismo em estado bruto. Pois é, as aparências enganam. Na ilha de Fidel -- com todos os erros e fracassos econômicos -- o analfabetismo foi praticamente zerado. O problema lá é de outra ordem: um barman de hotel em Varadero me revelou que era formado em engenharia naval, mas preferia servir drinques e petiscos porque ganhava mais. Não vale a pena revelar o quanto mais. É irrisório.

     Há 20 anos estive em Cuba, e ouvi o dilema de uma jovem em Havana. Perguntei porque falava mal de Fidel, e ela me respondeu: "Não estou falando mal, sem ele eu seria uma empregada doméstica. Não teria feito faculdade. Mas quero comprar sapatos". À época, salvo engano, o planejamento estatal só previa a compra de um par, por ano, por pessoa. Nossas médicas bem-sucedidas vestem Prada e podem comprar quantos sapatos quiserem. Não querem comer poeira, depois de anos de formação. É um direito legítimo. Mas não tem sentido tentar impedir o direito à vida dos esquecidos, aqueles que só são lembrados em ano eleitoral.

     O argumento de que não há infraestrutura nesses locais é de conhecimento geral. É assim há décadas. A corrupção, o desvio de dinheiro e o fato de a maioria dos municípios brasileiros não ser auto-sustentável [são dependentes de verbas federais] explicam grande parte dessa tragédia. Para quem nada tem, ser atendido por um médico é a salvação. É uma chance, ainda que precária. Nos idos dos anos 90, fui a trabalho para uma cidade no interior de Rondônia. Ali só havia um médico. Não havia equipamentos básicos, e ambulância só uma vez por semana, ou em caso de urgência, vinda de outra cidade próxima. A fila era grande, com gente de tudo o que é lugar nas redondezas. Ninguém se atreveu a falar mal daquele homem: "Ele é tudo o que temos, e atende a todos", disse uma mulher com o filho no colo.

     É preciso dizer mais?

     

terça-feira, 27 de agosto de 2013

CASAL FAZ SUA PRÓPRIA PELADA


Casal faz 1 a 1 no círculo central, após jogo sonolento

       Todo mundo tem seus desejos primitivos secretos, guardados a sete chaves pelos casais e posto em prática com a evolução da vida a dois. Há quem aprecie sexo com o barulho das ondas, sobre uma canga na praia em noite de lua cheia [sem a metáfora religiosa e pecadora do Conde Drácula]. Ou debaixo de uma camionete parada na garagem do pai da garota, ou na escadaria de incêndio de um prédio, ou em elevador parado pela falta súbita de energia. Nessas ocasiões, o medo de ser flagrado aumenta a emoção, imagino. E a criatividade supera limites nessa hora.

      Pois bem, um casal foi flagrado fazendo sexo quase no meio do campo do Brondby Stadium, em Copenhague, no último domingo (dia 25 de agosto). Os dois jovens assistiram a partida entre Brondly e Randers, pelo "esfuziante" campeonato dinamarquês. Depois, escondidos, esperaram o estádio ficar totalmente vazio, invadiram o gramado, foram até o centro do campo e se engalfinharam. Sem aplausos ou vaias, o coito foi interrompido por um segurança, que deu cartão vermelho para a dupla, obrigando-a a se retirar do local sem o grito de gol.
  
     O jogo propriamente dito foi chocho: Brondby e Randers ficaram num sonolento 0 a 0. Pelo jeito, o casal dinamarquês queria um jogo mais quente. Trataram então de realizar sua própria pelada, partiram pro 1 a 1. O episódio foi fotografado e a imagem, postada no twitter por Mikkel Davidsen, assessor de imprensa do Brondby. Somos todos "feticheiros"?


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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

FELIZ ANIVERSÁRIO, TODOS OS DIAS


Reza a cartilha dos bons costumes que deve-se enviar votos de saúde, felicidade e sucesso nas datas de nascimento de familiares, parentes e amigos. É mais que uma gentileza, é uma lembrança forte, uma retomada [em muitos casos] ou uma reafirmação da amizade e amor para quem está [ou esteve] por perto, no sentido mais amplo da palavra. Com o Facebook, porém, esse gesto ganhou outra dimensão. Porque a máquina nunca esquece e, como um despertador, dá o alerta com antecedência.

       Por isso, não é de hoje que penso o quanto me é "incômoda" [entre aspas] a lista de aniversariantes do dia que o Facebook fornece. Não é de hoje a vontade de escrever sobre esse dilema pessoal diário. É um assunto delicado, envolve amizades reais e virtuais, e tudo o que eu disser pode ser mal interpretado etc e tal. Todos os dias olho para o canto direito da tela com uma certa aflição, porque ali, me esperando, está o clique dos festejados. Tem até a imagem de um bolinho aceso. Quem serão os homenageados da vez? O que vou escrever? No ano passado, tentei ser criativo, em uma linha! O que vou dizer hoje? Será que a lista aumentou muito?

       Fiz as contas e constatei: não há dia livre. O Facebook registra que tenho 729 conexões. Ou seja, 729 aniversariantes. Devo então parabenizar duas pessoas por dia, em média. Haja criatividade para dizer, com outras palavras, "estou te olhando", "torço por você", "me lembro de você" ou "gosto de você". Fico imaginando, então, como é para quem tem 5 mil "amigos"? Esse indivíduo tem que mandar sua consideração para 13 pessoas por dia, em média. Trata-se de uma missão impossível. Nesse caso nem apelando para algo mais impessoal, protocolar, o carimbo da resposta padrão: "Parabéns, tudo de bom!", usando de um velho e conhecido expediente, o "cut and paste" [copia e cola] para todos. Não vejo mal nisso, afinal a saudação está sendo dada. Há uma deferência, ainda que a nossa pressa insana mecanize até nossas melhores relações.

      Acontece que há amigos e amigos. Os próximos e os longínquos. Os antigos e os novos. Os afinados e os desafinados. Os presentes e os ausentes. Portanto, para alguns é preciso mais zelo, uma saudação personalizada, mesmo que em uma frase apenas. Outro dia, recebi uma mensagem por e-mail logo ao "abrir os trabalhos" em casa. Era um lembrete ou uma ameaça? [fiquei na dúvida] "Hoje você tem 5 aniversariantes", dizia a mensagem. Só faltou falar: "Vai encarar?" Me questionei: quem mandou ter tantos amigos, colegas de profissão e conhecidos de todos os tempos e gêneros? Claro, enviei minhas cinco mensagens de "estamos juntos nessa".

     Por outro lado, para o aniversariante, o único jeito de responder à avalanche de mensagens é esperar o dia seguinte e fazer um agradecimento geral, amplo e irrestrito. [o recado acaba até chamando a atenção de retardatários] Seja como for, esse ritual moderno, essa ilusão facebookiana, nos faz acreditar que "não estamos sozinhos" nesse mundo. Ele infla a autoestima do felizardo -- e isso é tudo o que o felizardo quer e precisa. Ser o bem amado [pelo menos] por um dia.