domingo, 4 de outubro de 2015

AUSÊNCIA SENTIDA - HISTÓRIAS DE CAMPANHA

1996; Maluf durante visita ao Palmeiras, no dia do aniversário do tradicional clube de futebol, em São Paulo
     
          Durante eleição para prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, decidiu visitar a Sociedade Esportiva Palmeiras no aniversário do clube, em 26 de agosto de 1996. Ele queria eleger Celso Pitta [1946-2009] a todo custo: enquanto o candidato oficial gravava programas para a TV, ele fazia sozinho carreatas pelas ruas da cidade, sempre dizendo "se Pitta não for um bom prefeito, não votem mais em mim". Claro que queimou a língua e se arrependeu: depois de eleito a criatura virou-se contra o criador e eles romperam relações. A gestão Pitta acabou mal avaliada pela população ao final do mandato, segundo pesquisas -- pipocaram denúncias de corrupção feitas até pela ex-mulher Nicéa [que desejava ser secretária do Abastecimento, mas não teve a pretensão atendida pelo então marido prefeito]. Pitta é até hoje [nos índices de pesquisas de fim de mandato] o pior prefeito paulistano.
          Bom, voltemos ao dia 26 de agosto de 1996. Um dos rivais do afilhado político malufista era José Serra, tucano e notório palmeirense. Ele também ia visitar a sede do time de coração no mesmo horário. [Sobre Maluf, certa vez disse que "na infância" torcia para o Verdão, mas que também era são-paulino. Pelo que entendi, virou a casaca da adolescência em diante.] Estava na redação da Folha, eram 20h, e imaginei um encontro eventual dos dois, Serra e Maluf em campanha pró-Pitta, no clube naquele conhecido beija-mão da política e naquele igualmente conhecido anúncio de promessas. Além disso, podia ocorrer entreveiro entre correligionários dentro ou perto do Palmeiras.

         Como eu havia sido escalado pela Folha para ser o "carrapato" do Pitta na campanha, pensei: "Vou ganhar hoje o dia de amanhã, se houver por acaso esse encontro". Saí da redação, e com meu próprio carro tratei de dar uma passadinha lá antes de ir para casa. Nada aconteceu. Quando cheguei [da Folha até lá era um pulinho], Serra tinha antecipado a visita para evitar Maluf, que havia acabado de chegar e estava com dirigentes do clube. Fiquei na entrada do Palmeiras, frustrado. Até que ele apareceu, sempre simpático e respeitoso. De repente, ele me pegou pelo braço e disse, alto o suficiente para quem quisesse ouvir, naquele tom de voz que fez a fama de imitadores e humoristas: "Meu caro George Alonso, há dois dias você não nos acompanha, há dois dias a Folha não fala mal de mim!". Houve gargalhada geral: minha, dele e dos assessores. Um assessor veio e me disse, rindo, aí bem baixinho: "Ele gosta de você, senão não faria essa brincadeira". Ésse instante foi flagrado pelo fotógrafo da campanha malufista (foto abaixo) e me presenteado no dia seguinte no comitê. Dou risada do episódio até hoje. Nunca tive problemas com Maluf enquanto fui repórter, sempre me recebeu com respeito, embora não fosse seu eleitor.

        Nessa mesma campanha, eu devolvi a brincadeira. Durante carreata, Maluf apontou para um outdoor de Serra e me perguntou no mesmo tom: "Meu caro George Alonso, qual é a careca mais bonita, a minha ou a dele?". Por um segundo houve silêncio no caminhão de som. Olhei para o cartaz e respondi: "A minha, prefeito!" Nova gargalhada geral.

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