domingo, 18 de agosto de 2013

SEJA REALISTA, EXIJA O IMPOSSÍVEL


Outro dia fiquei pensando na felicidade que as palavras e as fotos de uma amiga e seu recém-marido irradiavam pela internet. É uma luz forte mesmo quando alguém se encanta com o outro. Ela está vivendo esse momento mágico que é gostar muito de alguém -- é uma espécie de mundo da fantasia onde não há erros nem defeitos insustentáveis. Por isso, na sabedoria popular, "o amor é cego". Você, eu e outros mais já sentimos essa euforia, tudo parece estar no seu lugar, tudo que podia dar errado dá certo, é como se fosse uma "conspiração das forças do bem" na batalha do quase improvável (?) encontro entre duas pessoas. Acho que é ele. Acho que é ela.

        É definitivo!? A gente faz de conta que é. Intencionalmente, bloqueamos [temporariamente?] a tecla "apagar", que um dia você [ele ou ela] possa vir a fazer uso por motivo torpe ou não, em local incerto e não sabido. A força criativa desse momento só se compara à "noite eterna" que baixa quando o desenlace ocorre para [quem sabe? com sorte lotérica] um novo outro tome esse lugar. Nesse episódio, alguém sempre leva mais tempo, às vezes quase o resto de sua vida, para sentir o calor do sol outra vez. É difícil mesmo "matar" alguém que já morou dentro de você.

        O amor a dois está virando "esporte radical", o queremos com muita emoção. Parece não haver mais espaço ao comum, ao calmo, ao ordinário ou morno no apressado e fervilhante mundo de hoje. Queremos sempre o "extraordinário" [como um jornalista sedento que quer a notícia de impacto todos os dias.] É assim que um outro "definitivo" surge, e a graça de viver se retoma, até que a "normalidade" a sufoque. Li em algum lugar que [se entendi bem] em quatro anos [achei meio curto o tempo, mas foi o que li] a paixão pode se tornar indiferença, sadomasoquismo ou amizade (amor companheiro), que é quando se pensa em ficar velho juntos. Se não estou enganado, o artigo dizia também que quando não há separação e as alianças não significam algemas, a amizade floresce em troca do fim do desejo, matando aquele algo mais "extraordinário". Aí, sexo animal? Esquece.       

       É domingo, faz muito frio lá fora, e eu já dei boa noite e bom dia para o meu cobertor. Tragando um vinho tinto me sinto melhor: acho que a euforia do encontro, quando bate, é tão certeira quanto imprevisível. Ela pode surgir num ponto de ônibus, em saguão de aeroporto, num bate-papo pela internet, na fila do banco, na sala de espera do dentista, num inferninho noturno, nos lugares mais estapafúrdios. Estamos sempre olhando para os lados e, como a bruxa da Branca de Neve, por vezes perguntamos silenciosamente: espelho, espelho meu, espelho imundo, espelho imundo, existe alguém que possa me fazer mais feliz neste mundo?

       Essa busca frenética pela felicidade -- no trabalho, em casa, na cama -- coloca o amor ordinário, aquele que é uma gangorra de morros, com pequenos trechos de planície, na alça de mira ou em desuso. Seja como for, a gente só quer ser "feliz para sempre", todos os dias. Sejamos realistas, exijamos o impossível!


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