Digo isso porque li num artigo da BBC que cerca de 100 mil terráqueos já se increveram para uma viagem com destino a Marte. Detalhe, com bilhete só de ida. Trata-se do projeto "Mars One", liderado por um cientista holandês chamado Bas Lansdorp, que pretende colonizar o planeta vermelho a partir de 2023. O custo do projeto interplanetário, segundo os organizadores, é da ordem dos U$ 6 bilhões, incluindo, além do voo propriamente dito, as moradias. O que mais impressiona é saber que só 24 dos inscritos terão essa "oportunidade", única e inédita. Essa jornada está mais concorrida que vestibular: 4.166 candidatos por vaga, de astronauta.
Fico imaginando como seria a vida em Marte, com apenas 24 "desbravadores". Quantos serão homens, quantas serão mulheres? O que fariam lá? O que comeriam? Com 24 pessoas, não seria necessária a produção de excedentes, a nova humanidade voltaria a viver numa era pré-capitalista? Não haveria dinheiro? Não haveria crimes, assaltos? Sem carro, que bom, sem congestionamentos? Quais seriam as atividades de lazer? E elas dariam conta de criar a sensação de felicidade? E sexo, só para a reprodução [e teríamos o primeiro marciano de verdade]? Ou toda luxúria seria permitida, já que seriam tão poucos os humanos em Marte? Quem seria o líder da comunidade? Haveria um chefe? Seria essa uma oportunidade de criar uma sociedade diferente, ou repetiríamos os mesmos acertos e erros? Como seria a cartilha da sobrevivência e do convívio pacífico? Seria permitido voltar, desistir daquela vida, quando uma eventual segunda leva humana chegasse ao planeta vermelho?
Tenho a impressão de que todos os 24 da primeira leva adorariam retornar ao planeta azul no primeiro voo que aparecesse por ali, desesperados, depois de um ano vivendo como náufragos em uma ilha deserta. E viriam cantando, "eu voltei, agora pra ficar, aqui é o meu lugar". Isso me lembra uma palestra que assisti numa escola de inglês que organizou uma viagem para a Grã-Bretanha. Eu tinha 14 anos, e meu pai havia dado autorização para minha primeira imersão inglesa. Era como ir para outro planeta. Só que habitado por seres que falam outra língua e -- para mim mais interessante -- onde se escuta rock. O professor falava dos riscos e do modo de ver as coisas dos londrinos. "Olhe para os dois lados antes de atravessar a rua, as mãos são diferentes, não quero trazer ninguém de volta atropelado" etc etc etc etc. Ele descrevia detalhadamente várias situações do cotidiano inglês, quando ouviu-se uma gargalhada. Silêncio rompido, e o professor, embaraçado, perguntou qual era a dúvida. Era algo muito simples, uma provocação. "E se eu quiser tomar um suco de jaca, como devo fazer?", disse um senhor bem-humorado no fundão da sala, para uma nova gargalhada geral.
Em Marte, pelo projeto, não terá padaria [quanto mais suco de jaca]. Isso já seria o suficiente para a minha desistência. Adoro um pãozinho quente. E se você quisesse comer um churrasco? O clima permitiria homens de sunga e mulheres de biquíni, mesmo sem ter piscina ou mar? E construiríamos um boteco, com mesa ao livre pra bater papo? E a falta de árvores, incomodaria? E a falta de gente?
A taxa de inscrição para essa jornada é acessível, de US$ 15 a US$ 38 (R$ 60 a R$ 150). Quem se habilita? Diz o organizador que já há gente de 120 países, inclusive do Brasil, sonhando com um outro mundo. Mas nem por um US$ 1 eu trocaria o planeta azul [e sua miséria humana] pelo vermelho [e sua temperatura amena de inverno de até 130 graus negativos].
Prefiro encher a cara de vinho, caipirinha ou dry martini e viajar para Marte [ou qualquer outro planeta "promissor"] só na imaginação. Que tal bebermos hoje? Que tal uma batidinha, um chope gelado e uma porção de bolinho de bacalhau crocante? Não me venha dizer que há (ou haverá) vida em Marte. Todo mundo sabe que não há. Não, pelo menos, da que gostamos.
Fonte - Mais de 100 mil se inscreveram para uma viagem sem volta a Marte
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Muito bom!!!!!!!!Marte lá vamos nós!!!!!!
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