sábado, 31 de outubro de 2015

O RESUMO DA ÓPERA - SEMPRE ÀS QUINTAS

UMA LEITURA SEMANAL DOS JORNAIS - N5 - 29.10.2015
[por problemas técnicos esta edição foi postada com atraso]

POR GEORGE  ALONSO 

Alunos protestam contra o fechamento de escolas, na reorganização promovida pelo governador Alckmin




        ELES SABEM O QUE FAZEM?

       Apenas 9 das 25 escolas fechadas na capital paulista pela reorganização escolar estão na área central da cidade. Ou seja, a maioria está na periferia. O secretário Educação, Herman Voorwald, havia dito antes que as escolas que não teriam mais alunos no próximo ano estavam em regiões centrais dos municípios, tanto na capital como no interior, já que são as áreas com a menor demanda de alunos e maior número de classes ociosas. Ao todo, no Estado serão fechadas 94 escolas. A meta, segundo o governo Alckmin, é segmentar os colégios em três grupos (anos iniciais e finais do ensino fundamental e ensino médio), conforme o ciclo escolar. Estima-se é que 311 mil tenham de mudar de escola em 2016.


       Mas, segundo o sindicato dos professores (Apeoesp), 1.464 escolas estaduais em 162 municípios serão atingidas pela “reorganização”. A entidade diz que o fechamento de um colégio escola irá repercutir nas demais escolas de sua região, com o aumento do número de alunos nas classes e alterações na vida de professores e funcionários, além do risco de haver demissões. Outra justificativa do governo para a mudança é a queda do número de alunos na rede. Dados da secretaria indicam que, de 1998 a 2014, as matrículas caíram de 6 milhões para 3,8 milhões. Segundo o secretário, isso se deve à redução da taxa de natalidade, à municipalização do ensino e à migração de alunos para a rede privada. Com a reorganização, espera-se que 43% das 5.147 escolas do Estado passem a funcionar com único segmento (1º ao 5º ano, 6º ao 9º ou ensino médio).

        O vespeiro é grande e as consequências também. Os protestos de rua aumentam. 
A conferir, as manifestações e os resultados da tal "reorganização" [tucanaram a palavra "fechamento"] --  se há de fato racionalidade ou não. De qualquer forma, o governo escondeu e depois admitiu a reforma, ou seja não teria havido diálogo e transparência. O que aumentou mais a desconfiança de que, em nome de uma redução do gasto público, a educação pode sair prejudicada. O governador disse que o critério de fechamento das escolas não se deu também pelo desempenho abaixo da média nos exames federais. Todas as 94 foram mal. A pergunta: os estudantes tiveram notas baixas por que a escola foi sucateada? Afinal, quem é o responsável pelo mau desempenho?            
         
        * A prefeitura de São Paulo manifestou interesse em transformar os prédios de escolas desativadas pelo Estado em moradias populares. 
 


O VICE DA ANFAVEA E O FILHO DE LULA

        Marcos Marcondes, o vice-presidente da Anfavea, associação das montadoras, foi preso pela Polícia Federal na investigação da Operação Zelotes sobre a suposta compra de medidas provisórias que interessavam ao setor. MM representava a Mitsubishi. A entidade suspendeu o dirigente de sua função depois de sua prisão, até que os fatos se esclareçam. Ele teria pago R$ 2,4 milhões a uma empresa de marketing esportivo do filho caçula de Lula, Luis Claudio Lula da Silva. As empresa do filho de Lula foram vasculhadas pela PF. mas ele não foi preso. Ele nega qualquer irregularidade. As manchetes de jornais tanto de capa quanto de páginas internas destacaram só "o filho de Lula". 
       
      Ora, um vice-presiden
te lobista é preso sob acusação grave e nenhum jornal dá título "Vice da Anfavea é preso etc etc ????" Sem contar que a ação foi feita na véspera do aniversário de 70 anos de Lula. De novo, vamos aguardar as provas... 


COM A FACA E O QUEIJO

         Um pedido de impedimento recebeu aval técnico da Câmara. A oposição incluiu no pedido a reprovação das contas de 2014 pelo TCU e os gastos do Executivo em 2015, sem aval do Congresso. O prosseguimento depende agora do presidente da Casa, deputado Eduardo Cunha.


FRASES DA SEMANA

"Dilma é pessoalmente honrada, já Lula tenho que esperar para ver"
[Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do país por dois mandatos, sobre a corrupção nos governos petistas] 

"Um ex-presidente não pode dizer isso. Eu também poderia dizer que Fernando Henrique Cardoso deveria ter renunciado quando comprou a reeleição"
[Claudio Lembo, ex-governador paulista, sobre a sugestão dada por FHC para que Dilma Rousseff renuncie com honra. Segundo ele, não nada que mostre que a presidente enriqueceu. Ele também acha que não há crime de responsabilidade para o impedimento, cuja possibilidade só serve para desestabilizar a economia e a política]

"Querem desmoralizar Lula, para depois prendê-lo"
Gilberto Carvalho, ex-ministro 


A EXPLICAÇÃO DO FALIDO

         O pecuarista José Carlos Bumlai, acusado pelo delator Fernando Soares, o Baiano, de receber propina para mediar negócios no setor de petróleo e repassá-los a uma nora do ex-presidente Lula, afirmou que o dinheiro que recebeu do lobista serviu, na verdade, para pagar empregados de suas fazendas. Ele alega que contratou Baiano para ajudá-lo a vender uma termelétrica. Pela corretagem, lhe pagaria uma comissão milionária. Como seus negócios vão mal, pediu dinheiro antecipado a Baiano e o lobista teria aceitado. Como Baiano tinha dinheiro a receber de uma empresa ligada à OSX, de Eike Batista, pediu que a companhia repassasse o crédito direto a Bumlai.  O dinheiro teria sido então depositado na conta de uma empresa da família do fazendeiro. 
         
         Ou seja, o que Baiano diz ser propina não passaria de um empréstimo a Bumlai, sem contrato assinado e jamais saldado. O fazendeiro rebate ainda os valores. O delator disse ter dado R$ 2 milhões, Bumlai disse ter recebido R$ 1,5 milhão.


AUTOENGANO:  DOIS ERROS DE DILMA

O economista Delfim Netto, ministro duas vezes durante o regime militar que depois virou uma espécie de conselheiro de Lula, escreveu sobre as decisões que levaram o país a ter problemas de caixa e recessão econômica. A seguir, a íntegra do artigo na "Folha":

      Não é fácil entender o que a presidente Dilma fez dos seus magníficos 93% de "aprovação" (Datafolha, de abril de 2012: "ótimo/ bom", 64%, e "regular", 29%), obtidos depois do excelente comportamento da economia ao longo de 2011. No início do ano, Dilma corrigiu alguns exageros da política anticíclica conduzida por Lula em 2009 e terminou muito bem.

       Toda comparação é sujeita a críticas e exige a concordância sobre uma métrica adequada. O crescimento do PIB entre 2003 e 2008 foi de 4,2% ao ano. Em 2009, ele foi de menos 0,2% e se recuperou rapidamente em 2010, quando atingiu 7,6%. Parece, portanto, que não se fará injustiça se comparamos os resultados do crescimento médio de Lula em 2009-10 (3,7% ao ano) com o de Dilma em 2011 (3,9%).

       Nas outras métricas: 1) a inflação cresceu de 5,1% para 6,5%; 2) o deficit em conta corrente/PIB ficou o mesmo (-2% do PIB); 3) houve um aumento significativo do superavit primário, que cresceu de 2,3% para 2,9% do PIB, e 4) houve uma redução da relação dívida bruta/PIB, de 51,8% para 51,3%! Parece difícil rejeitar a hipótese de que Dilma, em 2011, repetiu o final do governo Lula. Lembremos que ele terminou seu governo com uma aprovação de 96% (Datafolha, de novembro de 2010: "ótimo/ bom", 83%, e "regular", 13%). 

       Por maior que seja a má vontade da sociedade com Dilma, refletida na ideológica rejeição que sofre hoje, é ridículo negar que, no início de 2012, ela era fortemente apoiada pela população e recebeu um voto de confiança para que continuasse a fazer "mais do mesmo". Na nossa opinião, manter o crescimento, controlar a inflação, regular o deficit em conta corrente e sustentar superavits primários para conservar a relação dívida bruta/PIB em torno de 50%. Isso fortaleceria nossas instituições, reduziria as incertezas e daria tranquilidade aos agentes econômicos, fatores essenciais para a redução do juro real teratológico que nos acompanha há décadas.

       Infelizmente a sua leitura do sucesso foi outra.
      O apoio popular a teria empoderado para fazer uma política voluntarista em busca da necessária "modicidade tarifária", sem levar em conta a realidade.

      Fez dois movimentos desastrados: a partir de meados de junho de 2011, forçou uma baixa artificial da taxa de juros e, em setembro de 2012, introduziu a generosa ideia da "modicidade tarifária" no sistema energético e que quase o destruiu. Mas não ignoremos que o fez com a aprovação popular de 92% (Datafolha, de março 2013). Isso comprova o famoso teorema de Thomas: se uma situação é sentida como real, ela será real em suas consequências... 

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