domingo, 20 de setembro de 2015

BOTSUANA TROCA LEÕES MORTOS POR BANHEIROS

        
Cecil, 13 anos, leão mais conhecido da África: morte causou indignação



Walter Palmer: prazer em matar
















          Deu no "NYT".  Leões passaram a surgir furtivamente das matas para arrebatar bodes no meio da aldeia. Elefantes também se tornaram visitantes frequentes, devorando o feijão, o milho e as melancias cultivados pelos agricultores.  Desde que Botsuana proibiu a caça esportiva, há quase dois anos, comunidades remotas como Sankuyo estão à mercê de um número crescente de animais selvagens.  A proibição também levou a uma queda acentuada na renda, já que os aldeões usavam o dinheiro dos caçadores para construir casas e banheiros e dar pensão aos idosos.

[Inacreditável, quantos banheiros valem um leão morto? Quantos elefantes abatidos pelo prazer de um caçador valem uma casa?  E quantos impalas mortos valem uma pensão de idoso...  É a miséria humana ao cubo. Que método mais esdrúxulo de promover o bem-estar social]          

          Os clamores pela proibição da caça esportiva em toda a África aumentaram desde que um leão no Zimbábue, chamado de Cecil por pesquisadores que o rastreavam, foi morto em julho por um dentista americano, Walter Palmer. Com isso, várias companhias aéreas pararam de transportar troféus de caça. No entanto, muitas comunidades rurais estão pedindo a retomada da caça. "Antes, quando havia caça, nós queríamos proteger esses animais porque podíamos ganhar alguma coisa com eles", disse Jimmy Baitsholedi  Ntema, aldeão na faixa dos 60 anos. "Agora não podemos mais tirar proveito deles. Os elefantes e búfalos destroem nossas plantações de dia. À noite, os leões entram em nossas aldeias."

[Curioso, entendo o argumento de que os animais silvestres não têm limites geográficos. Buscam comida onde ela é farta e fácil. Mas o que o aldeão diz é “guardamos o leão para o abate”, na prática não está protegendo nada. As populações de felinos selvagens vêm diminuindo no mundo todo. Nesse ritmo em poucas décadas, leões só serão vistos em filmes antigos ou documentários de TV]

         No início de 2014, Botsuana se tornou uma das poucas nações africanas com vida selvagem abundante a dar fim à caça esportiva, em grande parte devido às iniciativas conservacionistas no sul da África. O presidente Seretse Khama Ian Khama afirmou que a caça não era mais compatível com a conservação da vida selvagem e que devia haver mais incentivos ao turismo meramente fotográfico. A decisão foi saudada por grupos de defesa dos animais no Ocidente.

[A alegria pela defesa dos animais durou pouco]

         Botsuana, porém, é uma exceção honrosa. Autoridades e conservacionistas na maioria dos países africanos são a favor da caça esportiva, incluindo Zâmbia, que está recuando após uma breve suspensão da atividade. "A caça existe aqui desde épocas remotas", disse Jean Kapata, ministra do Turismo. Recentemente, Zâmbia suspendeu uma proibição decretada há dois anos à caça de leopardos, e a caça de leões deve ser retomada no próximo ano. Em 2013, o país reprimiu a caça esportiva e impôs uma proibição total à caça de grandes felinos, igualmente a fim de substituir essas práticas pelo turismo fotográfico. Isso, porém, gerou pouca renda, afirmou Kapata, ao passo que leões passaram a atacar cada vez mais os rebanhos. Durante a proibição, um membro do conselho local foi morto por um leão, comentou ela.

[Gravíssimo, uma pessoa foi morta por um leão. Isso não teria acontecido se a caça estivesse permitida? Para se defender, a pessoa não pode matar um leão? É como o tigre na Índia que, cada vez mais perto da civilização, busca comida fácil. Mas as terras onde ele vivia foram ocupadas pelo homem. A discussão não é quem vale mais um leão ou tigre e o homem. É como evitar essa proximidade tão perigosa para o homem. A questão é como não dizimar uma espécie animal].

        "Na África, um ser humano é mais importante que um animal", declarou Kapata. "Não sei se isso é diferente no mundo ocidental", acrescentou, ecoando uma queixa em partes da África de que o Ocidente parece se importar mais com o bem-estar de um leão do que com os próprios africanos. O recuo de Zâmbia indica o papel central que a caça esportiva ocupa no manejo da vida selvagem no sul da África. Essa atividade de lazer ocorre principalmente em terras comunitárias cujas aldeias devem receber uma parte das taxas pagas pelos caçadores.

[Coincidência, onde entra dinheiro... a população quer a volta da caça esportiva, aquela feita pelo prazer de matar um animal selvagem e tê-lo como troféu em casa]

          Sankuyo, aldeia com 700 habitantes, fica no leste do delta do Okavango, no norte de Botsuana. Em 2010 ela ganhou quase US$ 600 mil pelos 120 animais -- incluindo 22 elefantes, 55 impalas e nove búfalos -- que ofereceu aos caçadores naquele ano, relatou Brian Child, professor-adjunto na Universidade da Flórida, que está à frente de um estudo sobre o impacto da proibição. Entre os benefícios para a comunidade, 20 lares escolhidos por sorteio ganharam banheiros externos. Piezômetros foram instalados em pátios levando água corrente para 40 famílias.  Gokgathang Timex Moalosi, 55, chefe de Sankuyo, disse: "Nós dissemos a eles que aquele leão ou elefante foi quem pagou pelos banheiros".
        
          Segundo especialistas, quando a caça esportiva beneficia comunidades, as pessoas ficam mais motivadas a proteger a fauna. Por outro lado, na maioria dos lugares sem a caça esportiva, os animais selvagens são considerados um incômodo ou um perigo, e os moradores são mais propensos a caçá-los para se alimentar ou a matá-los para defender suas casas e plantações.

 [Então, está bem, vamos matar leões e elefantes até dizimar suas populações, assim teremos mais banheiros. A lógica perversa, em vez de tirar os leões dessas áreas periféricas e transferi-los,  monitorando suas populações, só autorizando a caça de excedentes]

           Child disse que a caça esportiva não beneficiou muitas comunidades devido à má gestão e à corrupção. Porém, nos países onde a atividade funcionava bem -- Botsuana (até a proibição), Namíbia e Zimbábue (até seu colapso econômico na década passada)  --, as metas de gerar renda e proteger animais selvagens haviam sido alcançadas. "Na realidade, isso trouxe uma diminuição no número de animais mortos", disse Child.

[Quem sabe em breve, Child, um pesquisador desinteressado, será visto matando leões em Botsuana, para explicar como deve funcionar para que os animais sejam protegidos e ele possa ter alguns troféus em casa]

            Os leões, que costumavam se banquetear com carne de elefantes deixados para trás por caçadores, estão cada vez mais entrando em aldeias à procura de animais criados para subsistência. "Está havendo um aumento exponencial de conflitos entre animais e seres humanos", disse Israel Khura Nato, diretor da unidade de controle do Departamento de Vida Selvagem em Botsuana. Segundo o departamento, tais conflitos em todo o país aumentaram de 4.361 em 2012 para 6.770 em 2014. Os incidentes devido à caça ilícita aumentaram de 309 em 2012 para 323 em 2014. Galeyo Kobamelo, 37, contou que desde a proibição perdeu todos os 30 bodes na propriedade de sua família para leões e hienas. Elefantes destruíram suas plantações de sorgo e milho. A família não conta mais com a carne grátis deixada pelos caçadores e sua mãe parou de receber a pensão. Moalosi, o chefe de Sankuyo, disse que espera recuperar alguns benefícios depois que sua aldeia fizer uma transição bem-sucedida para o turismo fotográfico.

[Ah, sim, ficou claro agora. Os leões só passaram a entrar nas aldeias porque pararam com a matança de elefantes cuja carne deixada para trás pelos caçadores era seu prato predileto. Então, que voltem a trucidar elefantes só para pegar os dentes de marfim, deixando a resto para os felinos vorazes]

         Na opinião de especialistas, porém, turistas contemplativos circulam mais em áreas com grande densidade de vida selvagem, como a Reserva Moremi no delta do Okavango, a oeste daqui. Raramente eles se aventuram por áreas periféricas como Sankuyo, justamente as que atraem caçadores. Em Sankuyo, William Moalosi está entre as dezenas de pessoas desempregadas devido à proibição. Ele trabalhava como rastreador e motorista e ganhava cerca de US$ 100 por mês.

         Aldeões identificaram Moalosi, 40, como o homem que matou uma leoa no mês passado. O animal havia invadido uma aldeia que tinha bodes. Moalosi, porém, disse que nada sabe sobre isso, o que provocou sorrisos coniventes de seus vizinhos. "Nós vivemos com medo desde que leões e leopardos passaram a vir à nossa aldeia", disse. "Elefantes cruzam a aldeia para ir ao outro lado da mata. Os cães latem para eles e nós corremos para nos esconder em casa."

[Conclusão: deixem matar leões, elefantes, búfalos e impalas à vontade porque assim todos ganham e as pessoas terão mais vontade de defendê-los para poder, no futuro breve, fazer cocô e xixi em banheiros, não no chão no meio da mata]

* O texto [que comento] foi publicado pelo jornal "The New York Times"

Caça enlatada: leão que teria sido criado em cativeiro, morto por caçadores

PS - A África do Sul estaria tirando das leoas alguns de seus filhotes e criando-os em cativeiro para depois serem abatidos por caçadores a preço de ouro. Esse seria o preço da "preservação" de leões. A essa prática é dado o nome de "canned" ou "caça enlatada".


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