UMA LEITURA SEMANAL DOS JORNAIS - N2 - 08.10.2015
POR GEORGE ALONSO
A Rede de Marina já foi oficialmente registrada: candidata natural a ir ao segundo turno em 2018 |
Dilma e o inferno astral
E a pressão continua. Dilma achava que, depois "de quase
entrar" para o PMDB, cedendo as principais pastas às raposas, àvidas por
controlar o grosso do dinheiro federal, ia ter sossego. Até chegou a dizer que
todos tinham muito trabalho a fazer até 2018. Otimista, estava na posse dos
novos ministros. Parece que o tiro saiu pela culatra. Esse é o problema de um
governo fragilizado, com baixa popularidade e uma presidente sem qualquer
carisma. Virou refém de saqueadores do Estado. É o que virou o PMDB e seus
infindáveis grupelhos de ataque ao orçamento público -- e que atuaram nos
governos FHC e Lula. Mais uma vez Dilma "ganhou perdendo" [ganhou fôlego se apequenando] e
"perdeu ganhando" [dando espaço ao cancro da política nacional, o PMDB, em troca de uma estabilidade temporária ou fictícia]. Se acha que chega a 2018, terá ainda pela frente
dois tribunais. Nos dois, se a decisão for política, Dilma saíra do Planalto
como nunca imaginara: "pela rampa dos fundos". No Tribunal
Superior Eleitoral: se houver revisão de uma decisão do próprio TSE que aprovou
a prestação das contas da campanha de Dilma no pleito de 2014. Outra, no
Tribunal de Contas da União, que condenou as pedaladas fiscais do atual
governo, usadas para pagar programas sociais. Mas elas são diferentes daquelas dadas por
Fernando Henrique Cardoso, quando precisou salvar bancos? Creio que não, por isso a tentativa de um terceiro turno
ainda está em curso. De qualquer modo é preciso, em algum momento, dar um fim
às pedaladas.
Dilma e o pau-mandado
O "Mr. Pau-mandado" virou ministro da Ciência e Tecnologia. Ele vai
representar no governo um saqueador contumaz, segundo dados fornecidos pela
Suíça. "Filhote" de Eduardo Cunha, o deputado Celso Pansera saiu
do anonimato ao ser acusado de retaliar o doleiro Alberto Youssef, que entregou
à Justiça os quadrilheiros do petrolão. "Estou sendo intimidado na CPI da
Petrobras por um deputado pau-mandado do senhor Eduardo Cunha", bradou o
delator. O apelido "pau-mandado" pegou. Ele foi dirigente da
UNE, passou pelo PT e migrou para PSTU. Depois, camaleão, trocou o
trotskismo pelo cunhismo: assim deslanchou em 2014, virou deputado pelo PMDB.
Até julho, dividia sua vida entre a política e a administração de um
restaurante na Baixada Fluminense. O nome do restaurante é sugestivo:
"Barganha". Disso o "Mr. Pau-mandado" e o seu criador têm mesmo ciência e tecnologia.
Nunca foi tão fácil
Em 2018, Marina Silva terá a sua grande chance. Vai poder desfiar o
discurso da ética e ser a grande beneficiada dele -- PT e PSDB, que governaram
o país durante mais de 16 anos, têm, como se diz na vida, "o bumbum
descoberto" e as mãos sujas, quando se fala do assunto. Fora o desgaste
natural de terem sido governo. Quem será o candidato do PT: mistério puro. Será
que Lula, que já fez história, teria gás para colocar sua cabeça a prêmio. Já
Alckmin, Serra e Aécio são conhecidos e foram derrotados nas urnas. Marina,
ex-governo Lula e ex-ministra do Meio Ambiente, deixou do governo petista atirando contra
justamente quem: Dilma, acusada de querer "derrubar a floresta". De
ser contra a sustentabilidade, um dos pilares da nova política econômica
moderna. Um dos pilares da campanha marineira.
Marina tem a vantagem de conseguir aglomerar parte do petismo envergonhado pela corrupção de parte seus quadros e parte do eleitorado tucano, cansado do "mais do mesmo". O problema é o que vai oferecer na política econômica. Que quadro iria herdar. A Rede, seu partido, tem nomes suficientes para governar? De novo falará em "coalizão dos melhores"? Será que o Brasil aguenta nova coalizão, e quem seriam os melhores? Melhor é garantia de boa gestão? O discurso da união nacional em um país "cindido", palavras dela, soa bem eleitoralmente, mas vai funcionar na prática, caso ela seja o único nome novo até lá?
Marina tem a vantagem de conseguir aglomerar parte do petismo envergonhado pela corrupção de parte seus quadros e parte do eleitorado tucano, cansado do "mais do mesmo". O problema é o que vai oferecer na política econômica. Que quadro iria herdar. A Rede, seu partido, tem nomes suficientes para governar? De novo falará em "coalizão dos melhores"? Será que o Brasil aguenta nova coalizão, e quem seriam os melhores? Melhor é garantia de boa gestão? O discurso da união nacional em um país "cindido", palavras dela, soa bem eleitoralmente, mas vai funcionar na prática, caso ela seja o único nome novo até lá?
O fato de ter carisma, de vir do povo, de ser um "Lula de saias" é bom e ruim. Bom, porque está ligada do ribeirinho do Acre ao operário do ABC. Mas ruim porque "uma Silva" que já foi ironizada por sua "neolinguagem" adjetivada, que pode reacender preconceitos. E não só dos que criticam os evangélicos. Marina não se deu muito bem quando pressionada. Reagiu de forma nervosa, demonstrou desconforto. De qualquer forma, nunca foi tão fácil ir a um segundo turno e vencer. Caiu na rede, agora é Marina, pelo menos por enquanto.
Empreiteiros corruptos: há os pró e os contra
"Dá nojo em pensar que somos governados por este poste!"
Anuar Caram, presidente de negócios públicos da Andrade Gutierrez
"Fora, sapa com cara do Satanás"
Ricardo Sá, presidente da área de clientes privados da empreiteira
"Minha cela, minha vida"
Clorivaldo Bisinoto, presidente da
Andrade Gutierrez Construção, em mensagem com fotomontagem em que Dilma e Lula aparecem atrás das grades
Mensagens de texto trocadas por executivos da Andrade Gutierrez,
investigados na Operação Lava Jato, mostram [acima] a torcida dos empresários pela
vitória de Aécio nas eleições presidenciais do ano passado. As mensagens
forma trocadas durante debate na TV Globo, em um grupo formado no Whatsapp. A
postura é contrária à de diretores da construtora OAS que, conforme a Folha mostrou
em julho, torceram efusivamente pela reeleição de Dilma. Durante a
apuração dos votos, a vitória de Dilma levou os diretores ao lamento. "A
vida vai ser dura...", comenta um dos presos na Lava Jato. Outros executivos tentaram
animar os demais. "Vamos em frente, a vida continua! Apesar dos
desafios externos, estamos juntos no nosso projeto de termos uma AG [Andrade
Gutierrez], de um futuro próximo muito bacana!", escreveu Sá.
Conclusão: Tudo gente fina. Quadrilheiros em lamúrias. Gente convincente
e preocupada com o país, verdadeiros patriotas. Só falta a trilha sonora dos
"Assaltimbancos" [públicos]: “Todos juntos somos
fortes, estamos todos no mesmo barco e não há nada a temer”.
Respire fundo
Desde às 13h da segunda-feira (5), a opção "utilizar
créditos" no portal da Nota Fiscal Paulista ficou indisponível. O governo
estadual informou que o serviço será restabelecido "em breve".
Segundo o governo, a interrupção do serviço ocorre ao menos duas vezes ao
ano, sendo necessária para o processamento de dados, e não causa impacto nos
valores acumulados pelo usuário. O programa devolve até 20% do ICMS recolhido
pelo estabelecimento. É um incentivo para
que o consumidor exija a nota fiscal ao fazer compras. Ao
informar seu CPF ou CNPJ, no momento da compra, o cliente pode escolher como
receber os créditos e ainda concorrer a prêmios em dinheiro. Opa, mas a neopedalada tucana, pode?
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Sobre a Nota Fiscal Paulista: é verdade ou não que a interrupção do serviço ocorre duas vezes por ano? Se for, é uma coisa. Se não for, é totalmente outra. Ari Brito
ResponderExcluirAntes não havia interrupção. A primeira tungada veio no início de julho. Seguindo diretriz do governo Alckmin de poupar recursos devido à "desaceleração da economia", a Secretaria da Fazenda de São Paulo diminuiu o bolo de recursos destinado à restituição aos consumidores via Nota Fiscal Paulista. Originalmente, o programa devolvia até 30% do que era efetivamente recolhido de empresas nas quais os consumidores pediam notas com CPF na hora da compra. Esse percentual foi reduzido para 20%. Para compensar, uma possível queda de arrecadação
ResponderExcluirNa ocasião, também foi adiada em seis meses a liberação dos recursos. Com a mudança, os valores referentes a gastos feitos entre janeiro e junho, que seriam restituídos em outubro deste ano, estarão disponíveis apenas em abril de 2016. A restituição referente ao período de julho a dezembro, que seria paga em abril, foi adiada para outubro de 2016.
Todas as restituições são, dessa forma, empurradas para a frente —a arrecadação do primeiro semestre de 2016 também será paga somente em abril de 2017.
Agora, o governo alega que essa interrupção tem o objetivo de fazer a manutenção para iniciar os procedimentos para liberação de créditos da Nota Fiscal Paulista em favor das entidades assistenciais, relativos ao primeiro semestre de 2015.Ok, Ari?