terça-feira, 1 de setembro de 2015

REFUGIADOS: A FACE DO HORROR HUMANO

                                                        [versão atualizada]

Menino não chegou a Kos, Grécia: foi achado em  Bodrum (Turquia)
"Se imagens como essa não quebrarem a resistência dos europeus, o que mudará?", questiona o jornal britânico 'The Independent', lembrando que, "entre as palavras muitas vezes loquazes sobre a 'crise da imigração em curso', é muito fácil esquecer a realidade da situação desesperadora enfrentada por muitos refugiados"
Pai sírio chora abraçado aos filhos, fugitivos da guerra civil:eles chegaram vivos à ilha de Kos, na costa da Grécia

Corpos de refugiados chegam à praia da Líbia: o sonho de viver na Europa morre afogado no Mar Mediterrâneo















     
         Que mundo é este? É uma tragédia sem fim, ondas de mortos na fuga para uma Europa cada vez mais xenófoba. O Mediterrâneo tornou-se um mar de sangue nos últimos três anos. A tragédia no Velho Mundo, rico e bem armado, envergonha. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU)  cerca de 2,500 imigrantes já morreram afogados neste ano tentando chegar à Grécia e à Itália, em barcos abarrotados de refugiados sírios que tentam ficar distantes da violenta guerra civil, ou de gente que foge da miséria ou do desrespeito aos direitos humanos, principalmente eritreus e afegãos. Sim, direitos humanos que governos de matizes diversos ignoram [e que no Brasil, por exemplo, virou um palavrão]. Nigerianos e ciganos do Kosovo também estão entre os resgatados vivos. Se a ONU fala em 2.500 mortes no mar, devem ser bem mais.

        Os números são impressionantes. Também segundo a ONU, mais de 300 mil tentaram atravessar o Mediterrâneo rumo ao "paraíso" europeu neste ano, até agora. Em todo o ano passado, foram 220 mil. Desde janeiro, 200 mil imigrantes chegaram à Grécia, em frágeis botes de borracha ou lona e pequenos barcos de  madeira, e outros 110 mil desembarcaram na Itália. A travessia Líbia-Itália é mais longa e arriscada. No último dia 27 de agosto [isso na segunda-feira passada, lembra], dois barcos com cerca de 500 refugiados afundaram depois de deixar Zuwara, na Líbia [foto acima]. No mesmo dia, 71 corpos, que seriam de imigrantes sírios, foram achados em um caminhão frigorífico abandonado na Áustria. Em abril, 800 pessoas morreram em naufrágio perto da ilha de Lampedusa, na Itália. Em fevereiro, 300 imigrantes morreram tentando atravessar o Mediterrâneo. Os sobreviventes relatam violência e abusos cometidos por traficantes de pessoas, já que muitos deles pagam milhares de dólares a "coiotes" e depois ainda são agredidos e roubados. Em abril, líderes da União Européia prometeram reforçar a patrulha marítima contra traficantes de gente -- esses míseros aproveitadores -- tomando e destruindo barcos antes do embarque de imigrantes ilegais. Por outro lado, essas ações militares deveriam respeitar as leis internacionais [ninguém sabe se respeitam, não há notícia do tema nos jornais; ninguém tem interesse no assunto?].

         A Alemanha, o mais rico e poderoso país da Europa, espera a chegada de 800 mil refugiados neste ano. A Áustria espera 80 mil pedidos de asilo. Milhares de imigrantes acampam em Calais, no norte da França, à espera do seu "dia D", quando na surdina arriscam cruzar clandestinamente o gélido Canal da Mancha rumo à Grã-Bretanha. A Hungria decidiu construir barreiras de 175 km de extensão para impedir a passagem por seu território de imigrantes ilegais. Só em julho 34 mil pessoas tentaram atravessar a fronteira entre a Sérvia e a Hungria. Muitos acabam presos e deportados.

        Pela Convenção de Dublin, a responsabilidade de examinar pedidos de asilo é do primeiro país em que o imigrante pôs o pé. A falida Grécia reclama ter recebido uma avalanche de pedidos de asilo, já que muitos dos imigrantes atingem seu território primeiro. Os 28 países da União Européia não conseguem chegar a um acordo sobre uma política da asilo. Cada país tem sua polícia e aplica a sua justiça. O sistema de cotas foi rejeitado. A crise econômica aumenta a xenofobia e reduz a aceitação dos imigrantes pobres. Solidariedade, o que é isso? [nem da esquerda caviar] Muitos europeus estão desempregados e temem a concorrência com os trabalhadores estrangeiros, embora o continente não tenha mão-de-obra suficiente para determinados tipos de trabalho, teoricamente mais desqualificados. Para piorar o ambiente, há suspeita de que o grupo extremista Estado Islâmico tem infiltrado nos barcos militantes para cometerem atentados, uma vez que é dífícil à polícia européia saber quem é guerrilheiro islâmico e quem é apenas um refugiado. E por isso países ricos tiram recursos para atender os acordos internacionais, o que evitaria uma tragédia ainda maior, e assim reduzem a possibilidade de resgates de gente viva. É como se dissessem, "que morram", "o problema não é meu". Os americanos e russos que financiam [ou apóiam com armas] parte dessas guerras assistem a tudo calados.
     
Comércio em Izmir, na costa turca, vende bóias e coletes a imigrantes

       
Antes, a pequena Izmir, na Turquia, recebia dezenas de turistas atraídos pelas ruínas ancestrais e pela beleza da costa no Mar Egeu. Agora recebe milhares de refugiados e virou uma das principais bases de tráfico humano da Europa, sob o olhar displicente do governo local. No centro histórico, segundo a BBC, as ruas estão lotadas de famílias sírias e iraquianas, que vivem em calçadas com crianças e bebês esperando "barcos" para a Grécia. A demanda é enorme tanto quanto o risco de embarcar em botes de lona: a maioria não sabe nadar, sequer boiar. As lojas da cidade [sim, o comércio formal] agora vendem até 150 coletes salva-vidas por dia. Um grupo de  imigrantes ilegais que havia escapado de Raqqa, no norte da Síria, onde o grupo radical Estado Islâmico tem sua base, dizia, segundo a BBC, que é melhor tentar a liberdade do que viver sob o domínio do Estado Islâmico. "Em Raqqa, a vida não é sua, é deles. Você tem que obedecer ou morre. Lá você sente a morte de perto", disse um refugiado.

       Muitos sobreviventes de tentativas frustradas reduzem a vida pertences básicos como celular, passaporte e dinheiro. Mas como vai proteger essas coisas diante da possibilidade de nadar por horas no mar? Um comércio inusitado apareceu. Homens vendem balões coloridos vazios. Esses balões, dizem eles, se expandem e podem segurar até celulares maiores. E mais; eles são à prova de água, dizem, assegurando que o telefone estará funcionando quando chegar à Grécia. Será? Você quer amarelo, vermelho ou rosa? A cor ajudaria a identificar o aparelho se você perdê-lo de vista no mar. Será? Você acreditaria? Muita gente acredita... A humanidade parece mesmo inviável. E assim caminha o século 21.


Botes de lona para 20 pessoas levam 40, 50, até 60

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