Esperidião, deputado federal pelo PP e torcedor do Avai |
Pois bem, em 1994, segunda eleição direta para presidente do Brasil
depois do regime militar, eu estava encarregado, no primeiro turno, de
acompanhar Esperidião Amin, candidato pelo Partido Progressista Renovador [PPR],
sempre que ele estivesse em São Paulo. Descendente de libaneses, Amin --
formado em administração e direito, casado com Ângela Amin, e pai de três
filhos -- é um homem inteligente e com senso de humor apuradíssimo. Quem o
conhece pessoalmente sabe disso. É preciso dizer que apesar de ter densidade
eleitoral bem menor que os rivais de urna e vindo de um Estado com relativa
importância econômica para o país, ele não integrava o que os repórteres da
editoria de política da "Folha" costumavam chamar, na gozação, do
MSL, o "movimento dos sem lide" -- aquele político que fala, fala,
fala e não dá uma manchete de jornal. Amin estava bem longe disso.
Com
traço ou menos de 1% dos votos nas pesquisas eleitorais, Amin situava-se na
faixa dos chamados candidatos nanicos e se viu de repente acusado, no mínimo,
de sonegação fiscal. Rivais liberais de Santa Catarina trataram de minar sua
candidatura com denúncias e desta vez ele não se saíra bem. Não soube explicar
a supervalorização de um terreno por ele comprado e vendido a Ângela Amin em
1979. Também não soube dizer para onde foram Cr$ 720 mil [a moeda de época era
o cruzeiro], obtidos por Ângela junto à Caixa Econômica de Santa Catarina como
empréstimo para pagamento do terreno e da construção de uma casa. A casa não
existia nem nunca existiu. O terreno foi comprado por Cr$ 25 mil em 18 de
janeiro de 1979 e vendido em 26 de janeiro do mesmo ano por Cr$ 300 mil. Uma
valorização incrível em apenas 7 dias. Ângela, segundo sua assessoria, disse
que fez o financiamento para pagar dívidas particulares e negou que o terreno
estivesse supervalorizado.
A
entrevista que fiz com o candidato sobre a denúncia aconteceu de modo
inusitado, para mim. O candidato acabara de deixar o estúdio de gravação do
programa eleitoral na TV, na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo, e iria
fazer campanha de rua no Largo 13, área de comércio popular na zona sul. Ele
colocou os assessores no banco traseiro e dirigindo o carro me deu entrevista
no trajeto. Me fez rir muito com ótimas tiradas, mas poucas justificativas. Foi
quando resolvi mudar o tom de uma pergunta. Afinal por que um político como ele
-- com muita força regional e que sabia que não iria para um eventual segundo
turno -- insistia em ser candidato a presidente? Eu ainda argumentei: "A
sua candidatura parece a torcida da Portuguesa. Não aparece nas
pesquisas!". Os assessores ficaram sem graça, mas ele riu bastante com a
minha opinião e disse: "Escreve aí, eu vou estar no segundo turno!"
Estranho seria mesmo se ele dissesse o contrário. Chegando ao Largo 13, um
carro de som com bandeiras do candidato e meia dúzia de correligionários já o
aguardavam. De repente, durante a caminhada pelo calçadão, a cada pessoa que
declarava intenção de votar no candidato, Esperidião Amin me chamava e, mesmo à
distância, dizia rindo: "Olha aí, George Alonso, mais um torcedor da
Portuguesa!"
Surpreendente, a atitude do candidato me fez rir a cada nova declaração de voto.
Surpreendente, a atitude do candidato me fez rir a cada nova declaração de voto.
PS -- Em 1994, o desempenho de Amin foi mesmo digno de um candidato nanico. Ele ficou
em 6º lugar na corrida presidencial, com 1,7 milhão de votos [2,7% dos
válidos], atrás de FHC [eleito no primeiro turno com 34,3 milhões de votos,
54,2%], Lula [em segundo lugar com 17, 1 milhões de votos, ou 27%], Eneas
[em terceiro lugar com 4,6 milhões de votos, 7,3%] Orestes Quércia
[em quarto lugar com 2,7 milhões de votos, 4,3%] e Brizola [em quinto
lugar com 2 milhões, 3,18%]. Esperidião Amin perdeu? Não, ele tinha cumprido
sua missão, que era usar a candidatura a presidente para alavancar sua
popularidade em Santa Catarina, onde se elegeria governador em 1998. Hoje é
deputado federal e foi recém-eleito presidente catarinense do Partido
Progressista.
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