sábado, 3 de agosto de 2013

MINHA LISTA DE ESPERA



      
        Amor ou amizade? Essa pergunta me vem à cabeça toda vez que entro no facebook. E não é vontade de participar do famoso quadro do programa Silvio Santos, em que pessoas desconhecidas tentavam a sorte grande de encontrar a outra metade da laranja na televisão, diante de milhões de pessoas, para todo mundo ver e rir. A razão é simples. Consta na minha página -- é assim que se fala na novilíngua -- que existem hoje, por exemplo, 73 pessoas à espera da confirmação de amizade. É uma lista constrangedora. Como posso ter tanta gente próxima ou esquecida no tempo e que eu "abandonei" ao relento nessa relação de nomes e fotos 3x4?
 
        Não é soberba, ou desprezo. É que na internet tudo o que se deixa pra depois se perde no tempo e no espaço. Até e-mails de amigos e parentes. É sempre melhor responder na hora, ou terá que pedir perdão em breve. Por isso, uma vez ou outra, visito essa lista e gasto um tempo fazendo “scroll down” [é mais chique em inglês, em vez de dizer “rolar pra baixo” ou simplesmente “desce”, o cursor] para saber quem ainda se lembra ou gosta de mim por qualquer motivo e quer, com todos os riscos, fazer parte de minha agenda pública no facebook.

        Nessa operação de inclusão – diferente de uma fila para transplante de fígado ou de coração -- não há uma ordem rígida a obedecer na hora do resgate, nem de urgência. Muitas vezes você clica [é como dar um beliscão na vida real] numa pessoa com quem nunca teve uma relação figadal ou com quem nunca lhe falou ao coração ou à mente – por falta de oportunidade ou por outra razão qualquer. Mas é um clique de vida ou morte, virtual. A decisão tomada é definitiva, o nome sai da lista, para o bem ou para mal.

        Essa visitinha à lista de solicitações de amizade, confesso, acho cansativa. Talvez por isso um certo "descaso" de minha parte. É preciso ir de nome em nome, de foto em foto, na busca por velhos e novos amigos, na esperança de que a memória os reconheça, para merecer um clique, o clique da "salvação", ou dos eleitos. O dilema é que essa relação, além de amigos, inclui amigos dos amigos, amigos dos amigos dos amigos, colegas de trabalho, de escola, faculdade, pessoas com outros e diversos interesses, gente com quem tomei umas e outras (a mais ou a menos), com quem conversei (ou dormi) alguma vez e nem me lembro mais, até chegar aos ilustres desconhecidos. Que ficam ali fazendo número, paisagem. Gostaria de saber o que leva uma pessoa, que nunca me viu mais gordo, a pedir para fazer parte de minha relação de amigos... [Será curiosidade mórbida? Não sou tão horrível, mas por beleza é que não é] Em tempo: confesso que já pedi para ser incluído na lista de uma pessoa desconhecida, só pela foto ou porque acompanhei uma conversa e imaginei que podia ser interessante.

        O pior dessa lista de espera, porém, é ouvir de um colega de trabalho, de corpo presente, que você não aceitou sua solicitação de amizade. Ele está lá há meses sem obter resposta: por não reconhecimento do nome correto, por foto muito diferente, por lapso visual, ou porque você raramente entra ali para ver quem te aguarda. Já o melhor dessa imensa agenda pública é reencontrar velhos amigos, saber de suas vidas, reaproximar. Mesmo que as redes sociais tenham se tornado uma espécie de egolândia, onde invariavelmente as pessoas se mostram felizes e completas mesmo que a realidade seja outra. É da coisa humana.

        Amor ou amizade? Só tenho certeza – com o perdão de Roberto Carlos -- que não há como ter  um milhão de amigos para bem mais forte poder cantar. Há quem já tenha 4.999 “amigos”. Parece que o limite do Facebook é 5 mil. Guimarães Rosa escreveu: “Amigo é a gente que a gente gosta de conversar de igual ô igual desarmado”. Milton Nascimento cantou: “Qualquer maneira de amor vale amar, qualquer maneira de amor vale o canto, qualquer maneira de amor valerá”.  
                
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2 comentários:

  1. É uma coisa realmente esquisita isso, mas eu acabo aceitando todo mundo, muitas vezes, por preguiça e, às vezes, dou uma de chata nonsense e peço para ser amiga de desconhecidos ou quase desconhecidos porque acho a pessoa interessante. E do meu lado, só desprezei até hoje umas duas ou três pessoas porque realmente as odiava e deixava isso muito claro, mas mesmo assim elas queriam se tornar minhas "amigas" no Facebook. As rejeitei sem pudor.

    De qualquer forma, fique feliz pela sua popularidade. As pessoas nem sempre sabem o quão enfadonha é a vida de cada um (sem exceção), mas por algum motivo o acham extraordinariamente não-ordinário. Ah, e obrigada por me aceitar de bate-pronto como amiga. Um beijo (e continue contando no blog seu nada não-extraordinário cotidiano).

    Andrea Catão

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  2. Obrigado por ir até o fim e ainda gastar um pouco de seu tempo para dar sua opinião

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