sábado, 31 de outubro de 2015

O RESUMO DA ÓPERA - SEMPRE ÀS QUINTAS

UMA LEITURA SEMANAL DOS JORNAIS - N5 - 29.10.2015
[por problemas técnicos esta edição foi postada com atraso]

POR GEORGE  ALONSO 

Alunos protestam contra o fechamento de escolas, na reorganização promovida pelo governador Alckmin




        ELES SABEM O QUE FAZEM?

       Apenas 9 das 25 escolas fechadas na capital paulista pela reorganização escolar estão na área central da cidade. Ou seja, a maioria está na periferia. O secretário Educação, Herman Voorwald, havia dito antes que as escolas que não teriam mais alunos no próximo ano estavam em regiões centrais dos municípios, tanto na capital como no interior, já que são as áreas com a menor demanda de alunos e maior número de classes ociosas. Ao todo, no Estado serão fechadas 94 escolas. A meta, segundo o governo Alckmin, é segmentar os colégios em três grupos (anos iniciais e finais do ensino fundamental e ensino médio), conforme o ciclo escolar. Estima-se é que 311 mil tenham de mudar de escola em 2016.


       Mas, segundo o sindicato dos professores (Apeoesp), 1.464 escolas estaduais em 162 municípios serão atingidas pela “reorganização”. A entidade diz que o fechamento de um colégio escola irá repercutir nas demais escolas de sua região, com o aumento do número de alunos nas classes e alterações na vida de professores e funcionários, além do risco de haver demissões. Outra justificativa do governo para a mudança é a queda do número de alunos na rede. Dados da secretaria indicam que, de 1998 a 2014, as matrículas caíram de 6 milhões para 3,8 milhões. Segundo o secretário, isso se deve à redução da taxa de natalidade, à municipalização do ensino e à migração de alunos para a rede privada. Com a reorganização, espera-se que 43% das 5.147 escolas do Estado passem a funcionar com único segmento (1º ao 5º ano, 6º ao 9º ou ensino médio).

        O vespeiro é grande e as consequências também. Os protestos de rua aumentam. 
A conferir, as manifestações e os resultados da tal "reorganização" [tucanaram a palavra "fechamento"] --  se há de fato racionalidade ou não. De qualquer forma, o governo escondeu e depois admitiu a reforma, ou seja não teria havido diálogo e transparência. O que aumentou mais a desconfiança de que, em nome de uma redução do gasto público, a educação pode sair prejudicada. O governador disse que o critério de fechamento das escolas não se deu também pelo desempenho abaixo da média nos exames federais. Todas as 94 foram mal. A pergunta: os estudantes tiveram notas baixas por que a escola foi sucateada? Afinal, quem é o responsável pelo mau desempenho?            
         
        * A prefeitura de São Paulo manifestou interesse em transformar os prédios de escolas desativadas pelo Estado em moradias populares. 
 


O VICE DA ANFAVEA E O FILHO DE LULA

        Marcos Marcondes, o vice-presidente da Anfavea, associação das montadoras, foi preso pela Polícia Federal na investigação da Operação Zelotes sobre a suposta compra de medidas provisórias que interessavam ao setor. MM representava a Mitsubishi. A entidade suspendeu o dirigente de sua função depois de sua prisão, até que os fatos se esclareçam. Ele teria pago R$ 2,4 milhões a uma empresa de marketing esportivo do filho caçula de Lula, Luis Claudio Lula da Silva. As empresa do filho de Lula foram vasculhadas pela PF. mas ele não foi preso. Ele nega qualquer irregularidade. As manchetes de jornais tanto de capa quanto de páginas internas destacaram só "o filho de Lula". 
       
      Ora, um vice-presiden
te lobista é preso sob acusação grave e nenhum jornal dá título "Vice da Anfavea é preso etc etc ????" Sem contar que a ação foi feita na véspera do aniversário de 70 anos de Lula. De novo, vamos aguardar as provas... 


COM A FACA E O QUEIJO

         Um pedido de impedimento recebeu aval técnico da Câmara. A oposição incluiu no pedido a reprovação das contas de 2014 pelo TCU e os gastos do Executivo em 2015, sem aval do Congresso. O prosseguimento depende agora do presidente da Casa, deputado Eduardo Cunha.


FRASES DA SEMANA

"Dilma é pessoalmente honrada, já Lula tenho que esperar para ver"
[Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do país por dois mandatos, sobre a corrupção nos governos petistas] 

"Um ex-presidente não pode dizer isso. Eu também poderia dizer que Fernando Henrique Cardoso deveria ter renunciado quando comprou a reeleição"
[Claudio Lembo, ex-governador paulista, sobre a sugestão dada por FHC para que Dilma Rousseff renuncie com honra. Segundo ele, não nada que mostre que a presidente enriqueceu. Ele também acha que não há crime de responsabilidade para o impedimento, cuja possibilidade só serve para desestabilizar a economia e a política]

"Querem desmoralizar Lula, para depois prendê-lo"
Gilberto Carvalho, ex-ministro 


A EXPLICAÇÃO DO FALIDO

         O pecuarista José Carlos Bumlai, acusado pelo delator Fernando Soares, o Baiano, de receber propina para mediar negócios no setor de petróleo e repassá-los a uma nora do ex-presidente Lula, afirmou que o dinheiro que recebeu do lobista serviu, na verdade, para pagar empregados de suas fazendas. Ele alega que contratou Baiano para ajudá-lo a vender uma termelétrica. Pela corretagem, lhe pagaria uma comissão milionária. Como seus negócios vão mal, pediu dinheiro antecipado a Baiano e o lobista teria aceitado. Como Baiano tinha dinheiro a receber de uma empresa ligada à OSX, de Eike Batista, pediu que a companhia repassasse o crédito direto a Bumlai.  O dinheiro teria sido então depositado na conta de uma empresa da família do fazendeiro. 
         
         Ou seja, o que Baiano diz ser propina não passaria de um empréstimo a Bumlai, sem contrato assinado e jamais saldado. O fazendeiro rebate ainda os valores. O delator disse ter dado R$ 2 milhões, Bumlai disse ter recebido R$ 1,5 milhão.


AUTOENGANO:  DOIS ERROS DE DILMA

O economista Delfim Netto, ministro duas vezes durante o regime militar que depois virou uma espécie de conselheiro de Lula, escreveu sobre as decisões que levaram o país a ter problemas de caixa e recessão econômica. A seguir, a íntegra do artigo na "Folha":

      Não é fácil entender o que a presidente Dilma fez dos seus magníficos 93% de "aprovação" (Datafolha, de abril de 2012: "ótimo/ bom", 64%, e "regular", 29%), obtidos depois do excelente comportamento da economia ao longo de 2011. No início do ano, Dilma corrigiu alguns exageros da política anticíclica conduzida por Lula em 2009 e terminou muito bem.

       Toda comparação é sujeita a críticas e exige a concordância sobre uma métrica adequada. O crescimento do PIB entre 2003 e 2008 foi de 4,2% ao ano. Em 2009, ele foi de menos 0,2% e se recuperou rapidamente em 2010, quando atingiu 7,6%. Parece, portanto, que não se fará injustiça se comparamos os resultados do crescimento médio de Lula em 2009-10 (3,7% ao ano) com o de Dilma em 2011 (3,9%).

       Nas outras métricas: 1) a inflação cresceu de 5,1% para 6,5%; 2) o deficit em conta corrente/PIB ficou o mesmo (-2% do PIB); 3) houve um aumento significativo do superavit primário, que cresceu de 2,3% para 2,9% do PIB, e 4) houve uma redução da relação dívida bruta/PIB, de 51,8% para 51,3%! Parece difícil rejeitar a hipótese de que Dilma, em 2011, repetiu o final do governo Lula. Lembremos que ele terminou seu governo com uma aprovação de 96% (Datafolha, de novembro de 2010: "ótimo/ bom", 83%, e "regular", 13%). 

       Por maior que seja a má vontade da sociedade com Dilma, refletida na ideológica rejeição que sofre hoje, é ridículo negar que, no início de 2012, ela era fortemente apoiada pela população e recebeu um voto de confiança para que continuasse a fazer "mais do mesmo". Na nossa opinião, manter o crescimento, controlar a inflação, regular o deficit em conta corrente e sustentar superavits primários para conservar a relação dívida bruta/PIB em torno de 50%. Isso fortaleceria nossas instituições, reduziria as incertezas e daria tranquilidade aos agentes econômicos, fatores essenciais para a redução do juro real teratológico que nos acompanha há décadas.

       Infelizmente a sua leitura do sucesso foi outra.
      O apoio popular a teria empoderado para fazer uma política voluntarista em busca da necessária "modicidade tarifária", sem levar em conta a realidade.

      Fez dois movimentos desastrados: a partir de meados de junho de 2011, forçou uma baixa artificial da taxa de juros e, em setembro de 2012, introduziu a generosa ideia da "modicidade tarifária" no sistema energético e que quase o destruiu. Mas não ignoremos que o fez com a aprovação popular de 92% (Datafolha, de março 2013). Isso comprova o famoso teorema de Thomas: se uma situação é sentida como real, ela será real em suas consequências... 

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sexta-feira, 30 de outubro de 2015

TORCIDA DA LUSA --- HISTÓRIAS DE CAMPANHA

     
Esperidião, deputado federal pelo PP e torcedor do Avai

            As campanhas eleitorais para presidente da República, em geral, atiçam rivalidades partidárias, especialmente quando há segundo turno. Quem não se lembra da disputa Collor x Lula, em 1989. A retomada da vida democrática brasileira foi recebida com paixão pelos novos eleitores, após o fim  da ditadura em 1985, engajados nas campanhas com estrepitosa alegria. Havia carreatas pela capital paulista a qualquer hora, improvisadas pelos próprios cidadãos. Lembro-me como se fosse hoje de um engarrafamento na Avenida Brasil, no sentido Parque do Ibirapuera, com militantes carregando bandeiras dos dois candidatos em carros cheios de gente, numa sexta-feira à noite, isso mesmo, e entoando hinos de campanha. Era o tempo do "Lulalá" e do "Collor aqui". Emparelhados, correligionários dos dois candidatos brincavam sem agressões, xingamentos, sem brigas. Era uma entusiasmada redenção democrática, Não havia o ódio e o desrespeito que existem hoje, nem a intolerância e a agressividade que transforma  adversário no voto em inimigo a ser eliminado, e muito menos gente gritando nas ruas pela volta dos militares. Havia apreço pela democracia reconquistada duramente pelos movimentos sociais. Ainda não havia também o desencanto e o desprezo com os políticos.

           Pois bem, em 1994, segunda eleição direta para presidente do Brasil depois do regime militar, eu estava encarregado, no primeiro turno, de acompanhar Esperidião Amin, candidato pelo Partido Progressista Renovador [PPR], sempre que ele estivesse em São Paulo. Descendente de libaneses, Amin -- formado em administração e direito, casado com Ângela Amin, e pai de três filhos -- é um homem inteligente e com senso de humor apuradíssimo. Quem o conhece pessoalmente sabe disso. É preciso dizer que apesar de ter densidade eleitoral bem menor que os rivais de urna e vindo de um Estado com relativa importância econômica para o país, ele não integrava o que os repórteres da editoria de política da "Folha" costumavam chamar, na gozação, do MSL, o "movimento dos sem lide" -- aquele político que fala, fala, fala e não dá uma manchete de jornal. Amin estava bem longe disso.

         Com traço ou menos de 1% dos votos nas pesquisas eleitorais, Amin situava-se na faixa dos chamados candidatos nanicos e se viu de repente acusado, no mínimo, de sonegação fiscal. Rivais liberais de Santa Catarina trataram de minar sua candidatura com denúncias e desta vez ele não se saíra bem. Não soube explicar a supervalorização de um terreno por ele comprado e vendido a Ângela Amin em 1979. Também não soube dizer para onde foram Cr$ 720 mil [a moeda de época era o cruzeiro], obtidos por Ângela junto à Caixa Econômica de Santa Catarina como empréstimo para pagamento do terreno e da construção de uma casa. A casa não existia nem nunca existiu. O terreno foi comprado por Cr$ 25 mil em 18 de janeiro de 1979 e vendido em 26 de janeiro do mesmo ano por Cr$ 300 mil. Uma valorização incrível em apenas 7 dias. Ângela, segundo sua assessoria, disse que fez o financiamento para pagar dívidas particulares e negou que o terreno estivesse supervalorizado.

         A entrevista que fiz com o candidato sobre a denúncia aconteceu de modo inusitado, para mim. O candidato acabara de deixar o estúdio de gravação do programa eleitoral na TV, na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo, e iria fazer campanha de rua no Largo 13, área de comércio popular na zona sul. Ele colocou os assessores no banco traseiro e dirigindo o carro me deu entrevista no trajeto. Me fez rir muito com ótimas tiradas, mas poucas justificativas. Foi quando resolvi mudar o tom de uma pergunta. Afinal por que um político como ele -- com muita força regional e que sabia que não iria para um eventual segundo turno -- insistia em ser candidato a presidente? Eu ainda argumentei: "A sua candidatura parece a torcida da Portuguesa. Não aparece nas pesquisas!". Os assessores ficaram sem graça, mas ele riu bastante com a minha opinião e disse: "Escreve aí, eu vou estar no segundo turno!" Estranho seria mesmo se ele dissesse o contrário. Chegando ao Largo 13, um carro de som com bandeiras do candidato e meia dúzia de correligionários já o aguardavam. De repente, durante a caminhada pelo calçadão, a cada pessoa que declarava intenção de votar no candidato, Esperidião Amin me chamava e, mesmo à distância, dizia rindo: "Olha aí, George Alonso, mais um torcedor da Portuguesa!"
        Surpreendente, a atitude do candidato me fez rir a cada nova declaração de voto.

        PS --  Em 1994, o desempenho de Amin foi mesmo digno de um candidato nanico. Ele ficou em 6º lugar na corrida presidencial, com 1,7 milhão de votos [2,7% dos válidos], atrás de FHC [eleito no primeiro turno com 34,3 milhões de votos, 54,2%], Lula [em segundo lugar com 17, 1 milhões de  votos, ou 27%], Eneas [em terceiro lugar com 4,6 milhões de votos, 7,3%]  Orestes Quércia  [em quarto lugar com 2,7 milhões de votos, 4,3%] e Brizola [em quinto lugar com 2 milhões, 3,18%]. Esperidião Amin perdeu? Não, ele tinha cumprido sua missão, que era usar a candidatura a presidente para alavancar sua popularidade em Santa Catarina, onde se elegeria governador em 1998. Hoje é deputado federal e foi recém-eleito presidente catarinense do Partido Progressista.


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AUSÊNCIA SENTIDA - MALUF NO PALMEIRAS


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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

ÓBIDOS: A VILA QUE RESPIRA LIVROS

Óbidos: uma cidadezinha inteira cercada por uma muralha é agora cenário de feiras literárias em Portugal
Ruela de Óbidos: lojas, albergues, bebida típica e livros por toda parte



          Nada é tão mais lindamente lusitano do que a minúscula Óbidos, A vila, localizada a 80 km ao norte de Lisboa, é uma pérola desde os tempos medievais. Estive lá em férias, em setembro de 1993, quando descobri o porquê não deveria ter demorado tanto a visitar a terrinha original, da qual herdo a maior parte do sangue que corre em minhas veias. Recordo que saí bem cedo para pegar o trem para passar um dia no vilarejo. Cheguei à estação da capital portuguesa meio em cima da hora, na correria e perguntei: "Onde pego o trem para Óbidos?" O segurança olhou-me como se estivesse falando com um ET. Então, eu repeti: "Trem!". Como em toda estação europeia havia muita gente e pensei: "Estou frito, vou perder o trem e não terei tempo de conhecer Óbidos". Aí o segurança viu o meu bilhete e disparou, com o legítimo sotaque lisboeta: "O comboiosaidagare5", tudo coladinho, quase incompreensível, mas entendi. Ufa! Viajava sozinho e em Portugal não há trens, só comboios. Pelo menos, foi o que me pareceu. Cerca de 1h30min depois desembarquei, solitário, na estação de Óbidos, que fica fora da muralha. Dela, você pode avistar a cidadezinha no alto do único morro da região. É uma caminhada de até 15 minutos até a entrada da "cidadela" ou "cidade fortificada", o significado da palavra "óbidos", uma derivação do termo latino "opido".

          A vila com cerca de 100 habitantes intramuros, mais 11 mil na área rural do município, sempre viveu do turismo, depois que entrou nos guias como uma das sete maravilhas de Portugal. Durante meu passeio de um dia, um bate-volta de Lisboa, registrei uma modelo sendo fotografada em preto e branco, como o figurino de roupas antigas, mais parecendo uma mulher "fadada" a chorar por seus amores nas ruelas e becos de seu coração. Dava até para imaginar a trilha sonora, um fado moderno, de Madredeus: "Ao largo ainda arde/ a barca da fantasia/ e o meu sonho acaba tarde/ acordar é que eu não queria". Aliás, para quem pretende conhecer essa jóia da Coroa Portuguesa [uma Ouro Preto no alto de um platô] deve experimentar a bebida típica do vilarejo, o licor de Ginja, que, diz a lenda, só não cura justamente corações partidos.

       Agora há ainda uma novidade, segundo o escritor Rui Castro. Óbidos virou uma "vila dos livros" e vai passar a realizar por ano cinco festivais literários -- um deles, o Festival Literário Internacional de Óbidos, que aconteceu na semana passada, com a presença de autores, que tiveram ali a possibilidade de entrar em contato direto com o público. Portanto, reproduzindo as palavras de Rui Castro, "se você ainda gosta de livros impressos -- aqueles que simbolizam a nossa superioridade junto a plânctons e amebas --, uma utopia começa a tornar-se realidade: uma cidade que respira livros". Ela é sustentada hoje pelo público que vai não só apreciar a arquitetura de suas casas e o desenho de suas ruas, mas também visitar suas 11 livrarias, nada convencionais. Algumas em caves de vinhos, galerias de arte, dentro de igreja e até na mercearia, onde os livros quase se mesclam com maços de brócolis, tábuas com peras e cachos de uvas.

       100 moradores e 11 livrarias intramuros... Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, tornar-se um imenso Portugal!

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ÁUSTRIA ANUNCIA CERCA CONTRA REFUGIADOS

Fronteira austríca com a Eslovênia: confsuão e milhares de refugiados querendo cruzar o país

       A Áustria construirá uma cerca ao longo da fronteira com a Eslovênia, para controlar o fluxo de migrantes, anunciou ontem a ministra do Interior Johanna Mikl-Leitner. "Isto é sobre garantir uma entrada ordenada e controlada em nosso país, e não sobre fechar a fronteira", declarou ao canal de televisão Oe1. "Nas últimas semanas vários grupos de imigrantes se mostraram impacientes, agressivos e emotivos. Temos que tomar precauções", completou. Desde 17 de outubro, 90 mil refugiados passaram pela Eslovênia e chegaram à fronteira austríaca, segundo a agência de notícias "France Presse" [AFP].

        Mikl-Leitner, do partido conservador OVP, que integra a coalizão de governo ao lado dos social-democratas (SPO), disse que é necessário adotar "medidas importantes e duradouras" ante o risco de tumulto entre os migrantes e refugiados, que a cada dia esperam por várias horas no frio para atravessar a fronteira. A ministra não revelou detalhes sobre a construção da cerca.  Ela foi muito criticada quando mencionou a criação de uma "fortaleza europeia", mas o Partido Social-Democrata do chanceler Werner Faymann parece aprovar a proposta da cerca "para controlar a chegada de migrantes de maneira organizada", nas palavras do ministro da Defesa, Gerald Klug, que pertence ao SPO.

        Em meados de outubro, a Hungria fechou a fronteira com a Croácia e construiu uma cerca de arame farpado e um alambrado de 4 metros de altura, com 176 km de extensão, o que levou milhares de migrantes que entram na Europa pela Grécia a seguir até a Eslovênia, com o objetivo final de chegar aos países do norte da Europa -- leia-se principalmente Alemanha. O "mar de gente" parece água, que sempre acha uma rota alternativa, enquanto a União Europeia não chega a acordo sobre cotas de migrantes para seus países membros e outras ações humanitárias. Segundo ONU, cerca 500 mil pessoas migraram para a Europa desde o início do ano. E cerca de 3.000 morreram na travessia.

Leia mais sobre a avalanche migratória na Europa

EFEITO DOMINÓ: CROÁCIA FECHA A FRONTEIRA
REFUGIADOS: A FACE DO HORROR HUMANO
         
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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

A FOME DO HOMEM MATA E COME...

     
Imagem do documentário "Garapa", primeiro filme de José Padilha após o sucesso de "Tropa de Elite"

       Há certas discussões que quase me recuso a fazer. Quando o tema é fome ou miséria não consigo economizar na defesa de quem precisa. Isso é simples. É como a Aids, que no início, uma moléstia desconhecida, era chamada de "doença gay", como uma acusação [culpa individual por "mal comportamento"] e, em consequência, um castigo dos deuses [na visão de terráqueos pobres de espírito]. Depois quando esse preconceito foi "vencido" pela realidade, outro preconceito colou, agora contra os doentes, abandonados à própria sorte [no caso de vacilo na prevenção] ou infortúnio [no caso de transfusões de sangue sem controle]. Por vezes, a ignorância de familiares, parentes e supostos amigos venceu, pacientes foram esquecidos e ficaram solitários vivos no leito de morte.
       
        A maior diferença entre a Aids e a fome é que para a Aids hoje há um coquetel de remédios que melhorou muito a qualidade de vida e deu longevidade a quem tem o vírus. Já a endemia da fome, porém, "sem laboratórios interessados em fabricar medicamentos" [porque o sistema que produz excedentes não produz governos decentes], continua matando muita gente no mundo e no Brasil. A fome é como uma doença invisível, que pode estar ao seu lado sem que você a perceba. Ao contrário do imaginário "cruel" de alguns e ingênuo de outros, ela e a subnutrição não são tão evidentes como fazem crer fotografias africanas [como se só o visível fosse real]. Pior, a fome para muita gente não lhes diz respeito e, incrível, a causa [acreditam] parece ser de quem a tem. Será que pensariam o mesmo depois de se defrontarem com ela?

        O que vou escrever a seguir, para muitos, pode ser chamado de vício paternalista. Mas não é. Não se trata da defesa do assistencialismo ou da esmola [que como diz o verso cantado por Luiz Gonzaga, o rei dos oito baixos e rei do baião, "ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão"]. Até porque a esmola é uma espécie de controle social [como mostra o coronelismo no Nordeste]. Por isso, embora às vezes ceda a pedidos em cenas comoventes, dar esmola me incomoda bastante. Mas viajando a passeio pelo interiorzão do Brasil, levei choques inesperados de realidade. Aprendi que a fome desespera, humilha e mata. Por isso, sempre que posso, jamais recuso pagar um prato de comida a quem me pede. Antes que alguém diga "isso também vicia", conto três episódios que vivi em momentos diferentes da minha vida.

       Um zero pelo Brasil 

       Estudante secundarista, juntei mesada, fiz bicos, vendi objetos e parti com mais dois amigos, mochila às costas, para mais um giro de dois meses pelo Nordeste. Foram sete giros ao todo nos anos 1970, de ônibus, barco, carona, de pensão em pensão, caminhando, dormindo no chão, em cama sem colchão ou em rede, com lençol ou de roupa, sentado ou em pé, e comendo onde dava. Compras? Quase nada, só o que os olhos podiam "comprar" e a memória gravar. Sem câmeras fotográficas. O dinheiro era curto demais e nada que fizesse peso ou tivesse muito valor entrava na mochila.

Palácio do governo capixaba: "Podemos entrar?"
       Desta vez, a ideia era "Um zero pelo Brasil": São Paulo a Fortaleza pela costa, escolhendo a dedo as paradas [que sempre incluíam uma praia além da capital de cada Estado], e retornando pelo interior. Tudo começou pelo Rio de Janeiro [visitando meu pai, que gostava da "cidade maravilhosa"porque no inverno ele dormia de lençol], Vitória ["Que prédio bonito, podemos entrar?" "Acho que não, aqui é o Palácio Ancheita", disse um engravatado na escadaria da sede do governo do Espírito Santo, ao observar nosso traje: bermuda-camiseta-chinelo, diante da porta monumental do edifício que a nós parecia mais um museu]. Depois, fomos "pioneiros" ao conhecer lugares pouco visitados, como a Usina de Paulo Afonso (BA), praias virgens e vilas de pescadores à época como Porto Seguro, Arraial D'Ajuda, Trancoso, Francês, Porto de Galinhas, Pipa, Canoa Quebrada -- antes da chegada dos falsos "loteamentos verdes" e da "força da grana que destrói coisas belas", com casas de veraneio e hotéis resorts. O espírito da viagem pode ser resumido por essa atitude: uma bermuda jeans novinha [presente de Natal da vovó que não me servia] troquei-a com pescador por sete noites num casebre de palha com chão de areia e ganchos para dormir em rede, em Canoa. As alterações de destino aconteciam em sintonia com nosso humor, informações de nativos e o astral de cada lugar. Assim passamos, depois de Fortaleza [e sua bela praia de Cumbuco] pelo parque nacional de Ubajara [com noites muito frias, neblina e caverna no vale de um platô por onde corre um riacho cercado por mangueiras em pleno sertão do Ceará], Piripiri [parque com desenhos rupestres no Piauí], Estaca Zero [sim, existe uma encruzilhada de estradas no sertão, saindo de Teresina com destino a Petrolina (PE) e Juazeiro (BA)].

Vapor do São Francisco: 10 dias rumo ao sul, 5 ao norte
       O "zero" se fechava subindo o rio São Francisco de barco, "10 dias pendurado no vapor" rumo ao Sul, seguindo a direção oposta à da música cantada pelo trio "Sá, Zé Rodrix e Guarabira". "Pilão Arcado, Santo Sé, Casa Nova, Remanso, Bom Jesus da Lapa, Januária, Pirapora, adeus!" [descanso, sol, fartura de frutas às margens do rio caudaloso das carrancas e de poentes inesquecíveis]. Depois Montes Verdes, BH, e "Supaulo". O sertão viraria mar com o fechamento da barragem de Sobradinho meses depois. Hoje o mar está quase secando. Será a morte do Velho Chico?
   
      Sim, éramos de "Supaulo", com sempre respondiámos à pergunta sobre a origem dos três cabeludos, jovens, sujos e curiosos. "Vocês são 'ripis' de Supaulo, né? Um dia, vou a Supaulo", indagou e imediatamente respondeu uma garota que nos servia um guizado de almoço em Caruaru (PE), cidade de famosa por sua eterna feira de rua, onde rimos muito ao ver o nome de uma loja: "Casa do Chapéu". Enfim, tínhamos chegado à casa do chapéu!
                     
Enfim, "na casa do chapéu"
     Enfim, uma viagem com muitas aventuras, emoções, descobertas, alegrias, alguns sustos e aquela cena marcante. Jantávamos em João Pessoa. O boteco servia bife, ovo estrelado, farinha, cumbuca de feijão, travessas de arroz e espagete. Estava meio distraído, quando ouvi a seguinte frase: "Posso comer o macarrão?" Olhamos um para o outro. Fiquei paralisado. Um amigo, então, respondeu. "A travessa é sua". Com as duas mãos, aquele homem engoliu em 10 segundos aqueles fios todos, levantou-se, agradeceu e saiu antes que o dono do bar reclamasse. E eu continuava estupefato. A fome saíra dos livros, da escola, das estatísticas, do imaginário e estava ali na capital paraibana escancarada para um adolescente de 18 anos que esboçou oferecer talheres, mas não deu tempo. Lágrimas escorreram dos olhos de um dos meus amigos. Houve silêncio entre nós depois. Fico arrepiado ao descrever a cena agora. De volta a "Supaulo", exausto, cada banho de água quente virou uma dádiva divina, cada prato parecia um manjar dos deuses.

Não à "garapa"!   
 
       Em 1978, uma nova viagem, "Em linha reta pelo norte": incluiu São Luis, Alcântara (MA), Belém e Manaus. Em Alcântara, onde fiz amizade com filho de pescador de camarão, a família do garoto não nos cansou de presentear com almoços seguidos de camarão seco ao sol com arroz. Já no gigante barco da Enasa, que fazia a ligação Belém-Manaus, aconteceu outra cena de filme em pleno rio Amazonas. De manhã bem cedinho, nos primeiros raios de sol, ouvi gritos vindos da selva. Eram os ribeirinhos remando de suas palafitas e recolhendo as "oferendas". Os passageiros do barco jogavam maços de cigarro, pastas de dente e escovas embalados em sacos plásticos cheios de ar, calças, camisas, camisetas, calções, bermudas, comida, tudo que pudesse boiar. O gesto solidário, costume local, me impressionou e tratei de jogar uma camiseta também e fiquei acompanhando-a nas águas para ter a certeza de que o canoeiro recolhera a minha oferta.

       Para voltar para casa, viemos de São Luis para Brasília, três dias de ônibus, que quebrou e precisou ser trocado no caminho. Então, ficamos na estrada por quase quatro horas, o que fez acabar nosso "dindin". Aí, senti a fome na carne. Depois de dois dias, eu era magricelo, sentia doer o estômago e não podia ver um pacote de bolacha. Meu olhar era uma lente de aumento. Meu amigo, mais parrudo, com gordura a queimar, nada, não se incomodava. Ria da situação e quanto mais eu reclamava mais ele ria. Fui ficando cada vez mais irritado e ele, de amigo, já começara a parecer "inimigo". "Você está com vergonha de pedir comida!", cheguei a dizer, tentando convencê-lo a fazer algo. O que só veio a acontecer quando a fome passou a doer nele também.

       No dia seguinte à noite, ele desceu do ônibus foi ao banheiro, enquanto eu caminhei resoluto para o restaurante da parada. Vi uma família, deixando a mesa, pai, mãe e dois filhos. Não hesitei: "Posso comer?". A mãe me olhou e deve ter visto a cara da fome: "Pode! Olha, meu marido nem tocou naquele frango", salientou ela, apontado para o prato dele. Sentei-me ligeiro e comecei a atacar as travessas de arroz, feijão, batata e o tal frango. O meu amigo chegou antes que a garçonete pudesse intervir e recolher os pratos. "Não, vocês não podem comer, têm que pagar!". "Podemos, sim, ela autorizou!", grunhi, apontando para a família que já saía do estabelecimento. "Sim", confirmou a mãe, que voltou ao perceber o zunzunzum. A garçonete foi até o caixa e o gerente  -- vendo a situação e talvez com receio de um escândalo -- aceitou o ação dos dois cabeludos famintos. Um alívio até Brasília, onde moravam parentes do meu amigo.
   
       Por fim, em 1986, fazendo uma reportagem sobre moradores de viadutos e pontes, paramos com o carro da "Folha" sob o Viaduto Antártica, na Barra Funda, São Paulo. Uma família com quatro crianças estava ali há alguns dias. Eu e fotógrafo nos aproximávamos quando o pai, ergueu um facão. "Se tirar foto, mato vocês! Estou aqui há cinco dias, deu tudo errado, estou voltando para a minha terra amanhã!", gritou ele, com sotaque sulista. Nem tentei argumentar. Claro, senti medo. Mas a atitude tão digna daquele homem em defesa de sua família também virou uma fotografia que está sempre fresca na minha memória.

     Por isso, me pareceu forte o suficiente a frase "Aprendi que pode ser uma grande experiência tomar água gelada", dita em entrevista pela socióloga Walquiria Leão Rego, co-autora de um livro recém-lançado sobre o efeito do Bolsa Família, que atende 50 milhões de brasileiros, nos rincões do país. Fome zero, sim! Não à "garapa!". "Garapa" é o nome do documentário feito por José Padilha, diretor do filme "Tropa de Elite", que durante quatro semanas registrou, de forma crua, sem sociologuês, o cotidiano de famílias em áreas remotas do Nordeste. Lá "garapa" não é o suco da cana-de-açúcar. É como chamam a mistura de água com açúcar aquecida, que é dada muitas vezes como alimento para enganar o estômago e obter energia durante os dias de seca e inanição.
     
      Você ainda está por aí?

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domingo, 25 de outubro de 2015

A LEI NA LATA DO LIXO


        
          Cumpra-se a lei, que lei? Cerca de 300 municípios brasileiros [6% do total de 5.570] recebem quase 50% do lixo que é produzido em todo o país. A Lei dos Resíduos Sólidos, que previa até 2014 uma destinação adequada aos lixões, não foi cumprida por 60% dos municípios. “Os resíduos sólidos deveriam ser vistos como um dos problemas mais sérios da vida moderna do país, por suas conseqüências ambientais e de saúde pública. O manejo e a disposição inadequada do lixo são uma ameaça à população e à sobrevivência de ecossistemas. A preocupação com os resíduos é universal”, afirmava a então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ao enviar para a apreciação do presidente Lula, em 4 de julho de 2007 , o projeto de lei que instituiria a política nacional de resíduos sólidos. No entanto, o que se vê hoje é um “apagão do lixo” rondando as cidades brasileiras.

          Levantamento recente da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), publicado pela "Folha", revela que 235 municípios despejam seu lixo a quilômetros de distância, em aterros particulares de empresas de saneamento de outras cidades. Iguape, por exemplo, leva todo o lixo recolhido na porta das casas de seus 30 mil habitantes para a Grande SP – os sacos “viajam” 218 quilômetros pela rodovia Régis Bittencourt. Segundo o estudo da Cetesb, outras dez cidades paulistas enviam seu lixo para aterros públicos de municípios vizinhos. O motivo: segundo especialistas, por falta de recursos, a maioria das cidades brasileiras prefere terceirizar o serviço [da coleta ao descarte] a investir em aterros ou locais adequados. Ou seja, produzir lixo é fácil, mas custa caro descartá-lo de modo a não poluir rios ou prejudicar ecossistemas. E, quanto mais lixo se produz, mais caro fica para dar um fim adequado. [Uma ressalva: o fato de o lixo “viajar” ainda é melhor do que ser despejado em local impróprio a céu aberto.]

        Aprovada em 2010, a lei que cria a política nacional para resíduos sólidos determinou que até meados do ano passado os lixões seriam extintos. O que é o lixão? É um espaço a céu aberto sem proteção do solo, onde o lixo é depositado e disputado por urubus e catadores em busca de qualquer trocado para sobreviver. Em julho deste ano, atendendo a apelo de prefeitos, o Senado aprovou a prorrogação do prazo para 2021. Em São Paulo, muitas cidades fecharam seus lixões depois de ações judiciais e optaram pela terceirização. Ainda assim, no Estado mais rico do país, 27 cidades pelo menos despejam seu lixo em áreas impróprias. A decisão do Senado não só prejudica o avanço do país nessa área vital, como joga na lata do lixo o império das leis. Vale aquela velha máxima nacional: se existe lei, é para ser descumprida. A lei da postergação tornou-se um vício.
        
         Os chamados lixões são uma ameaça à saúde pública. Além de provocar odores ruins no entorno e ser um criadouro de pragas e insetos, o lixão gera o “chorume” – líquido tóxico resultante da decomposição dos rejeitos – que pode se infiltrar no terreno e contaminar o lençol freático. O melhor seria criar aterros sanitários com impermeabilização do solo, captação do “chorume” e controle dos gases produzidos. Melhor ainda se houvesse coleta seletiva, reciclagem e produção de gás metano proveniente do lixo residual, por exemplo.

         A alegação para o adiamento do fim dos lixões é a mesma de sempre. Que os municípios, além da falta de verbas e estrutura, não têm quadros técnicos nem qualificação teórica para elaborar os exigidos planos de gestão dos resíduos sólidos, que incluem lixo doméstico, lixo comercial, lixo industrial, lixo hospitalar e lixos especiais -- que precisam de locais apropriados para o despejo, ou mesmo a devolução ao fabricante [que faria o “descarte responsável”]. Qual a alegação que será dada em 2021 por quem não se planejar até lá? O Senado prorrogou o prazo para julho de 2018 [para capitais e regiões metropolitanas] e julho de 2021 [cidades com menos de 50 mil habitantes]. Ou seja, a festa do bicentenário da Independência pode ter o selo da incompetência de 200 anos para resolver uma das questões básicas do saneamento: coleta e destinação do lixo.

      O Ministério do Meio Ambiente calcula que existam cerca de 3.000 lixões ativos no Brasil, onde são despejados quase 50% do lixo produzido. Segundo estimativa do governo, há 800 mil catadores que vivem da renda obtida nos lixões do país. A questão do destino do lixo é uma questão civilizatória, diretamente ligada a hábitos e à educação. Por isso, há quem ache que a meta imposta pela lei era muito ambiciosa. Com a situação financeira precária dos municípios brasileiros, a maioria deles dependente de verbas federais em várias áreas, há quem questione até o novo prazo dado pelo Senado [o novo limite está à espera de votação na Câmara dos Deputados].  “Se não conseguimos acabar com os lixões nos últimos cinco anos, por que conseguiríamos nos próximos cinco?”, indaga um empresário do setor, lembrando que o país entrou em recessão e não vive mais sob a euforia econômica dos anos Lula [2003-2010]. “Talvez, nem em 50 anos conseguiremos acabar com os lixões”, chegou a afirmar, pessimista, Albino Rodriguez Alvarez, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), especialista e autor de um estudo sobre o tema. Nem a criação de consórcios intermunicipais públicos para a coleta e o despejo do lixo de forma a não agredir o meio ambiente e colocar em risco a saúde das populações parece viável economicamente sem apoio federal, embora haja uma redução dos custos.

      A produção de lixo diária é volumosa. Para se ter uma idéia, por exemplo, de como a reciclagem é importante na coleta, só na Grande SP, são descartadas por dia 34 milhões de bitucas de cigarro. E só uma pequena parte é reciclada, segundo a ONG Rede Papel Bituca. A entidade já reciclou 6 milhões de pontas de cigarro em três anos, com apoio da Universidade de Brasília. As bitucas viraram papel. Outro projeto com bitucas transforma o acetato de celulose das pontas de cigarro em adubo para grama e há quem diga ainda que as bitucas podem substituir a queima de carvão vegetal em fornos industriais. O uso desse exemplo, que pode gerar críticas entre os antitabagistas e ex-fumantes, é interessante para mostrar que até um mal pode fazer o bem. Imagine o mesmo com outros objetos maiores, mais saudáveis e menos poluentes.

       Você sabia também que transformar lixo orgânico em algo produtivo reduz a quantidade de gases tóxicos lançados na atmosfera e ainda gera energia? Isso já ocorre com usinas de metano que funcionam na capital paulista. Até 2007, 25% das emissões de gases de efeito estufa de São Paulo vinham dos aterros Bandeirantes, ativo de 1979 a 2006 [e o maior da América Latina], e São João, que funcionou de 1992 a 2007.  Hoje, o gás metano (21 vezes mais nocivo que o CO2) liberado pelos dois lixões é usado para gerar energia elétrica, após acordo com a prefeitura. Os dois locais acumularam juntos 64 milhões de toneladas de lixo. O gás metano gerado por essa biomassa é queimado e transformado em energia  que abastece 800 mil pessoas e ainda reduziu em 20% as emissões na cidade.  Ou seja, o lixo pode até ajudar a reduzir a poluição do ar e o aquecimento global. E mais: o lixo pode gerar luxo, que é a energia elétrica.

        Quando o assunto é resíduo sólido é fundamental, portanto, considerar o conceito dos 3Rs: reduzir, reutilizar e reciclar. Porque manejado de forma correta, o lixo pode ganhar valor comercial e ser usado como nova matéria-prima ou novo insumo, sendo incorporado outra vez a cadeias produtivas em  3Ss: de forma sucessiva, sistêmica e sustentável. Será que é muita ambição mesmo? E sem essa ambição, onde estaríamos? Se hoje o país está bem longe da meta, onde estaríamos se nem a lei dos resíduos sólidos existisse?
   
       
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quinta-feira, 22 de outubro de 2015

O RESUMO DA ÓPERA - SEMPRE ÀS QUINTAS

UMA LEITURA SEMANAL DOS JORNAIS - N4 - 22.10.2015

                                                       POR GEORGE ALONSO


Foto histórica: só deputados de mãos limpas e Eduardo Cunha , "O Probo", com o novo pedido de impedimento

A PRESSA É INIMIGA DA OPOSIÇÃO

            Até a semana passada, o Planalto apostava que precisava do deputado Eduardo Cunha para segurar o impedimento [mas na verdade queria vê-lo sangrar, com as denúncias documentadas, e vê-lo sair no limbo da presidência da Câmara, onde se entrincheirou e virou franco atirador contra o governo]. Já articulava nomes para sucedê-lo. A oposição abraçava "O Provo" e fazia encontros na surdina para impor derrotas a Dilma no Congresso e fazê-la também sangrar, para depois encurtar seu mandato. A oposição tem pressa. Porque, salvo algum fato novo, a tendência agora seria "Cunha sai, Dilma fica"! Ainda que o Senado esteja avaliando a decisão do TCU sobre as “pedaladas”. É inacreditável o esforço com que a oposição reverbera o caos, e busca alguma forma legal para tirar Dilma do Planalto, sem que pareça um golpe. Aliás, como disse o sociólogo André Singer, "um golpe contra a democracia". O primeiro pedido de impedimento não daria certo porque se referia a "pedaladas" do mandato anterior.  Tecnicamente, pela lei, não seria comunicável. Agora, no novo pedido incluíram supostas "pedaladas" de 2015. Mas como o ano não terminou, segundo juristas, não dá para punir a presidente com o impedimento, porque medidas ainda podem ser tomadas pelo governo.
           Chega a ser patético. Aécio diz que Dilma é honesta: não rouba, mas deixa roubar. Mas o partido dele, o PSDB, abraça "O Probo", que tem milhões de dólares afanados do erário público em contas secretas na Suíça e insiste em presidir a Câmara [com apoio dos tucanos e gente como o Paulinho da Força] como se fosse um imperador.

DÉFICIT FISCAL NÃO VIOLA LRF
  
     A previsão de um déficit primário no projeto de lei orçamentária para 2016 não viola a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), segundo analistas ouvidos pelo “Valor”. O texto da lei, segundo eles, não exige superávit. A legalidade do ponto de vista jurídico não retira os medos em relação ao quadro fiscal. “A LRF exige superávit primário só em uma situação: quando a dívida extrapola o limite. Como a União nunca teve e ainda não tem limite de dívida, logo, pela LRF, a União não está obrigada a gerar superávit”, diz José Roberto Afonso, professor do Instituto Brasiliense de Direito Público. “O problema não é o Orçamento proposto para 2016. É a LRF não ser aplicada plenamente.” Na terça (dia 20), ao divulgar as metas, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, defendeu que a proposta para 2016 é legal. “A LRF estabelece que tem que mandar Orçamento com uma meta, mas não diz se positiva ou negativa. É consistente ter déficit como meta.”
      A oposição pode dizer: é um truque. Mas está dentro da lei.

LEMBRETE
     
      Embora incerto, qualquer avanço na situação econômica, pode significar reviravolta nas camadas mais pobres, onde a petista perdeu popularidade. Durante o mensalão  [que é nada perto das cifras bilionárias do petrolão] Lula levou bordoada de todos lados, cambaleou, foi para as cordas quase nocauteado em pé, mas aí descobriu uma saída para a crise econômica que já se aproximava, que foi a expansão do crédito. Aí, surfou na “marolinha”, se reelegeu e ainda fez a sucessora. Mas agora não dá para se iludir... o autoengano ronda o PT. Em relação a 2018.


A inflação nos governos FHC e Lula. 
No governo Dilma, em 2014 (6,41.%) e 2015 (7,64% até setembro)

ESTÃO EXAGERANDO?

         "Apesar de o Brasil estar obviamente uma bagunça, do ponto de vista político, e mesmo que a economia tenha sofrido um retrocesso perto de todo aquele otimismo de alguns anos atrás, os fundamentos econômicos do país não chegam nem perto de estar tão ruins quanto em episódios anteriores. A situação fiscal não é desesperadora e o país está longe de um momento em que precisaria imprimir dinheiro para pagar suas contas. A taxa de câmbio está alta, mas nada perto dos níveis que associamos a crises graves. Houve, sim, impacto da queda nos preços das commodities, e isso é significativo. Mas o Brasil de 2015 não é a Indonésia em 1998, nem a Argentina em 2001. É um problema, é desagradável e um pouco humilhante se ver nesta situação de novo. Mas as pessoas estão exagerando.”
        Os profetas do caos estão certos? Ou Paul Krugman, Nobel de Economia, que acha um exagero o noticiário, porque o país está longe de precisar imprimir dinheiro para pagar suas contas. Tomara que Krugman esteja certo, porque seria bom para todos a inflação sobre controle. Curioso é que a economia global [em crise] teme mais uma deflação.

EFEITO PAPUDA

         Em 2009 a Camargo Corrêa foi pega na Operação Castelo de Areia, acusada de pagar propinas em troca de contratos. Deu em nada. Na Lava Jato, o presidente da Camargo foi preso e, diante das provas, fez acordo com o Ministério Público. Não chegou a essa decisão pelo constrangimento da prisão preventiva. Ele e todos os outros colaboraram para reduzir penas a que poderiam ser condenados. Trocaram o risco de condenação longa em regime fechado pela admissão de culpa e revelação de esquemas. Para réu rico, é melhor tornozeleira em casa em Angra dos Reis do que enfrentar o cotidiano da prisão. Entre o fiasco judicial da Castelo de Areia e a Lava Jato ocorreu uma novidade: o julgamento do mensalão. Nele, Kátia Rabelo, ex-presidente do banco BMG, pegou 16 anos e José Dirceu, o ex-chefe da Casa Civil, foi para a cela. O “efeito Papuda” mostrou que a cadeia estava aberta aos mais ricos e abriu o caminho para as confissões da Lava Jato, segundo Elio Gaspari, na “Folha”. Graças a essa operação, a Camargo Corrêa fechou acordo de leniência com o MP e poderá virar a empreiteira de obras públicas que não suja sua marca. Coisa jamais vista desde 1549, quando Tomé de Souza veio ao Brasil trazendo mestres de obras para fundar uma cidade na Baía de Todos os Santos.

AMIGO DE LULA QUER LER DELAÇÃO

         Amigo de Lula, o empresário José Carlos Bumlaio  pediu ao STF para ter acesso à delação premiada de Fernando Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB. Ao depor no caso Petrobras, Baiano apontou um dos filhos de Lula como beneficiado, de modo indireto, pelo pagamento de desvio na estatal. Ele teria dito ter pago R$ 2 milhões a Bumlai para compra do apartamento de uma nora de Lula. A defesa quer ter amplo direito de defesa. O pedido será analisado pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no Supremo. Após a divulgação do depoimento, o ex-presidente disse que o pecuarista pode ter tirado proveito da amizade para obter vantagens financeiras. Ele teria se queixado da divulgação da informação sem identificar a nora. Lula tem quatro noras e teria dito que ajudou cada uma delas para a compra de um apartamento. Ele disse que doou R$ 200 mil a cada uma -- e que o primeiro filho mora de aluguel.

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terça-feira, 20 de outubro de 2015

EM MEMÓRIA DE ELEFANTE MORTO POR "ANIMAL"

      
Caçador alemão comemora a morte do maior elefante já visto na África nos últimos 30 anos

       Nada é mais simbólico da vida selvagem do que ver ao vivo ou pela TV uma manada de elefantes, migrando em família em busca de alimento e água. E não é que um cretino, um caçador alemão, abateu a tiros no Zimbábue um dos maiores elefantes já vistos, reavivando a polêmica sobre a caça de grandes animais aberta meses atrás devido à morte do leão mais famoso do país, Cecil, pelas mãos de um dentista americano. Segundo o jornal “The Telegraph”, o turista teria pago R$ 230 mil pela autorização para matar um elefante. "As presas do elefante eram tão grandes, com um peso de 55 kg, que ele precisava arrastá-las pelo chão quando caminhava”, disse Johnny Rodrigues, membro do Grupo de Trabalho de Conservação do Zimbábue. O especialista considera que as presas do elefante, morto no último dia 8 de outubro em uma caçada supostamente legal, são as maiores já vistas na região.

       [R$ 230 mil para matar um elefante. Que estupidez. Não há justificativa para a "caça esportiva". É falso o argumento de que caçar animais é uma atividade que está no sangue do homem desde os primeiros tempos. Caçar só tinha sentido quando era uma questão de sobrevivência, quando não havia agricultura de massa e produção excedente de alimentos, inclusive de carnes. Matar um animal hoje só tem algum sentido, se for em defesa de sua própria vida. Qual a motivo, então: combater a ejaculação precoce?]

       O elefante, com idade entre 40 e 60 anos, foi morto perto do Parque Nacional Gonarezhou por um grupo de safári comandado por um caçador alemão, segundo conservacionistas da reserva, que fica no sudeste do país, bem perto da fronteira com a África do Sul. O elefante morreu na reserva de caça de Malapati, o que significa que estava fora do parque nacional e, portanto, sua caça era legal, segundo Rodrigues. "Não sabemos se o elefante vivia no Parque Nacional Kruger (África do Sul) ou no Zimbábue, mas podemos garantir que o animal estava na zona de safári quando foi abatido”, disse o conservacionista. Elefantes machos são mais solitários. As fêmeas sempre andam em grupos. 
No caso do leão Cecil, caçado nos arredores do Parque Nacional de Hwange, no nordeste do Zimbábue, o animal “foi atraído [com uma isca de carne] para fora do parque para ser caçado”. “Desta vez não há nenhum indício de que tenha acontecido o mesmo com o elefante”, disse Rodrigues.

       [Suspeito que esse conservacionista esteja no bolso do alemão. Como ele pode garantir alguma coisa se ele não estava no local no instante da covardia? Como pode saber se não houve mesmo alguma espécie de truque para atraí-lo e abatê-lo?]

       A morte do leão Cecil abriu um inflamado debate sobre a caça legal praticada em diversos países africanos. O animal, de 13 anos, foi atraído para fora da área protegida com uma isca que consistia em uma presa amarrada a um veículo. Por ter saído do parque, tecnicamente seu abate não foi ilegal. Depois da morte do famoso leão, o governo do Zimbábue proibiu a caça de grandes animais, com exceção de algumas áreas de caça como a que fica ao sul do Parque Natural de Hwange. Nas últimas três semanas, 40 elefantes foram envenenados com cianureto nos arredores de Hwange e do lago Kariba. Para não serem denunciados pelos tiros, as máfias de caçadores usam atualmente flechas envenenadas para abatê-los e pegar as presas, que são vendidas na China, o maior mercado consumidor de marfim.

         A Declaração de Londres, contra o tráfico de marfim, já foi assinada por mais de 40 países, e a China se comprometeu em maio último a impedir com mais rigor essa atividade. Na lista dos principais matadores de elefantes do mundo está o queniano Feisal Mohamed Ali, que opera a partir da Tanzânia. Ele é procurado pela Interpol, segundo o jornal "El País". Se extintos, em décadas no ritmo atual da matança, com eles desaparecerão outros animais e plantas, por desequilíbrio de ecossistemas, porque eles funcionam como "jardineiros florestais"

QUEM VIU DOCUMENTÁRIOS SOBRE ELEFANTES SABE QUE...


Extermínio -- A cada dia, 96 elefantes são assassinados só na África, segundo a Wild Conservation Society. Ou um elefante a cada 15 minutos. Já foram dizimados em Burundi, Gâmbia, Mauritânia, Java e em grande parte da China. Na Tanzânia, a população de 110 mil elefantes em 2009 caiu para 43 mil em 2015. Estima-se que das duas espécies africanas, da selva e da savana, restam apenas cerca de 500 mil elefantes. Eles já foram 5 milhões vagando pela África no início do século passado. O elefante asiático, menor e mais domesticável, caiu de 100 mil para cerca de 50 mil. Os elefantes ocupam hoje 15% do território que tiveram no passado.  O fim da espécie pode significar a perda milhões de dólares em turismo para a África.

Delicadeza -- Fortes, eles são capazes de levantar com a tromba cargas pesadas. Mas também são capazes de pegar uma fruta sem danificá-la. Deixados em paz, sem sentirem-se ameaçados [individualmente, em grupo ou algum de seus filhotes], não são agressivos.


                                  

Quase humanos --  Cada elefante constrói sua personalidade ao longo das experiências tidas durante sua vida, e parte de seu conhecimento é transmitido pela fêmea. Sua longevidade é semelhante à humana, em média até os 70 anos. E como os humanos [ou desumanos?] têm consciência da morte e senso de solidariedade. Cuidam dos doentes e quando um deles morre, adulto ou filhote, velam por vários dias. Para impedir que outros animais o devorem. E depois o enterram, jogando terra e folhas sobre o corpo já em decomposição. Gregário, como os humanos, gostam de viver em grupos [de até 70 animais], e caminham em fila com os adultos à frente e atrás para proteger os filhotes.

Memória de elefante -- Os elefantes sempre se lembram por onde passaram, são muito inteligentes, têm capacidade de entender, aprender e imitar. Comunicam-se também em uma frequência que os humanos não conseguem escutar.

Sensibilidade aguda -- A revista“The Economist” revelou em julho que o Exército dos EUA mantém pesquisa sobre os elefantes, porque cientistas descobriram que eles não só sabem detectar e evitar campos minados como, solidários, alertam outros elefantes quando há minas enterradas por perto. 

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O HOMEM QUE UNE PALESTINOS E JUDEUS

Marcos Gorinstein em aula de jiu-jitsu para crianças palestinas e judias: formando a geração da paz

            Vi na TV um documentário sobre o brasileiro Marcos Gorinstein, que virou professor de jiu-jitsu no Oriente Médio, em um colégio em que palestinos e israelenses [como ele, mas nascido no Rio de Janeiro] estudam. Sim, juntos. No filme que assisti no último final de semana, ele afirma que o projeto de dar aulas dessa luta marcial para jovens começou quando viu uma escola com o seguinte cartaz: "Nos recusamos a ser inimigos". Lá estudam judeus, árabes, armênios. Muçulmanos e cristãos. E Marcos diz que viu ali "uma oportunidade", "aqui posso dar minha contribuição" e passou a dar aulas para crianças de 5 a 14 anos.

            No documentário, ele afirma: "A primeira coisa que vem à cabeça de um palestino quando vê um israelense: ele deve ser soldado ou colono. E a primeira coisa que um israelense pensa ao ver um palestino:  ele deve ser um terrorista". Ou seja, só quando os dois lados se conhecerem melhor pelo convívio, aprenderem as duas línguas na mesma escola e juntos entenderem as dificuldades e a história de cada um, haverá chance para a convivência pacífica, sem extremismos e preconceitos. O contato físico que jiu-jitsu proporciona -- além de formar crianças pela disciplina, pelo respeito ao outro e não pela violência [na origem, o verdadeiro jiu-jitsu não eleva o espírito "pitbull" que se espalha por aí, nas ruas ou na TV, nos MMAs e vale-tudo da vida] -- acaba aproximando e permite que, aos poucos, possa ser formada uma "geração da paz". 

            Aos 35 anos, Marcos revela em seus artigos na Facebook que já montou uma turma de jiu-jitsu com palestinos em Hebron e em Beit Jalla, nos arredores de Belém. Em Jerusalém, trabalha com crianças israelenses. No documentário, ele também conta que já foi alvo de críticas dos dois lados, que já levou pedrada no carro etc. Mas não desiste: acredita que o convívio em escolas, de filhos e pais, fará a diferença no futuro. É um trabalho de formiguinha, que ele agora sonha mostrar em um filme em 2016. Quem sabe assim, a formiguinha não "contamina" mais gente. E assim surjam milhares de formiguinhas.

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