Pastora alemã, Lara [1967 -1979]: morte na véspera do réveillon |
30 de dezembro de 1979: Lara, a pastora alemã que cuidei, convivi e conversei durante 12 anos, morreu. O coração dela já não estava funcionando bem há algum tempo, e para não sentir dor no verão ficava deitada no piso frio da garagem, na sombra, olhando para o portão de casa. Na véspera do réveillon, cheguei do trabalho e ela não estava mais lá. Chorei. Melhor, choramos, eu e meus irmãos. Aquele réveillon realmente se tornara inesquecível.
Até
agora ela está na minha memória, e sua foto está no meu "hall da
fama", a parede de casa dedicada a imagens da família e parentes. Sou
daqueles que acha que o amor-companhia de um cão é algo tão precioso que a prisão é [às vezes] pouco para quem tortura ou maltrata um animal
tão generoso -- aliás, corrigindo, dos animais em geral. Digo isso porque gosto
muito de ler artigos sobre de cães e adoro ver na TV a cabo documentários sobre
bichos selvagens e também os "pets". Foi quando me deparei na
internet com a notícia de uma suposta bondade proposta por um vereador de
Curitiba (PR).
29 de setembro de 2015:
Pré-candidato à prefeitura daquela capital, o Professor Galdino (PSDB)
apresentou na terça-feira passada um projeto que institui um dia de folga no
trabalho ao servidor municipal quem perder seu animal de estimação. Um dia de
luto em caso de morte de seu bichinho. Segundo o projeto, apenas os donos cujos
animais são microchipados e com cadastro na Rede de Proteção Animal poderiam
usufruir da folga, facultativa e sem prejuízo financeiro.
O
vereador Galdino, conhecido por ser "defensor de causas animais",
disse que além de reconhecer o vínculo entre a pessoa e seus animais "o
projeto estimula a microchipagem" dos bichos. [Será que um amigo, parente ou ele próprio é sócio de uma empresa do ramo? Ou é um estímulo desinteressado? A suspeita pode ser indevida, mas minguém averiguou.] O microchip é um dispositivo colocado sob a pele no dorso do animal e traz informações sobre o bicho e seu dono,
com o intuito de facilitar a localização em casos de perda ou fuga. No projeto,
o vereador justificou a medida da seguinte forma: “Os animais são anjinhos que
Deus colocou em nossas vidas, vamos sair de vez do antropocentrismo, com o
homem no centro do Universo, e entrar no biocentrismo, em que todas as formas
de vida são importantes.” A rigor, proposta altera um dos artigos do Estatuto dos
Funcionários Públicos Municipais de Curitiba, que dá oito dias consecutivos de
faltas devido ao falecimento de cônjuge, companheiro, pais, filhos, avós, netos
e irmãos. Para a morte de sogros,
enteados e cunhados, a licença pode ser de dois dias.
Embora
pareça de boa intenção, na verdade o distinto vereador está defendendo mais uma
regalia ao funcionalismo. E pior, em vez de promover a defesa dos animais, pode
estar incentivando a matança de cães e gatos. Por que só os servidores públicos
municipais podem ter um dia de luto? [e o resto da população que trabalha?]. E quem tem cobras e lagartos, passarinhos
e peixinhos de aquário? Pode tirar um dia de luto, se um deles morrer? E se morrerem dois ou vários bichos. O
servidor público curitibano vai ter um dia para cada bichinho morto? Outra
coisa a temer é a maldade humana: alguém é capaz de arrumar bichos só para
arrumar folgas remuneradas. E assim virar um "matador em série" de cães e gatos, deixando aflorar o psicopata
que haveria dentro desse eventual funcionário público.
Até hoje
tenho gravada na memória uma imagem de horror de meados dos anos 1960. O
pessoal da carrocinha correndo atrás de um bando de cachorros e laçando-os no
final da Avenida Santo Amaro, pouco adiante da estátua gigante do bandeirante Borba Gato. Do portão de casa, fiquei olhando aquela cena, aflito. Depois
de esganiçar na laçada, o bichinho era arremessado para dentro do caminhão
fechado, semelhante ao de um frigorífico. Quando perguntei para onde iriam,
fiquei sabendo que seu rumo era o canil municipal. E, se ninguém reclamasse,
virariam sabão. Aos 7 anos -- e com a Lara minúscula em casa, dormindo numa caixa
de sapato cheia de panos para não sentir frio -- fiquei chocado e paralisado com
a notícia. Hoje, não é mais assim, segundo uma amiga que faz
trabalho voluntário para adoção no Centro de Zoonoses paulistano. Cães e outros animais sadios não podem ser sacrificados. Há cerca de 15 dias, havia uns 300 cães lá esperando um dono.
Sempre
desconfiei dos espetinhos de carne vendidos em porta de estádio, conhecidos por "churrasquinho de gato" ou "filé de cachorro". E também não
gosto de saber que tamborins e cuícas eram feitos com couro de gato no passado,
por sua resistência maior. Não é lenda, não. Não é mais assim hoje, dizem [porque há opções melhores e mais baratas], mas nem gosto de pensar no assunto.
E se depender de mim, senhor Galdino, farei campanha contra esse projeto e
também contra a sua candidatura. Uma vez
que o senhor parece fazer mesmo juz ao significado do nome assina:
"autoritário". Se como vereador, na semana do dia mundial dos animais [4 de outubro], o senhor tem ideias como esta e defende privilégios, imagino o que não faria como prefeito de Curitiba.
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